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O que está por trás da Geração Z não postar foto no feed do Instagram?

Em post viral, professor mostra a pesquisa que fez com seus alunos sobre a relação deles com as redes sociais e cobrança estética na juventude

Por Juliana Morales 11 ago 2024, 17h00
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or que a Geração Z não posta mais fotos no feed do Instagram? Esse foi o primeiro questionamento que professor Victor Hugo fez a 93 alunos entre 13 e 17 anos, do sétimo, oitavo, nono e segundo ano do Ensino Médio. Ele também quis entender se os jovens se achavam bonitos e seguros para publicarem fotos.

Victor compilou, então, todas as respostas dos alunos e compartilhou no Twitter em um post que logo viralizou na rede social de texto e que levanta um debate importante sobre cobrança estética na nossa juventude. 

Em papo com a CAPRICHO, o professor conta que a ideia de entender a relação de seus alunos com as redes sociais surge inicialmente como uma inquietação pessoal. “Eu sempre notava que os alunos que me acompanham nas redes não apresentavam fotos no perfil, e além disso não alimentavam o ‘feed’, e a partir disso comecei a me questionar se esse fato era apenas um ‘despertencimento’ deles com a rede ou se havia algum problema atrelado a isso”, explica.

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Ele diz que a decisão de compartilhar no Twitter veio da vontade de “levantar esse debate a partir de uma análise real”. “Apesar de um desgaste da rede de um tempo pra cá, ainda é um local com um potencial de discussões interessantes”, diz. No entanto, ele ficou surpreso com sucesso do post. “Foi uma loucura. Eu não esperava uma repercussão dessa dimensão, mas observando como ela aconteceu a minha pesquisa fez ainda mais sentido”, conta à CH.

Victor diz que a pesquisa chamou atenção de outros professores e pesquisadores, de pais de adolescentes que sempre questionaram o comportamento dos filhos nas redes. “Além também da própria geração em questão que comentou bastante sobre as suas próprias perspectivas”, completou.

É preciso escutar o que os jovens têm a dizer

Antes de levar o assunto para a sala de aula, Victor faz um panorama geral das redes, principalmente em relação ao Instagram. “Comento do surgimento até os dias atuais, inclusive pontuando a minha relação com a rede, e a partir disso eles se sentem a vontade a participar”, explica.

Para iniciar sua pesquisa, o professor levou para a sala de aula as seguintes cinco perguntas para serem respondidas pelos alunos:

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  1. Por que não postam fotos no feed do Instagram?
  2. Por que dificilmente colocam foto no perfil? 
  3. Por que postam só nos stories? 
  4. O que acham de quem posta conteúdo frequentemente? 
  5. Se acham bonitos/seguros para compartilharem fotos nas redes sociais?

Victor conta que os alunos se mostraram dispostos a responder. “Talvez eles nunca tivessem parado pra pensar nesse tema em que eles estão inseridos, mas quando essa comunhão de ideias acontece com a turma como um todo, eles se expressam perfeitamente”, diz.

Ele continua: “Precisamos colocar no centro do debate as relações da nossa juventude com a modernidade, porque é através dessa relação que eles se expressam no cotidiano, e esse avanço absurdo da tecnologia e das redes desperta a necessidade da compreensão acerca de que forma os nossos jovens são afetados”, defende o professor.

O que a pesquisa mostrou

As respostas dos alunos clareou pontos muito importantes que o Victor buscava entender. O professor concluiu que o fato dos jovens não postarem foto no feed ou de não colocarem sua imagem de perfil não se trata de um “despertencimento” dos alunos com as redes, mas, ao contrário, demonstrou um “despertencimento” com a própria autoestima.

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O problema ficou ainda mais latente nas turmas mais novas. Os 20 alunos entrevistados do 7º ano, entre 12 e 13 anos de idade, como um todo, disseram que se sentem “envergonhados em postar foto no feed pensando nos comentários e nas ‘zoeiras’ dos colegas”. Eles “se sentem mais seguros nos stories pois as fotos saem rápido”. Apenas cinco alunos são seguros com a beleza. Os demais apontam vergonha em relação ao rosto, principalmente com a boca, sorriso, e cabelo.

No 8º ano, apenas 8 dos 24 alunos se acham bonitos e confiantes. Para eles, que têm de 13 a 14 anos, “os stories proporcionam maior engajamento, diferente do feed. Todos têm medo de pessoas maldosas criarem fakes com suas fotos tem vergonha de deixar uma foto exposta o tempo todo”.

No 9º ano, os alunos de 14 a 15 anos dizem nunca encontrar uma foto “boa”, “por isso quase nunca tiram fotos além de ficarem tristes por não alcançarem um bom número de curtidas”. Segundo as respostas, eles sempre apagam e arquivam as publicações. Dos 26 alunos, 9 alunos se sentem bonitos e seguros.

Na pesquisa com os 23 alunos do 2º ano do Ensino Médio, todos disseram se achar confiantes e bonitos. Ao mesmo tempo, todos se cobram muito antes de postar uma foto, já que “o feed exige fotos melhores”. “⅔ da turma sentem MUITA vergonha pelas curtidas pois isso é uma competição. Alguns tem dificuldade em dar ou receber elogios”, apontou o levantamento do professor.

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No post do Twitter, o professor destacou o contexto em que a pesquisa foi feita: trata-se de uma “escola periférica, onde a maioria dos alunos são carentes e grande parcela de pretos e pretas”.

Na percepção de Victor, as respostas mostraram que as redes sociais tem despertado muita cobrança estética na nossa juventude. “Essa cobrança perpassa pelo Instagram, mas está totalmente ligada ao modo em que os jovens se sentem fisicamente e em como se expressam socialmente”, analisa. O professor ressalta que “a falta de autoestima não é um problema de agora, mas as redes sociais interferiram nesse processo de aceitação de uma maneira violenta”. 

“A formação desse padrão de beleza se consolida agora com as redes dos influencers, e a nossa juventude não se sente parte desse projeto de beleza completamente comercial que molda as nossas interações e comportamentos, diz.

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A análise de Victor ainda não acabou. O professor tem planos de escrever um artigo sobre o tema. “Quero comparar outros recortes, saindo da periferia e entendendo como o tema está presente nos outros setores da sociedade. Quero que o artigo seja capaz de expandir a pauta, respondendo as nossas dúvidas além de oferecer suporte aos problemas da nossa juventude”, diz.

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