Sarampo: tire suas dúvidas sobre a doença, o surto em São Paulo e a vacina

Especialista tira as principais dúvidas sobre a infecção, que é altamente contagiosa e pode matar.

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 01h41 - Publicado em 26 jul 2019, 11h00

Desde 2016, o sarampo estava erradicado no Brasil. Ou seja, a circulação endêmica do vírus estava interrompida. Em 2018, porém, um surto em alguns estados da região Norte do país fizeram com que a OMS (Organização Mundial da Saúde) suspendesse o título de infecção erradicada em território brasileiro. Atualmente, em São Paulo, uma nova onda epidêmica está ameaçando a população e campanhas de vacinação estão sendo realizadas.

Essas são as machinhas vermelhas que aparecem na pele. Obencem/Getty Images

De acordo com a Dra. Ana Paula Moschione Castro, pediatra, especialista em Alergia e Imunologia, e diretora da Clínica Croce, a campanha é “uma estratégia de bloqueio para garantir que o surto não vá para frente e contamine uma quantidade maior de pessoas que o nosso sistema de saúde está organizado para tratar”. Inicialmente, o público alvo da vacinação eram os jovens de 15 a 29 anos, porque, de acordo com a Coordenadoria de Vigilância em Saúde, 75% deles não havia tomado a segunda dose da vacina aos 15 anos de idade, já que, na época, ela não fazia parte do calendário oficial de vacinação. Hoje, ela já faz. Por isso, as pessoas dessa faixa etária se tornaram um grupo de risco e devem tomar a dose de bloqueio. Na última quinta-feira, 25, a Prefeitura de São Paulo adicionou bebês entre seis meses e um ano de idade à campanha preventiva.

  • AFINAL, O SARAMPO MATA?

Sim, ele pode matar. E a Dra. Ana Paula explica o porquê: “o sarampo é uma infecção por vírus grave que machuca seriamente as vias respiratórias, tanto as altas (narinas e garganta) quanto as baixas (brônquios e pulmões), e causa vermelhidão na pele. Ele também compromete o sistema imunológico. Os sintomas são, além das manchinhas, que aparecem inicialmente no rosto e braços, catarro, febre e muito cansaço. Os olhos também podem ficar avermelhados. Em casos graves, o sarampo pode causar lesão cerebral e infecções no encéfalo.

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Outra preocupação relacionada ao nível de fatalidade da doença está ligada ao fato de que não existe um tratamento específico para combater o vírus e o ciclo autolimitado dele. O tratamento é apenas sintomático, ou seja, remédios são administrados para suavizar os sintomas do paciente, como controlar a febre, amenizar as irritações na pele e tratar alguma complicação no aparelho respiratório.

A infecção ainda é altamente contagiosa. Uma pessoa contaminada pode espalhar o vírus para cerca de 10 pessoas próximas. Se você já teve sarampo alguma vez na vida e sobreviveu, está imune à doença, mas isso nem de longe pode ser encarado como uma notícia boa. “O sarampo é muito perigoso mesmo! Ele é mais grave em bebês, em idosos e em pessoas imunocomprometidas, mas todos estão suscetíveis”, alerta a especialista.

  • QUEM DEVE TOMAR A VACINA?
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Todo mundo pode se vacinar gratuitamente em postos de saúde e nos pontos espalhados pela cidade destinados à vacinação do público alvo. Com duas doses, a pessoa já está altamente protegida. A primeira dose deve ser administrada na infância, entre os seis meses de vida e um ano de idade, e a outra na adolescência, aos 15 anos. Em situações de surto, é recomendado que uma terceira dose seja tomada. Se você já tem essas três na carteirinha de vacinação, não precisa se preocupar em tomar outra.

A Dra. Ana Paula explica que a vacina contra o sarampo não é nem de longe tão invasiva quanto a da Febre Amarelo, por exemplo. “Só não pode tomar quem tem alguma imunossupressão confirmada, teve reação à primeira dose ou está gestante. Do contrário, a vacina é supertranquila e causa alguma reação, como febre, em menos de 10% dos que tomam apenas”, garante. A médica também faz outro alerta: “vacinas são um orgulho da medicina! A gente levou muitos anos para chegar onde chegamos e erradicar doenças pra agora voltarmos a fazer o diagnósticos de infecções como o sarampo. Fico muito chateada de ver essa onda de pessoas que são contra a vacinação e não se protegem. Vacinas não são vilãs“.

Três doses da vacina são o recomendado. Media for Medical/Getty Images
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  • A VACINA É TOTALMENTE EFICAZ?

Não, nenhuma é. Contudo, a médica considera importante ressaltar que elas são altamente eficazes! “Por exemplo, de 100 pessoas que se vacinam, 95 estão imunizadas e apenas 5 podem eventualmente se contagiar. É por isso que, ao longo dos anos, pequenas epidemias podem acontecer, por causa desse bolsão de suscetíveis. Mas, se todo mundo se vacina direitinho, esse bolsão fica escondido e não compromete outras pessoas. Agora, se isso não acontece e as pessoas deixam de se vacinar, o bolsão vai crescendo e o risco de epidemias de doenças que até então estavam erradicadas voltam, principalmente se essas pessoas viajam e trazem o vírus de outros lugares”.

É o que pode ter acontecido, por exemplo, com brasileiros que viajaram no último ano para estados como Amazonas e Roraima, que tiveram surtos da doença em 2018. Se um desses turistas estava com uma dose faltando da vacina, pode ter se contaminado, trazido a infecção com ele para casa e infectado outras pessoas que também não estavam com a carteira de vacinação em dia. É um ciclo e um bastante preocupante, já que estamos falando de uma contaminação viral. “Apenas a vacina previne com eficácia”, alerta Ana e a Organização Mundial da Saúde.

Para consultar o endereço da Unidade Básica de Saúde mais perto de você, basta acessar o site da Prefeitura de São Paulo.

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