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Você conhece os três tipos de ciúmes e o que motiva cada um?

Por mais difícil que seja mensurá-los e rotulá-los, Freud estabelece três tipos: ciúmes competitivo/normal, projetivo e delirante

Por Mavi Faria Atualizado em 29 out 2024, 16h08 - Publicado em 3 mar 2024, 10h00

O ciúmes é um sentimento natural do ser humano, independente de gostarmos ou não dele. Desde bebês, situações e emoções são formadas e nos levam a sentir ciúmes do outro. Muitas vezes incontrolável, ele pode surgir sem nosso conhecimento, compreensão ou vontade. Como entender um sentimento tão complexo e irracional, na maior parte do tempo, como esse?

Por mais difícil que possa ser estabelecer um significado mais preciso ou limites para um sentimento que é capaz de deturpar qualquer tipo de regra sentimental, alguns estudiosos se propuseram a fazer isso, incluindo Sigmund Freud. Há mais de 100 anos, em 1922, o criador da Psicanálise estabeleceu uma divisão que separa o ciúmes em três tipos: competitivo/normal, projetivo e delirante.

Para a Psicóloga Psicanalista Júlia Saia, por mais que a divisão estipulada facilite a compreensão, os tipos de ciúmes não se apresentam no cotidiano de forma regrada e separada, mas sim como algo complexo, de formas distintas dependendo do momento que estamos passando e com quem estamos nos relacionando. Por outro lado, entender a teoria pode ser um passo para conseguir tentar perceber de que formas essas três versões de um único sentimento se apresentam na nossa vida.

Os tipos de ciúmes

Com a colaboração da psicanalista, entendemos que, na teoria, o ciúme competitivo ou normal é aquele em que existe o medo de perder a pessoa amada para uma outra pessoa, muito em razão dos sentimentos que costumam acompanhar o ciúmes nesses casos: a insegurança, a autocrítica e a inveja.

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Nessas situações – muito comuns, por sinal –, caso a pessoa amada prefira pelo outro, e não por nós, buscamos a culpa em nós mesmos. “Sentimos ciúmes da pessoa amada com o outro e sentimos inveja do outro, nos comparando e sentindo medo que ele seja melhor que nós. Nossa insegurança gira em torno da sensação de que não somos suficientes e/ou tão bom quanto o outro e quem amamos”, explica.

Já o ciúme projetivo, como o próprio nome já sugere, se manifesta quando projetamos nossas questões, como insegurança, ciúme, desejo e interesse que podemos sentir, no outro, como se fossem sentimentos dele. Júlia explica que o projetivo costuma acontecer quando os sentimentos individuais estão confusos e sem reconhecimento.

Por outro lado, o ciúme delirante é uma expressão do sentimento que não possui nenhuma relação com a realidade – como um delírio. É um ciúme que causa muito sofrimento entre os envolvidos porque costuma envolver uma pessoa que tenta controlar o outro com regras muito rígidas, enquanto o outro se torna submisso e se anula para caber no ciúme do outro.

Aprender a lidar com o ciúme é muito mais saudável do que tentar não sentir ele

Acreditar que todo tipo de manifestação de ciúme é normal é um erro, assim como ignorar os perigos que o envolvem. Definir sentimentos é uma tarefa difícil e que depende de muitas variáveis, mas, para a psicanalista, a linha que separa o saudável e o que se tornou um problema “é o nível de sofrimento para a pessoa que está sentindo ciúmes e os envolvidos”.

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Isso significa que ter cuidado com seus sentimentos e com quem está a sua volta é o que está ao seu alcance para sentir ciúme como uma pessoa normal. Ignorar sinais de que o sentimento esteja se alterando e indo para algum extremo é um erro que pode trazer muito sofrimento. A sugestão de Julia é aprender a lidar com o ciúme, prestando atenção em como ele afeta sua saúde mental e relacionamento, sem tentar fazer com que ele desapareça, até porque, ainda é um sentimento natural. “Ao fazer isso, podemos talvez cair em um outro extremo do ciúme que nos faz sofrer por uma cobrança muito exigente de não se permitir sentir“, afirma a psicoterapeuta. Ela ainda acrescenta como para Freud, a ausência do ciúme pode ser tão preocupante quanto o excesso dele.

Pensar o ciúme é cuidar de você

Sugerir pensar sobre o ciúmes é muito mais fácil do que realmente realizar essa tarefa, até porque, quantas vezes você já parou para questionar seus sentimentos, os reflexos dele na sua vida, para enfrentar seus medos e se responsabilizar pelos erros e acertos? Ter atenção com a saúde mental é um dos atos de autocuidado mais importantes que existe porque o que pensamos e sentimos reflete em todos os aspectos de nossa vida, desde relações familiares, de amizade à amorosas.

O ciúme não foge da importância que outros sentimentos possuem, muito menos da influência nas relações. Para Júlia, “o ciúme tem a ver com a forma que nos sentimos amados durante nossa vida até aqui, com a forma que aprendemos a amar e com a forma que acreditamos merecer ser amados”. Ou seja, ela afirma que ele representa, de modo geral, nosso medo e desejo de ser amado, o que é potencializado pela vida em sociedade, em que nos relacionamos de diversas maneiras, com muitas pessoas e vivemos com um medo latente, um sentimento de ameaça, de perdermos o lugar que ocupamos na vida de quem nos é importante.

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