Pare de usar o amor dos outros para “tapar buracos”

Não é justo usar pessoas como tapa-buracos. Não é justo com você, não é justo com o outro, não é justo com ninguém.

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 00h58 - Publicado em 27 dez 2019, 10h02
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CAPRICHO/Divulgação

365 dias. Esse foi o tempo exato que precisei para entender em 2019 que havia falhado em 2018. Não estou exagerando ou usando a exatidão desse espaço de tempo para deixar tudo mais impactante. Por coincidência ou puro destino, um ano depois de ter tido pouca responsabilidade afetiva com alguém importante para mim na época, vivi na mão de outro alguém o que aquela pessoa viveu comigo há exatos 12 meses. Mandei mensagem para o que vamos chamar de “ex”, expliquei que tinha experimentado algo parecido, que agora entendia a reação que ele havia tido, julgada por mim como exagerada, e pedi desculpas. Me senti mais leve, como se a vida tivesse enfim me ensinado a respeitar os sentimentos alheios. Eu posso ser uma pessoa mais reservada e um pouquinho coração de pedra, mas os outros não necessariamente são assim. No fim, deu tudo certo: o antigo @ achou seu alguém, eu achei meu alguém, ele cresceu com o meu erro e eu cresci muito, mas muito mais.

Jake Olimb/Getty Images

Talvez o maior dos meus aprendizados tenha sido ser mais sincera comigo mesma e com os outros. Eu tenho muita dificuldade em expressar o que estou sentindo e sou bastante desconfiada. Deve ser uma junção de fatores: insegurança, questões astrológicas, fantasmas do passado… Diálogo é tudo e, muito provavelmente, se eu tivesse sido mais sincera e colocado pra fora meu posicionamento e meu modo de pensar, ambas as partes teriam sofrido menos. Para mim, não é uma questão de arrependimento, mas de honestidade. Depois de tudo o que aconteceu, reflito muito mais antes de tomar atitudes que tomaria só por tomar, porque a oportunidade está lá e por que não aproveitá-la, sabe? Mas é isso mesmo que eu quero? É isso mesmo que eu estou sentindo? Ou estou indo na onda dos outros? Parece egoísmo, mas é autocuidado, atenção, respeito e amor próprio.

Alguns meses se passaram e a história tinha tudo para se repetir. Respirei fundo, coloquei as ideias no lugar e falei. Botei tudo pra fora. Expliquei o que estava vivendo, sentindo e por que não ficaria com a pessoa que estava na minha frente, com a qual já tinha ficado antes. Pensei que ela ficaria chateada, mas acabei voltando do rolê com um baita amigo que, inclusive, me deu vários conselhos incríveis sobre minha vida amorosa. Foi surpreendente, porque, por diversas vezes, já me enganei e enganei emocionalmente outras pessoas para evitar machucar o outro, quando, na verdade, eu não percebia, mas estava fazendo justamente o contrário: eu estava tapando buracos.

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Dizem que quando estamos à beira da morte um filme passa na nossa cabeça, e foi que aconteceu quando me dei conta disso tudo. Acho que é porque algo estava mesmo morrendo para outro renascer. Uma versão minha que confesso que não conhecia e achava que jamais fosse conhecer. Não estou me eximindo de culpas, porque confesso que já tomei atitudes falhas e costumava justificá-las com a desculpa de que eu era mesmo uma negação no amor, um fracasso total. Fácil demais, né? Superficial também. Mas acho que todo mundo já esteve nesse lugar em algum momento ou vai estar. Em um lugar em que, por diferentes fatores, faz a gente usar pessoas para preencher espacinhos em brancos que só podem ser preenchidos por nós mesmas. Sabe quando alguém termina o namoro e começa a namorar outra pessoa mesmo não estando 100% pronta para isso? Ou então quando, durante o tempo (“WE WERE ON A BREAK!”), fica com outros só para fazer ciúmes? Ou até mesmo quando tenta recuperar amizades agora que o relacionamento chegou ao fim? Ou quando passamos a vida ao lado de alguém de quem nem gostamos tanto assim por comodismo, tradições ou falta de confiança em nós mesmas? São situações como essas que eu queria muito que repensássemos nesse novo ano, nesse novo ciclo, nessa nova chance de ser uma versão ainda mais incrível de quem você é – porque eu sei que você já é demais!

 

Quem sou eu pra pedir isso?! Sendo bem sincera, alguém que está escrevendo essas linhas num dia qualquer, ouvindo umas músicas antigas no Spotify e vendo a chuva cair pela janela. Parece poético, mas está longe de ser. É só mais um dia de trabalho. Mas também não é. Eu precisei de 27 anos para entender o quão importante é respeitar o que se está sentindo, respeitar o que o outro está sentindo, falar, falar e falar (e, céus, como isso ainda continua sendo difícil às vezes!), e não usar pessoas para tapar buracos. Nunca. Em hipótese alguma. Nem para tapar buracos criados por terceiros nem para tapar buracos criados nós mesmas. Foi percebendo isso que eu senti que finalmente estava pronta para ter algo que jamais me julguei sortuda o bastante para ter ou digna de viver. Eu parei de magoar pessoas e de me magoar. Eu parei de enganar os outros e de me enganar. Eu consegui entender meus sentimentos com muita mais clareza e trabalhá-los de uma forma muito mais saudável. Por incrível que pareça, eu senti até mais facilidade em desenvolver conversas em que precisava expor meus sentimentos, minhas certezas e incertezas, e de inclusive iniciá-las. Está tudo mais organizadinho aqui dentro ou, se preferir, tudo mais alinhado.

Eu precisei de 27 anos para isso, e de 365 dias para concluir esse processo de redescobertas, e cada um tem o seu tempo, mas eu gostaria muito que este texto te fizesse abrir os olhos para você enxergar melhor quem você é, seus sentimentos e começar a praticar desde já o autocuidado consigo mesma e, consequentemente, com os outros. Quem sabe você não termina o ano de 2020 como eu estou terminando este 2019? Completa e com buraquinhos fechados por mim mesma, sem usar ninguém para remendos provisórios.

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