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Não confie em quem insiste em dizer que a pandemia de coronavírus é fake

Não há mais justificativas para acobertar tamanho ato de irresponsabilidade, falta de empatia, ignorância e, em alguns casos, tristemente, pura maldade

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 23h47 - Publicado em 29 jul 2020, 09h40

São mais de 16 milhões de casos confirmados de COVID-19 no mundo e mais de 660 mil mortes em decorrência da doença. Estados Unidos, Brasil e Índia seguem sendo os países com maior número de infectados e mortos pelo novo coronavírus, cujas vítimas não são apenas pacientes do grupo de risco. Ainda assim, algumas pessoas insistem em dizer que o vírus não existe ou então que não é assim tão perigoso, e que a pandemia é uma fake news inventada principalmente por aqueles que querem quebrar a economia.

No último dia 14, o canal de YouTube Chad Goes Deep postou um vídeo que mostra dois jovens rapazes tentando realizar uma missão praticamente impossível: distribuir gratuitamente máscaras para pessoas que não estavam usando o item de proteção nas ruas.

A maioria dos abordados reagiu de maneira feroz e trouxe para a discussão argumentos que não têm a ver com a pauta, que é a pandemia. Quando questionada sobre se gostaria de uma máscara, uma senhora respondeu: “Eu sei para onde eu vou quando morrer, e vocês?”, como se a atitude dos rapazes fosse um verdadeiro pecado que os condenasse ao inferno.

Todos os que se negaram a receber o equipamento usaram também como desculpa o livre arbítrio, ignorando completamente o fato de que as máscaras não protegem somente aqueles que a usam, mas principalmente os outros. “Vocês acreditam nas máscaras, eu não. Me deixem em paz”, disse um dos homens sem empatia abordados. Mas a questão é que não dá para deixar pra lá.

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As máscaras faciais são um dos itens mais baratos e eficazes no combate ao coronavírus. Apesar disso, aqueles que não acreditam nelas curiosamente tendem a confiar em medicamentos que são bem mais caros e não apresentam eficácia comprovada contra o vírus. É o caso da hidroxicloroquina, tão defendida no Brasil pelo presidente Jair Bolsonaro, que testou três vezes consecutivas positivo para a COVID-19, mesmo fazendo uso e propaganda [enganosa?] do remédio. Coincidentemente, ou nem tanto, a população brasileira é a que mais acredita que a cloroquina é a cura da doença, perdendo apenas para a Índia, segundo levantamento realizado pelo Ipsos recentemente.

John e Mary Boxer quando se casaram, em 1960. Recentemente, Mary morreu de COVID-19 enquanto seu marido, John, era velado, também vítima da doença Elaine Boxer/BBC News Brasil/Reprodução

Outra notícia que vale ser abordada nesta reflexão é que uma das postagens com melhor desempenho no Facebook, ou seja, com maior engajamento, é justamente uma fake news, que foi excluída pela plataforma na última segunda-feira (27). Diz muito, não? O vídeo, que foi inclusive compartilhado por Donald Trump, presidente dos EUA, mostra vários médicos que diziam estar na linha de frente do coronavírus falando que “você não precisa de máscara, há uma cura, (…) a cloroquina”. A postagem foi feita pelo site Breitbart News, famoso por ter um viés político de extrema direita. As alegações foram desmentidas pela maioria dos especialistas, inclusive pela OMS, que tiveram como base dados científicos, e a postagem foi retirada do ar por se tratar de uma notícia falsa. “Removemos o vídeo por compartilhar informações falsas sobre curas e tratamentos para a COVID-19”, informou um porta-voz do Facebook à CNN.

Na história, durante as mais diferentes pandemias que acometeram a humanidade, sempre existiram aqueles que se negavam a acreditar nelas, que diziam que elas eram inventadas por pessoas que queriam tirar vantagem ou então eram maximizadas, não sendo assim tão graves. Hoje, apesar de as fake news serem disseminadas com mais facilidade na internet, a democratização da informação e do conhecimento faz com que sejam também mais facilmente identificadas. Antigamente, as notícias falsas se tornavam lendas e eram desmentidas com maior dificuldade – quando eram! O acesso a informações e, o que é mais importante, a informações verídicas, era mais complicado. Apesar de tudo, ainda hoje há aqueles que acabam prejudicando outras pessoas por essa maldade ou, no menos ruim dos cenários, por pura ignorância ou ingenuidade.

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A maioria das pessoas abordadas no vídeo publicado no canal Chad Goes Deep é formada por homens brancos e visivelmente estáveis financeiramente, já que estavam passeando na praia e pareciam pouco preocupados com as consequências econômicas e socioculturais da pandemia, apesar de usarem elas como desculpa para serem irresponsáveis em diversas situações. Caso acometidos pelo vírus, eles terão condições de se tratar nos melhores hospitais e comprar remédios caros, mesmo que ineficazes, caso necessitem, ao contrário daqueles que não têm condições para isso e, mesmo que com muito custo, seguem à risca as medidas de segurança contra o coronavírus.

Difícil confiar nesses que, por qualquer que seja a razão (política, religiosa, ideológica, cultural, etc), preferem se deixar enganar por notícias falsas e escolhem não ser empáticos em um mundo já tão pouco amistoso para tantos. Porque checar a credibilidade de uma informação e ter empatia são, sim, opções (que infelizmente nem todos estão dispostos a levar em consideração), diferentemente do uso de máscaras e do respeito ao próximo, que são deveres – e mínimos – de todo e qualquer cidadão.

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