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Síndrome da Caverna: o que é, sintomas, tratamento e relação com pandemias

Como lidar com essa síndrome que vem afetando muitas pessoas durante a pandemia e tende a continuar no pós

Por Gabriela Junqueira Atualizado em 30 out 2024, 17h12 - Publicado em 4 set 2021, 10h02

Talvez você já tenha ouvido o relato de alguém que sentiu medo ao pensar em voltar para a rotina que levava antes do coronavírus. Se esse sentimento vier acompanhado de mal-estar, desconforto e até um início de crise de ansiedade, pode ser que haja o diagnóstico da Síndrome da Caverna (ou Síndrome da Cabana). Com a pandemia, o mundo foi submetido a uma realidade inédita e as pessoas precisaram aprender a lidar com novos perigos relacionados a um vírus e com o isolamento, que transformaram o cotidiano de cada um de uma forma. Os estudantes, possivelmente, foram uns dos mais afetados.

Com o retorno das aulas, de alguns profissionais para os escritórios e a reabertura dos comércios, muitos se viram obrigados a voltar a sair de casa e perceberam uma certa dificuldade ou pavor. Como lidar? A CAPRICHO conversou com a psiquiatra Danielle Admoni e o psicólogo e psicanalista Ronaldo Coelho para entender mais sobre a Síndrome da Caverna, seus sintomas e como pode ser tratada.

Foto de uma garota negra, com tranças no cabelo, olhando para fora de casa por uma janela. O rosto é de preocupação.
nadia_bormotova/Getty Images

O que é a Síndrome da Caverna (ou Cabana)

Ela foi citada pela primeira vez na literatura em 1900, nos Estados Unidos, para se referir a um tipo específico de dificuldade de socialização de caçadores que ficavam isolados por longos períodos em cabanas ao Norte do país. “O termo tem sido empregado para falar hoje das dificuldades que muitas pessoas têm sentido em retomar atividades, como sair de casa para realizar situações que antes eram cotidianas, como ir ao trabalho ou colégio, ou até mesmo para situações necessárias e essenciais, como ir ao médico ou ao mercado”, explica o psicólogo.

Danielle lembra que é importante reforçar que não se trata de uma doença, mas um termo que foi criado para se referir a esse comportamento. “A possibilidade de sair acaba gerando um sofrimento. Algumas pessoas conseguem identificar isso, perceber os sintomas de ansiedade, e outras ainda não, tentando encontrar justificativas para não sair”, explica.

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Quais são os sintomas e a relação com a pandemia

A pessoa usa desculpas para não sair casa e, às vezes, a possibilidade de precisar fazer isso acaba gerando um quadro de ansiedade intensa, que pode culminar em sintomas físicos. Além do desconforto, há pessoas que passam mal só de ver outras ou com a possibilidade de retomar uma rotina há tempos modificada, sentindo dores de barriga, náuseas, tendo calafrios e até vivenciando crises agudas de ansiedade.

Ilustração de uma mulher ruiva, encolhida no cantor da casa, com medo de sair
Aleksei Morozov/Getty Images

Através de relatos nas redes sociais e do atendimento no consultório, Ronaldo diz que já é possível ver um aumento do número de casos da síndrome. “Não sei se já temos dados estatísticos, mas certamente aumentou”, afirma. Entretanto, o psicólogo lembra que essa realidade não se remete apenas a um medo irreal construído na cabeça de cada pessoa: “Há um perigo real do qual só nos protegemos verdadeiramente mantendo o isolamento até o momento. Então, acredito que somente depois que atingirmos a cobertura vacinal estabelecida para o controle da pandemia poderemos ter a dimensão de uma perturbação que permanece mesmo depois que o perigo realmente se foi”. Para ele, no cenário atual de mundo, a Síndrome da Caverna é uma angustia que se apoia num perigo real. “Enquanto não tivermos condições reais de nos sentirmos seguros, não podemos tratar essas questões como sendo apenas psíquicas. Nosso país engatou um ritmo de vacinação satisfatório somente agora”, atesta.

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Como lidar e tratamentos

Se a pessoa perceber que a situação está trazendo um sofrimento ou a impedindo de viver, e caso o medo de sair de casa e de se socializar com amigos persista ao longo do tempo [após a imunização completa da população], talvez seja interessante procurar ajuda de um profissional de saúde mental, que pode indicar um acompanhamento terapêutico. “Do mesmo modo que a questão de voltar à rotina, é esperado que as interações sociais tenham alguma mudança, que passe por um tempo de readaptação. Será mesmo preciso que o mundo esteja seguro para que as relações deixem de ser algo sentido como perigoso”, diz o psicólogo Ronaldo.

Muitas pessoas não conseguem se imaginar voltando a trabalhar, estudar ou sair e conviver como antes, e acabam optando por ficar em um círculo restrito (até digitalmente), mas é necessário lembrar que o ser humano é social e o convívio, assim como a falta dele, afeta sua saúde mental. “Existem outro tipos de interação, como enviar um doce para a casa de alguém que você gosta, que são viáveis e importantes”, lembra Danielle.

A psiquiatra explica que, quanto mais isolada a pessoa ficou, até em relação ao contato social online, mais difícil é voltar com as interações. Existe a necessidade que a retomada aconteça aos poucos e que as escolas, por exemplo, trabalhem a parte psíquica das crianças antes de focar no conteúdo. “Os estudantes estão voltando para um colégio completamente diferente do que saíram”, diz Danielle. Muitas famílias tiveram perdas financeiras, de parentes, e isso tudo precisa ser lembrado e trabalhado com muito cuidado.

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Síndrome da Caverna não é Agorafobia

A Agorafobia configura “o medo e a ansiedade de ficar em situações ou locais sem uma maneira de escapar facilmente ou em que a ajuda pode não estar disponível no caso de a ansiedade intensa se desenvolver”, conforme classifica o Manual MSD para Profissionais de Saúde.

Estima-se que cerca de 30% a 50% das pessoas diagnosticadas com Agorafobia tenham também Síndrome do Pânico. Ficar em filas, usar o transporte público e sair de casa são situações que agravam o caso e, muitas vezes, impensadas para pessoas com o diagnóstico, que requer tratamento parecido com o da Síndrome da Caverna (ou Cabana). A principal diferença é que este segundo caso está diretamente associado a longos períodos de isolamento, que tendem a ser temporários e ligados a ameaças externas, como um vírus, e não necessariamente a questões de fobias psíquicas.

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