O caso de Isabela Miranda, estuprada por cunhado e queimada pelo namorado

Universitária de 19 anos foi estuprada, espancada e queimada 5 dias antes do Dia da Mulher e 7 dias antes de seu aniversário de 20 anos.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 31 out 2024, 02h24 - Publicado em 9 mar 2019, 10h06

Pode ser que você já tenha escutado falar sobre a Isabela nos últimos dias. Ou talvez essa história cruel ainda não tenha chegado ao seu conhecimento. Se a sua for a segunda opção, é melhor preparar o estômago e o coração, porque é impossível conhecer esse caso e não ficar com aquele sentimento de que a humanidade está definitivamente perdida. Isabela Miranda de Oliveira tinha apenas 19 anos, cursava faculdade de Administração e trabalhava em uma multinacional. No Facebook, costumava compartilhar publicações de amor como uma clássica fã de romances e sempre pedia mais respeito às mulheres, mas teve seus planos e sonhos interrompidos ao entrar para a triste estatística do feminicídio.

Reprodução/Facebook

Fazia um ano que estava namorando com William Felipe Alves, de 21 anos. Os dois estavam em uma chácara na noite do último domingo (3), em Franco da Rocha, São Paulo, quando Isabela passou mal após consumir bebidas alcoólicas. A universitária, então, foi até um dos quartos da casa para descansar e acabou dormindo.

De acordo com testemunhas, Leonardo da Silva, cunhado de William, teria se aproveitado da situação para deitar-se ao lado de Isabela na cama e abusar sexualmente da garota enquanto ela estava inconsciente. Um pouco depois, o namorado entrou no quarto e flagrou a cena, assumindo que a relação era consensual e que se tratava de uma traição. Irritado, William começou a espancar Isabela, contando ainda com a ajuda da irmã dele. Foi aí que ele colocou fogo no colchão e na própria namorada junto. Isabela teve mais de 80% do corpo queimado e não resistiu aos ferimentos.

Dias antes de ser atacada, Isabela compartilhou esta publicação em seu Facebook. Facebook/Reprodução
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William foi preso em flagrante no mesmo dia e o caso foi registrado como lesão corporal e tentativa de homicídio qualificado na delegacia de Franco da Rocha. Ele passou pela audiência de custódia e teve a prisão decretada pela Justiça. “Aqui estamos velando seu corpo, abraçando seus pais e dizendo a eles: força! Que força terá um pai e uma mãe em perder uma filha desta forma? Coroas e mais coroas chegando, pessoas chorando pasmas e tentando entender tamanha crueldade. A mesma história se repete a cada roda que passo: ‘Leandro a estuprou, a cunhada e o namorado a espancaram e depois o fogo'”, escreveu uma tia de Isabela, no Facebook.

Seguindo aquele ditado não popular “desapontada, mas não surpresa”, é preciso ressaltar que muitas pessoas tentaram culpar Isabela pelo o que havia acontecido após a repercussão do caso, como se o crime fosse justificável se realmente houvesse uma traição. Caso ainda reste alguma dúvida: não é. O portal R7, inclusive, publicou a nota do caso com a manchete “Jovem tem 80% do corpo queimado após ser flagrada na cama com o cunhado”, abrindo margem e dando a entender que a culpa era da vítima. Com a onda de comentários apontando o título irresponsável, o veículo fez a alteração na matéria. Mas, ainda assim, o erro fica na memória. Um erro que não deveria persistir em pleno 2019.

Por coincidência ou não, Isabela compartilhava publicações pedindo mais respeito às mulheres dias antes de ser atacada. A jovem foi estuprada, espancada e queimada viva na mesma semana em que se “comemora” o Dia da Mulher e apenas uma semana antes de completar 20 anos. Seja mesmo coincidência ou não, a morte de Isabela Miranda nesta semana do ano é o suficiente para nos lembrar de que não existe nada a ser comemorado. Já se foram séculos de luta, mas ser mulher ainda é um pesadelo em qualquer lugar do mundo.

Foi Isabela, mas podia ter sido qualquer uma de nós. Parem de nos matar. #NenhumaAMenos

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