Obrigada por continuar resistindo, garota negra!

Marielle Franco deixou um legado para todos, principalmente para nós, meninas negras.

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 31 out 2024, 10h59 - Publicado em 25 mar 2018, 20h00

Desde o dia 14 de março, abrir as redes sociais, ligar a TV e pensar no rumo que o mundo está tomando têm sido tarefas bem complicadas. A execução – para mim, não foi apenas assassinato – da socióloga e vereadora do Rio De Janeiro, Marielle Franco, obrigou a sociedade a olhar para a verdade, que falamos há muito tempo, nua e crua: negras e negros periféricos morrem todos os dias.

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Defender os direitos básicos dessas pessoas, criar leis que as protejam e denunciar os abusos com os moradores das comunidades cariocas é motivo para tirar a vida de uma pessoa da forma mais covarde. Algumas fake news disseminaram mentiras sobre a vereadora, mas a verdade é que Marielle morreu por defender a vida de pessoas.

Como soube do assassinato? Estava sentada no ônibus, voltando da reunião do coletivo negro da faculdade, quando vi a publicação da Djamila Ribeiro falando sobre a morte da Marielle e do motorista Anderson Gomes. Com um nó na garganta, passei o resto do caminho tentando assimilar aquela notícia. Cheguei em casa e só conseguia chorar. Senti impotência, raiva e medo.

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No dia seguinte, 15, o ato por Marielle Franco já estava agendado para acontecer em cidades do Brasil e do Mundo. E foi naquela situação que o medo perdeu espaço para a necessidade de continuar lutando. A impotência deu espaço para a valorização das “pequenas” atitudes e a culpa de não poder fazer mais pelos meus deu espaço para a necessidade de praticar ações mais concretas. E toda essa força para seguir na militância e no ativismo – palavras que por vezes assustam, mas que na rotina são praticadas sem nem percebemos – veio da união das pessoas com os mais variados gêneros, etnias, idade e crença e, principalmente da presença das mulheres negras, que estavam ali.

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Pra continuar a luta, juntamos nossos corpos nesta noite para encontrar força em nossos ancestrais. #mariellepresente

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Antes de ser alvejada, ela estava discutindo as contribuições diversas que as garotas negras oferecem à sociedade, no evento Jovens Negras Movendo as Estruturas. Marielle deixou um legado para todos, principalmente para nós, garotas negras. Com a sua vivência como negra, periférica, líder política e lésbica, a ativista provou que nós podemos conquistar e ocupar o lugar que quisermos. E se podemos fazer algo para Marielle realmente estar presente na sociedade é resistindo da maneira que escolhemos. Sem deixar ninguém nos calar!

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Marielle, Amarildo, Claudia e as milhares de vítimas do genocídio negro sempre estarão presentes e nos dando força para seguir na luta.

Ubuntu!
@anacarolipa

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