Os rótulos estão escondendo quem realmente somos por dentro?
'Eu não me sentia negra o suficiente. Até que comecei a ter vergonha de mim mesma...'
Sentir-se bem em um ambiente onde você destoa dos demais não é fácil. Às vezes, a necessidade da sociedade em definir rótulos e estereótipos acaba escondendo preferências e comportamentos, que mostram quem realmente somos. E isso pode acontecer de uma maneira tão camuflada, que nem sempre percebemos esses autoboicotes.
Recebi o e-mail de uma leitora – vamos chamá-la de AZA -, que passou por uma situação que tem tudo a ver com isso. Na mensagem, ela disse: “tive uma fase muito cruel de negação de mim mesma. Eu sou bem nerdzinha, mas ao mesmo tempo meus filmes favoritos são As Patricinhas de Beverly Hills e As Apimentadas. Essa minha ‘complexidade’, que, na verdade, é só um modo de ser como qualquer outro, me afetou na universidade. Eu não me sentia negra o suficiente. Até que comecei a ter vergonha de mim mesma e ficava tentando me encaixar em lugares que os outros diziam ser pra mim“.
A presença de artistas majoritariamente brancos nesses filmes pode provocar uma sensação de não pertencimento para o negro, mas isso não impede que, de alguma forma, ele desenvolva alguma afinidade com a história. Afinal, o que torna a gente uma pessoa negra? O gosto musical, o esporte que praticamos ou o jeito que usamos o cabelo? Bom, na teoria, isso não deveria servir de base para definir etnia, gênero ou orientação sexual de ninguém. Só que, na prática, sabemos que ainda não é bem assim.
Ideias generalizadas, como a de que “toda negra precisa saber sambar” ou “todo negro ouve hip hop”, deixam de lado a nossa pluralidade. E isso não quer dizer que estamos rejeitando ou desvalorizando elementos importantes da cultura negra, mas que, por conta de experiências diferentes, podemos ter os mais variados comportamentos e gostos. Ou seja, não somos todas iguais e não precisamos curtir as mesmas coisas.
Prestar atenção nas escolhas que fazemos (ou deixamos de fazer) no dia a dia pode ser o primeiro passo nessa etapa de reconhecer e valorizar as nossas particularidades. A AZA também contou no e-mail que buscar diferentes representações a ajudou bastante. “Através da diversidade dos artistas negros que comecei a acompanhar, fui me distanciando dessas limitações e agora me sinto confortável comigo mesma e em qualquer espaço“, deu a dica.
Ah! E não é porque passamos por essas situações que também não podemos praticar isso com outras pessoas, viu? Ficar de olho para não dizer alguma coisa que oprime alguém ou generalize um grupo é uma atitude superimportante para termos ambientes mais acolhedores.
Você também já passou por uma situação parecida? Me conta pelos comentários ou manda um e-mail para anacarolipa16@gmail.com falando como lidou com isso. Fique também à vontade para enviar perguntas ou sugestões de temas para conversamos aqui na coluna “O Nosso Lado da História”.
Beijos,
@anacarolipa