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Por que um quadro de 1866 virou meme no TikTok e isso é bem significativo

"A Noiva Hesitante”, de Auguste Toulmouche, fez muitas mulheres se identificarem com a obra mesmo depois de tanto tempo

Por Juliana Morales 1 dez 2023, 14h31

A imagem de uma mulher revirando os olhos está fazendo sucesso no TikTok da gringa – e já pode ter passado na sua for you também. Só que não é um meme que surgiu nas redes, como a maioria. Na verdade, trata-se de um quadro de 1866, pintado pelo artista francês Auguste Toulmouche. Na obra “A Noiva Hesitante”, aparece uma jovem vestida de noiva, cercada por outras três mulheres, com um olhar debochado lançado para o espectador.

Garotas começaram a usar a imagem do século 19, acompanhada de uma música clássica, nas redes sociais para expressar ranço e raiva de atitudes e comentários machistas que enfrentam no dia a dia. E isso é muito legal – nós vamos te explicar o porquê. 

O contexto da obra

Auguste Toulmouche era um pintor da escola romântica que se especializou em pintura de moda, retratando roupas, móveis e ambientes luxuosos de casas de classe alta.

Em entrevista à CNN Portugal, Kathryn Brown, professora associada de história da arte e cultura visual na Universidade de Loughborough, explicou que “quando ‘La Fiancée Hésitante’ foi exposta pela primeira vez, as obras que retratavam a indignação silenciosa das mulheres eram por vezes consideradas pouco sérias, e grande parte da arte popular da época satirizava as mulheres solteiras”.

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A “A Noiva Hesitante” é um exemplo clássico de pintura de moda, mas as emoções negativas da personagem central, fez com que a obra, considerada realista, se diferenciasse das outras. Ao representar o dilema do casamento arranjado comum no século 19, o pintor francês foi contra as expectativas e padrões da época.

Por que a obra aparecer no TikTok é tão legal

Em um artigo foi publicado no The Conversation e traduzido pela BBC, Cydney Thompson, doutoranda na Escola de História da Universidade Trinity College em Dublin, explica que a obra traz um conceito historicamente difícil de ser capturado por artistas homens: a representação da raiva feminina. No passado, mulheres com raiva eram retratadas como “silenciosas e oprimidas” ou com “muitos gritos e histeria” – o que é bem machista, né? 

Cydney diz que, assim como as jovens da época sentiram-se vistas pela noiva que sente raiva quando a obra foi apresentada pela primeira vez em Paris em 1866, “as jovens de hoje veem a sua própria frustração e raiva refletidas na pintura de Toulmouche”. A especialista destaca que usar a obra nas redes sociais é uma forma de “recontextualizar a arte numa conversa mais moderna, permitindo que o trabalho viva e permaneça relevante”.

Muito bacana resgatar uma obra tão antiga para falar de problemas atuais, não é?

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