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“Tinha clareza? Não”: Um debate sobre consentimento na primeira transa

Debate nas redes sociais mostra que existe pressão e desejo de aceitação na hora da primeira relação sexual - em especial, no caso de meninas e mulheres.

Por Isabella Otto Atualizado em 30 jun 2022, 15h47 - Publicado em 30 jun 2022, 11h35
Ilustração de uma garota sentada no chão, abraçando o joelho, com um pouco de sangue no short
Daria Golubeva/Getty Images

A repercussão do caso de Klara Castanho e da criança de 11 anos que engravidou após ser estuprada estimulou todo um debate sobre consentimento na internet. No Twitter, a jornalista Renata Veneri, colunista da rádio Nova Brasil FM, dividiu uma experiência pessoal que teve na adolescência e seu relato se tornou viral.

“Engravidei quando tinha 14 anos do meu primeiro namorado, primeiro beijo na boca, primeira transa. Era a hora de transar? Eu queria? Não. Eu tinha clareza sobre tudo isso? Não. Fui forçada? Naquele momento eu entendia que não, afinal, ele não rasgou a minha roupa, não me amarrou, não me bateu”, conta.

Renata disse que, na época, seu namorado explicou para ela de forma mansa, segundo ela, um “clássico da sociedade machista e misógina brasileira”, que, se não rolasse com ela, rolaria com outra menina. Os medos que surgiram na sequência não foram poucos.

“Medo do que eu estava fazendo (não foi escolha minha). Medo de não gostar. Medo do que ele ia achar de mim se eu não gostasse. Medo de ser descoberta (a sociedade nos faz achar que sexo é feio e proibido). Medo de não querer mais e ele terminar o namoro comigo. Medo de engravidar (embora achasse que não ia acontecer). Medo do que eu ia falar pra minha mãe. Medo de decepcionar a minha mãe (já que eu estava fazendo algo feio e proibido). Medo de ser tão diferente de amigas da mesma idade que já transavam e que sentiam prazer no sexo, que me diziam que era bom. Medo de não fazer parte da turma. Medo. Eu tinha 14 anos”, escreveu.

O relato da jornalista repercutiu nas redes sociais e outras pessoas, em sua maioria mulheres, começaram a compartilhar suas histórias. Uma outra mulher disse que passou por uma situação parecida, mas que o menino não era seu namorado.

“Eu tinha ficado com ele em uma casa de show e ele me levou para o motel. Chegando lá, eu não queria aquilo, pedia pra ele parar, mas ele não parava. Ainda tenho pesadelos com isso“, desabafou.

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Outra jovem escreveu que, aos 15 anos, namorava um rapaz de 20, e se sentia obrigada a fazer algumas coisas pela pressão da idade. “Perdi a virgindade em um estupro, dentro do mar, mas só me dei conta aos 20 e poucos na aula de direito penal”, contou.

O debate ainda criticou a forma como o assunto sexo é tratado de forma diferente com meninos e meninas: enquanto eles são incentivados desde pequenos a explorarem a sexualidade e conhecerem seus corpos por prazer, com as meninas acontece o inverso.

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Elas “têm que se dar ao respeito”, a masturbação é vista de forma pecaminosa e suja. E o resultado é distanciamento da educação sexual – ao mesmo tempo em que “meninas adolescentes são muito frágeis e a sociedade trata como se fossem mulheres com bastante amadurecimento”, como ressaltou uma outra resposta à publicação de Renata no Twitter.

“Eu tinha nove anos quando meu tio pediu para toca-lo, não entendendo nada fiz o que ele disse, não deveria contar pra ninguém e não contei. Com o tempo ele queria me tocar, minha mãe sempre disse que não podia foi o que eu respondi. Tempos depois ele me tocou. Eu não compreendia que estupro não é só a penetração“, relatou uma jovem.

Afinal, o que é consentimento?

Na teoria, é você permitir que alguém faça algo. Ou seja, que a situação em questão tenha aval para acontecer. Mas será que, no auge da adolescência, a gente tem todas as informações, todo o conhecimento e todas as ferramentas para consentir sobre sexo? Será que uma menina é capaz de entender se decidiu ter sua primeira relação sexual por vontade própria ou por pressão das amigas e/ou do parceiro? Será que ela é capaz de discernir um discurso manipulador? Será que ela consegue entender que “forçar a barra”, mesmo que com “jeitinho”, é induzir a um consentimento involuntário?

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“Teria ido para a cama com ele. Ele tinha tanta lábia, que eu tive até dó. Ele fazia uma cara de coitado, meu Deus! E mesmo eu negando, ele ainda ficava me tocando de forma muito íntima. Sinto arrepios só de pensar”, escreveu uma garota para a jornalista Renata Veneri, que respondeu dizendo que: “A gente vai amadurecendo e tudo vai ficando mais claro. É por isso que temos de ser incentivadas a refletir desde sempre. Meninas e meninos. Sempre com respeito e equidade de gênero”.

Segundo a legislação, praticar ato sexual com menores de 14 anos, qualquer que seja a idade do praticante, configura estupro de vulnerável – mesmo que haja consentimento.

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