A homossexualidade existe há tanto tempo quanto a própria humanidade, apesar disso não estar presente em todos os livros de História. Mas, ainda assim, foi há apenas alguns anos que a luta por direitos da comunidade LGBTQI+ começou, de fato, a mudar. Considerada, por muitos, o marco inicial e até mesmo o mais representativo do movimento, a Revolta de Stonewall completa 51 anos neste domingo, 28 – e esta é uma ótima oportunidade para relembrarmos como a rebelião se deu.
O estopim aconteceu na madrugada do dia 28 de junho de 1969, em um bar no bairro do Greenwich Village, em Nova York, nos Estados Unidos. Apesar de não ter sido há tanto tempo assim, não se encaixar nos padrões de heteronormatividade era um crime em todos os estados do país americano até o ano de 1962, quando Illinois alterou o Código Penal para descriminalizar qualquer prática homossexual. Outros estados começaram a seguir o exemplo, mas isso ainda levou um tempo. Na verdade, práticas homossexuais só deixaram de ser um crime no país inteiro em 2003.
Naquela época, um bar chamado Stonewall Inn era o único estabelecimento em Nova York que recebia, abertamente, o público gay. Servia como uma espécie de refúgio para as pessoas LGBTQI+, onde elas podiam se sentir seguras e livres para andar de mãos dadas, beijar e demonstrar carinho por quem elas quisessem. Diferentemente de outros locais, o bar recebia de braços abertos não apenas gays e lésbicas, mas membros ainda mais periféricos da comunidade, que eram ainda mais excluídos da sociedade e tratados como aberrações, como drag queens.
Geralmente, a polícia ignorava a existência do estabelecimento, porque os proprietários tinham relação com a máfia italiana e pagavam propina para que ele continuasse funcionando. Entretanto, o bar tinha uma série de problemas: não possuía licença para comercializar bebidas alcoólicas, não tinha saídas de emergência e também não seguia as exigências sanitárias. Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, a polícia de Nova York decidiu então fazer uma ação para verificar as condições do local, quebrando o acordo com a máfia. Alegando venda proibida de bebida alcoólica, os policiais prenderam funcionários, agrediram e levaram sob custódia alguns frequentadores.
Estima-se que mais de 200 pessoas estavam no bar Stonewall Inn quando os policiais chegaram. Muitas delas bloquearam a saída do lugar, acenderam as luzes e desligaram a música. Cerca de 13 pessoas foram detidas, a maioria delas por vestir roupas “inapropriadas ao seu gênero”. Mas, para a surpresa dos policiais, a ação não terminou como esperado. Alguns registros mostram que, entre diversas coisas, o que mais se ouvia naquela noite eram gritos de “orgulho gay” e “poder gay”.
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Os clientes do bar e até mesmo pessoas que estavam fora do local começaram a reagir para combater a violência policial. Tudo virou um caos. Presos foram retirados dos camburões e carros foram incendiados. Os policiais, que não estavam preparados para a reação, foram obrigados a recuar. Estima-se que as autoridades ficaram encurraladas dentro do estabelecimento por mais de 45 minutos. Apesar de não ter havido mortes na revolta, muitas pessoas ficaram feridas.
Aquela noite passou, mas os protestos continuaram. Depois da revolta, parte da comunidade gay de Nova York saiu às ruas para fazer manifestações durante uma semana. Meses depois, surgiram as primeiras organizações pelos direitos LGBTQ+ nos Estados Unidos.
Ou seja, a Revolta de Stonewall foi o marco inicial para reforçar uma luta que já existia há muito tempo, embora às escondidas. Stonewall levou à criação das primeiras paradas para celebrar o orgulho LGBT, como a marcha que aconteceu nos Estados Unidos em 1970 – e acontece hoje em várias partes do mundo. A pressão para que os outros estados americanos descriminalizassem a homossexualidade também ganhou força com o movimento. Aliás, foi também por causa desse acontecimento histórico que surgiu o Dia do Orgulho LGBT, comemorado em 28 de junho.
Veja algumas imagens que marcaram a revolta: