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No Amazonas, estudantes ribeirinhos vão até a escola para ter aulas EAD

Zahyra Garrido, de 15 anos, conta como é seu dia a dia de aluna do Ensino Médio em Tumbira, uma comunidade ribeirinha no coração da Amazônia

Por Isabella Otto 8 ago 2022, 15h17
Estudante ribeirinha do Amazonas posa na fachada da escola em que estuda, de madeira. A menina é lora é tem 15 anos.
Isabella Otto/Reprodução

Já imaginou sair de casa e ir até a escola para ter uma aula em formato EAD? Parece surreal e até contraditório, mas é o dia a dia de muitos estudantes do Amazonas, como Zahyra Garrido, de 15 anos, que vive na comunidade ribeirinha Tumbira, no coração da Amazônia, e estuda na Escola Estadual Eugene Lovejoy.

Foi em 2013 que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável às margens do Rio Negro formou a sua primeira turma de estudantes do Ensino Médio. Até então, os adolescentes que quisessem seguir com os estudos precisavam se deslocar de barco para outras comunidades ou partir rumo a Manaus, o que dificultava bastante o acesso à educação, por razões socioenonômicas.

Quando o assunto é faculdade, o cenário afunila ainda mais: tem que ir para as cidades grandes, caso queira fazer uma graduação e tenha condições financeiras para isso. Do contrário, a saída é continuar nas comunidades ribeirinhas e seguir o legado familiar, no ramo da pesca ou do turismo, por exemplo.

Estudante ribeirinha do Amazonas posa sentada em uma carteira, na sala de aula
Isabella Otto/Reprodução

Zahyra, que cursa o 1º ano do EM, tem vontade de fazer Design ou Marketing Digital, e já conversa com a família sobre essa possibilidade. De alguma maneira, a jovem é privilegiada, pois mora a poucos minutos do colégio e consegue chegar a pé, enquanto colegas precisam se deslocar de barco de outras comunidades e até enfrentar banzeiros [ondas que se formam quando o rio está agitado] para conseguir assistir à aula.

 

Na Eugene Lovejoy e na maioria das escolas ribeirinhas do Amazonas, o ensino funciona da seguinte maneira: existe um mediador em sala, que cuida da interatividade entre a turma e os professores que lecionam as matérias em uma base em Manaus. As aulas são transmitidas simultaneamente via satélite para vários colégios, que também interagem entre si. Zahyra conta que sua turma física tem poucos alunos, mas que a virtual chega a reunir cerca de 200 estudantes de todo o estado.

Recentemente, um grêmio estudantil foi criado pelos estudantes de Tumbira, e Zahyra se tornou a presidenta dele! Empolgada, ela conta que é responsável por pensar em melhorias para todas as turmas. “Uma das nossas propostas é fazer um arraial da escola agora em agosto. Vamos organizar e cuidar de algumas barracas, ir atrás de prêmios e etc, para arrecadar fundos para a escola, que precisa de ventiladores”, explica.

Estudante ribeirinha do Amazonas posa em frente a um mural com os dizeres
Isabella Otto/Reprodução

No Amazonas, durante o Verão, a sensação térmica pode superar a casa dos 40º. Como a escola estadual é de maneira, as salas podem se tornar verdadeiras estufas, mesmo que haja grandes janelas fazendo a ventilação. Fora isso, Zahyra explica que às vezes há falta de material escolar, tanto para os alunos quanto para os professores, e de coletes salva-vidas para os estudantes que vêm de barco de outras localidades.

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O cenário pode parecer, no mínimo, curioso para você que mora em grandes centros urbanos (só não vale romantizar, tá?), mas a educação é levada muito a sério dentro do Tumbira. É claro que Zahyra tem seus momentos em que sente também preguiça de ir para a escola, algo que afeta todos os estudantes do globo, até aqueles mais aficcionados, mas ela valoriza demais a educação mais justa que conquistou junto de sua comunidade ribeirinha, e que não deveria ser um privilégio, uma vez que é um direito.

 

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É nessas horas que percebemos o quanto as periferias brasileiras estão conectadas, estejam elas nas margens de um rio ou no alto de um morro. “Por mais difícil que esteja, não desista dos seus sonhos nem dos seus objetivos”, encoraja a jovem.

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