Primeira narração feminina da Copa do Mundo desperta a ira dos machistas

Reação de alguns homens ao descobrir que uma mulher narrou pela primeira vez um jogo de Copa deixa a pergunta: machismo no futebol é coisa do passado?

Por Amanda Oliveira Atualizado em 31 out 2024, 10h35 - Publicado em 23 jun 2018, 14h39

Que o futebol infelizmente ainda é visto como um esporte machista, a gente sabe. Mas, quando se trata de narrar uma partida em algum veículo de comunicação, parece que a situação fica ainda pior. Afinal, o país inteiro conhece Marta e Formiga, mas quantas narradoras de futebol você já ouviu falar?

Assim como criar uma carreira dentro do futebol feminino, o jornalismo esportivo também é uma caminhada difícil para as mulheres. Elas começaram a ganhar mais destaque na área lá pela década de 60 e, desde então, não é somente a ausência de oportunidades e a falta de espaço que viraram obstáculos: o preconceito ainda é o maior dos problemas. Por isso, o canal Fox Sports 2 decidiu fazer história na Copa do Mundo de 2018 ao trazer uma transmissão inteiramente feminina.

‘Comenta Quem Sabe’ é liderado por Vanessa Riche, Livia Nepomuceno, Daniela Boaventura, Nadine Bastos e Isabelly Morais. Fox Sports/Divulgação

Tudo começou com o projeto “Narra Quem Sabe”, que escolheria uma mulher para narrar os jogos da Copa do Mundo para a televisão. A vencedora foi a jornalista mineira Isabelly Morais, com pouco mais de 20 anos, que já tinha sido a primeira mulher a transmitir um jogo de futebol masculino pela rádio em Belo Horizonte, Minas Gerais, no ano passado.

Ao lado dela na narração dos jogos estão a jornalista Vanessa Riche, que fez transmissões esportivas no SporTV no começo dos anos 2000 e se tornou uma das primeiras mulheres na narração televisiva, e a goleira da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, Bárbara, como comentarista.

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Além de contar com uma narração inteiramente feminina durante as partidas, a Fox Sports 2 também transmite diariamente o programa Comenta Quem Sabe, às 20h, com as análises táticas e comentários sobre as rodadas da Copa do Mundo, comandado por Vanessa Riche, Livia Nepomuceno e Daniela Boaventura. A narradora Isabelly Morais e a comentarista Nadine Bastos também participam da mesa.

Em entrevista ao SporTV, Isabelly Morais disse que sempre quis se dedicar ao jornalismo esportivo. “Eu sempre falei muito rápido. Até brincam comigo na rádio. Quando era mais nova, brincava pela minha paixão por esporte: ‘Imagina ela narrando um gol’“, conta. E ela conseguiu ser a primeira mulher a narrar um gol na Copa do Mundo.

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Mas, apesar de ter tido apoio de muita gente, as mulheres que narraram e comentaram as partidas de futebol no canal também receberam comentários machistas nas redes sociais. Alguns usuários alegaram que a narração feminina era fraca e não tinha a mesma emoção que a masculina, outros rebateram os comentários preconceituosos dizendo que quem não queria ouvir, podia mudar o canal e escolher o Galvão Bueno.

Entre as respostas das notícias sobre a narração feminina, estão comentários como: “vocês estão forçando demais, põe mulher como repórter, comentarista, mas narrando não!”, “Mulher de narradora é sofrível, é muito desafinado” e“Se não ficarem falando qual jogador é mais bonito, já é um avanço”. Confira alguns outros comentários:

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O machismo no jornalismo esportivo é um problema do mundo inteiro. Aliás, a Copa do Mundo é um dos períodos que mais contribuem para que este tipo de preconceito apareça. No caso da correspondente de Deutsche Welle, Julieth González Therán, o assédio na profissão chegou antes mesmo do torneio começar. A jornalista foi enviada a Moscou para cobrir a contagem regressiva para a cerimônia de abertura da Copa do Mundo e foi agarrada à força e beijada no rosto por um homem. Ao vivo.

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¡RESPETO! No merecemos este trato. Somos igualmente valiosas y profesionales. Comparto la alegría del fútbol, pero debemos identificar los límites del afecto y el acoso.

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Em seu Instagram, Julieth se pronunciou sobre o ocorrido e destacou que as mulheres não merecem esse tipo de tratamento. “Somos igualmente competentes e profissionais. Compartilho a alegria do futebol, mas devemos identificar os limites entre afeto e assédio“, disse.

Tanto a jornalista Julieth quanto a narradora Isabelly e todas as outras mulheres que trabalham com jornalismo esportivo merecem mais respeito, dentro e fora da profissão. O Brasil é o país do futebol e Copa do Mundo é época de celebração, mas será que todo mundo está incluso nessa festa?

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Por isso, assistam as transmissões e narrações femininas que o canal Fox Sports 2 está disponibilizando e apoie as mulheres que estão nesse universo futebolístico que, infelizmente, ainda é tão difícil para cada uma delas.

 

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