Continua após publicidade

O que realmente é a compulsão alimentar e como tratá-la?

Depois de virar pauta no BBB24, nutricionista explica a diferença entre exagero e compulsão alimentar e o que determina um transtorno

Por Juliana Morales 17 jan 2024, 20h09

Durante o raio x na manhã de terça-feira (16), Yasmin Brunet desabafou que está ansiosa e “totalmente descompensada na alimentação”. A modelo contou que já sofria de “questões alimentares”, mas que dentro do BBB isso tem sido muito intenso. “Parece que o único momento em que eu não penso, que eu não fico ansiosa é o momento que eu como, mas, logo em seguida, já vem de novo”, descreveu.

O desabafo de Yasmin, após ter sido alvo de piadas “por estar comendo muito” dentro da casa, mostra a necessidade de nós, que estamos do lado de fora, combatermos o preconceito e a desinformação em relação à compulsão alimentar. A CAPRICHO conversou com a Marcela Kotait, nutricionista especialista em transtornos alimentares e obesidade, para esclarecer as questões sobre esse problema que acomete muito a nossa galera, viu?

Ela explica que, geralmente, é na pré-adolescência e na adolescência que começa a grande parte dos quadros de compulsão alimentar, já que nessa fase tem o maior desenvolvimento do corpo, ao mesmo tempo, que estamos tentando nos provar socialmente e sofremos uma pressão estética para ser aceita nos grupos. “É quando os adolescentes mais tentam fazer dieta para emagrecer e mudar o próprio corpo, e com isso acabam adoecendo”, explica.

Por isso, precisamos debater, tirar dúvidas e conhecer melhor o problema. Bora lá!

Episódios de exagero alimentar X compulsão alimentar

Primeiro, vale esclarecer uma confusão comum quando falamos sobre esse tema. Episódios de exagero alimentar são diferentes de episódios de compulsão alimentar. Marcela explica que o primeiro é quando comemos um pouco a mais do que estamos habituados a comer. É muito comum acontecer em datas festivas ou situações de lazer. Pode ocasionar aquela sensação ruim de estufamento, mas tem o prazer de comer, sabe?

Já os episódios de compulsão alimentar são marcados por uma quantidade MUITO maior e exagerada de comida consumida e, geralmente, de uma forma muito voraz e rápida. Nesse caso, há uma perda de controle, como se o indivíduo não pudesse parar de comer. Outra diferença grande diz respeito ao sentimento que existe depois do episódio de compulsão alimentar. “Muitas vezes, as pessoas comem escondido e, depois, vem uma sensação de culpa e fracasso muito grande”, explica a nutricionista, que é coordenadora voluntária do ambulatório Anorexia no Hospital das Clínicas da USP.

Continua após a publicidade

Tendo essa diferença em vista, precisamos tomar cuidado para não confundir e até banalizar a compulsão alimentar – ela vai muito além de só exagerar na comida, certo?

E o que é o transtorno de compulsão alimentar?

Outro ponto importante que todos devem entender é que apresentar episódios isolados de compulsão alimentar não significa que alguém tem o transtorno de compulsão alimentar. Esse diagnóstico só pode ser concedido por um psiquiatra especializado em transtorno alimentar. Marcela explica que o profissional vai analisar a frequência dos episódios, a carga de sofrimento e os prejuízos emocionais e sociais antes de qualquer conclusão.

“Embora o transtorno de compulsão alimentar seja o mais comum na população, ele ainda é muito pouco conhecido pelas pessoas”, observa a nutricionista, que destaca que a maioria de quem tem o problema sofre gordofobia médica e é negligenciada no sistema de saúde. “É muito importante, portanto, ter esse olhar especializado para que o paciente seja visto com empatia respeito e ética”, completa.

Como tratar a compulsão alimentar?

Pessoas que sofrem de compulsão alimentar podem buscar a ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras e nutricionistas. A Marcela, por exemplo, conta que, como nutricionista, ela ajuda seus pacientes a trabalharem essa relação com a comida que está disfuncional e adoecida.

“É fazer com que essa pessoa entenda os motivadores físicos e emocionais dela para comer e os respeitem, e que consiga compreender melhor também seus sinais de fome e saciedade”, explica a especialista. “É muito mais sobre a relação dele com a comida do que, necessariamente, o que paciente come”, acrescenta.

Dietas restritivas, portanto, não são o caminho. Pelo contrário. Marcela alerta que a restrição é o principal gatilho para pessoas que sofrem com compulsão alimentar. Outros fatores que podem agravar o problema são os gatilhos psicológicos: estresse, medo, ansiedade e tristeza. Tudo isso pode deixar a pessoa mais suscetível a “descontar” na comida.

Continua após a publicidade

Agora, voltemos ao contexto do BBB24 para refletir um aspecto social nessa discussão sobre compulsão alimentar: como o machismo atravessa a nossa alimentação.

Por que Rodriguinho está tão ‘chocado’ com Yasmin comendo?

Já virou uma espécie de perseguição o quanto Rodriguinho tem se incomodado com a alimentação de Brunet. Foram comentários seguidos sobre o fato de ela beliscar comida e, em um momento, ele até falou que ela corre o risco de sair “rolando”. Yasmin chegou a dizer que as cobranças a estavam incomodando e só serviriam de gatilho para a compulsão dela, mas o pagodeiro continuou com o discurso totalmente problemático: “Tá bom, não vou falar nada, você vai ver. Não vem querer que eu ‘enfeie’ junto não. Se você vier falando meu nome e com discurso de ‘tô com compulsão’, só vou ficar olhando pra sua cara”, respondeu.

Marcela analisa que “espanto” de Rodriguinho com a alimentação da modelo está associado a ideia esteriotipada de que ela é magra e “deve” comer pouco. Assim como a maioria acredita que todas as pessoas gordas comem mal e não praticam exercícios – o que não é verdade. Fora o machismo que está presente ao oprimir uma mulher para comer da maneira que o imaginário coletivo imagina que é o mais saudável. “A estética da mulher tem que ser perfeita, enquanto os homens têm uma maior liberdade de ter barriguinha e de comer o que quiser”, pontua.

A nutricionista lembra, então, de uma citação de Virginia Woolf: “Ela diz que quando fazemos dieta ficamos muito mais cordatas para os homens. Ou seja, enquanto estamos ocupadas preocupadas em emagrecer, eles estão ocupando os nossos lugares”.

 

Publicidade