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Serviço de aborto legal por telemedicina é criado no Brasil: “100% eficaz”

A situação de mulheres que desejam interromper a gravidez ficou ainda mais negligenciada no país durante a pandemia de COVID-19

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 17h45 - Publicado em 12 abr 2021, 10h44

A pandemia fez vários profissionais repensarem os serviços oferecidos por eles, inclusive médicos, que precisaram se reinventar com a telemedicina. Para a ginecologista e obstetra Helena Paro, do Hospital das Clínicas de Uberlândia, não foi diferente. À frente do serviço de aborto legal oferecido oferecido pelo Nuavidas (Núcleo de Atenção Integral a Vítimas de Agressão Sexual) em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia, ela precisou pensar em uma alternativa para não deixar de atender mulheres durante a quarentena, criando o primeiro serviço de aborto por telemedicina do Brasil.

Serviço de aborto legal por telemedicina é criado no Brasil:
A ginecologista e obstetra Helena Paro durante consulta em tempos de pandemia Arquivo Pessoal/Reprodução

Em agosto do último ano, a médica conseguiu aprovar sua proposta, após muita desconfiança por parte de seus superiores, conforme ressalta Camila Brandalise em matéria para o Universa. O serviço dá todo o suporte para que a paciente consiga interromper a gravidez em casa e com segurança. Todo o protocolo foi elaborado junto com o jurídico do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero Anis, já que o aborto é legalizado no país em apenas três casos: de estupro, de anencefalia e de risco de vida à mulher.

A primeira consulta é sempre presencial, mas respeitando todos os protocolos de combate ao coronavírus. Um acompanhamento com psicólogas e assistentes sociais é realizado, assim como uma explicação do procedimento. Três doses de um medicamento que induz o aborto são disponibilizadas para a gestante, que deve administrá-las conforme as instruções presenciais e aquelas que recebe também por WhatsApp, com imagens bastante didáticas. Uma lista de contatos também é enviada para a paciente, com profissionais da saúde disponíveis 24h.

 

Após a ingestão das doses, uma teleconsulta é agendada para checagem do quadro da paciente. É importante destacar que o medicamento oferecido no serviço é eficaz e seguro em gestações de até nove semanas. Até o momento, 15 mulheres usaram o serviço, cuja taxa de sucesso é de 100%. “Não precisei de leito de hospital, não demandou profissionais em um momento tão delicado(…) Queremos provar, com evidências científicas, que o aborto orientado por telemedicina é tão eficaz e seguro quanto o realizado no hospital e traz menos custos para o sistema de saúde”, explica a médica Helena Paro para o Universa.

A pandemia dificultou ainda mais o acesso das mulheres ao aborto legal no Brasil, principalmente daquelas moradoras de zonas rurais. Talvez a telemedicina seja mais um obstáculos para elas, que eventualmente moram em regiões sem acesso à internet, mas já é uma alternativa. “Temos déficit de serviço de aborto legal. Na pandemia ficou pior, com fechamentos de ambulatórios. Há estados sem um único centro de referência, a maioria fica em capitais“, denuncia a especialista, que garante que as gestantes que desejam interromper a gravidez ainda precisam lidar com outros impasses sistêmicos e sociais, como os mitos de que há mulheres que inventam que foram estupradas apenas para abortar legalmente e de que a culpa pela gravidez, e consequentemente pelo aborto, é única e exclusivamente da mulher.

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