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10 mulheres perseguidas durante a História por serem consideradas bruxas

Neste Dia das Bruxas, uma homenagem a algumas figuras femininas que foram acusadas de bruxaria por incomodar e assustar de alguma forma o frágil patriarcado

Por Gabriela Junqueira 31 out 2020, 10h15
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Divulgação/CAPRICHO

Durante quatro séculos, muitas mulheres foram perseguidas pelos Tribunais da Inquisição, instaurados pela Igreja, e sentenciadas à morte, sendo queimadas vivas em fogueiras, por serem consideradas bruxas. Tais mulheres, contudo, tampouco voavam em vassouras, faziam feitiços malignos, raptavam crianças ou tinham verrugas na ponta do nariz. Elas eram, em suma, mulheres independentes, inclusive financeiramente, que tinham conhecimentos sobre o corpo e a saúde feminina, como as parteiras e as curandeiras, ou então tinham o costume de se reunir em grupos para conversar e trocar conhecimentos. Para os homens e a Igreja, essas reuniões eram consideradas perigosas. Afinal, na Idade Média, mais do que nunca, o conhecimento era algo destinado aos homens, que não gostavam de sentir seus privilégios ameaçados.

A perseguição chegou a ser tão intensa que, em determinado momento, bastava ser do sexo feminino para ficar exposta a ela. “Em Salem, uma média de 14 entre 19 pessoas que eram consideradas culpadas e executadas por bruxaria eram mulheres. E, mesmo quando os homens enfrentavam alegações do tipo, era normalmente porque estavam de alguma forma associados às mulheres acusadas”, afirma a professora Bridget Marshall, da Universidade de Massachusetts. Assim, pode-se dizer que a caça às bruxas foi uma tentativa de restringir o acesso das mulheres à educação, assim como a participação delas na vida política e religiosa.

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Estima-se que mais de 40 mil mulheres tenham sido perseguidas e executadas por enforcamento, afogamento ou na fogueira, sob acusação de bruxaria. Mas, afinal, quem eram essas “bruxas”? A gente te conta a história de dez delas a seguir:

1. Joana D’Arc

Joana D’Arc nasceu na França, em 1412, e desempenhou um importante papel durante a Guerra dos Cem Anos, lutando por seu país. Depois de ter visões, que a orientaram a se juntar ao exército francês, cortou o cabelo e se vestiu com roupas masculinas para poder se alistar. Joana chegou a liderar tropas e guiou o exército em vitórias importantes para a França!

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Após ser capturada em uma batalha, foi vendida para a Inglaterra e acusada de heresia e bruxaria pelos tribunais inglês e francês, e condenada a morte aos 19 anos. Em 1931, quando foi levada à fogueira, enquanto o povo a chamava de “bruxa” e “mentirosa”, ela dizia “Jesus” até não conseguir mais.

2. Maria da Conceição

Maria da Conceição foi uma mulher brasileira que estudava ervas medicinais e usava seu conhecimento para ajudar outras pessoas. Sua forma de cuidar e ajudar os doentes incomodou poderosos, como a Igreja, representante máxima de poder na época. Um padre paulista chamado Luís acusou Conceição, em 1798, de bruxaria pelo seus saberes e a forma como ajudava os pacientes. Ela foi condenada à execução em praça pública, que aconteceu na região do Largo do São Bento, em São Paulo.

3. Ana Bolena

A Rainha Ana Bolena, segunda esposa do Rei Henrique VIII da Inglaterra, foi acusada pelo próprio marido de bruxaria por ter o incentivado a separar a Igreja do Estado, e não ter dado à luz um menino. Por ela ter sofrido um aborto e ter seis dedos em uma das mãos, a acusação de bruxaria ganhou mais força e Ana Bolena foi condenada e degolada em 1536, em Londres.

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4. Elisabeth Plainacher

Elisabeth Plainacher foi morta aos 69 anos, em 27 de setembro de 1583. Depois da sua filha morrer, a senhora se tornou a responsável pelas suas quatro netas. Anna, uma das crianças, sofria de epilepsia – e, na época, a doença era vista com um sinal do demônio. A avó foi denunciada por bruxaria e levada para Viena, onde foi interrogada por um inquisidor jesuíta chamado Georg Scherer. Ele fez um exorcismo na jovem e disse que mais de 12 mil demônios saíram de seu corpo. Não se sabe se, na sequência, as convulsões cessaram ou não. Assim mesmo, Elsa, como Elisabeth era conhecida, foi duramente torturada e acabou aceitando que cometeu o crime, sendo sentenciada à morte na fogueira. Até hoje, este é o único caso de execução por feitiçaria em Viena. O corpo de Plainacher foi jogado no rio Danúbio.

5. Anna Hibbins

Após ganhar uma ação judicial movida contra um grupo de carpinteiros que trabalhou em sua casa, a Igreja começou a ver Anna Hibbins de forma negativa e decidiu abrir um inquérito contra ela, a excomungando e dizendo que ela estaria roubando a autoridade do marido.

Alguns meses depois, seu segundo marido, um rico comerciante chamado Willian Hibbins, morreu e ela foi acusada pela Igreja de bruxaria e condenada à morte. Por sua posição social, Anna chegou a ter defensores, como o ministro proeminente John Norton, que afirmou que “ela foi enforcada [em um parque de Boston, nos EUA, em 1656] apenas por ter mais inteligência do que seus vizinhos”.

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6. Ursulina de Jesus

Ursulina de Jesus viveu no século XVII, em São Paulo, na companhia de seu marido, Sebastiano de Jesus, um homem que possuía uma posição importante na elite da sociedade paulistana. Após um tempo juntos, Sebastiano, que era estéril, acusou sua esposa de ser uma bruxa e de ter usado sua magia para o impedir de ter filhos. A situação deste caso só piora quando se descobre que o cara tinha uma amante, Cesaria, que inclusive participou do Tribunal da Inquisição e depôs contra Ursulina, que foi considerada culpada por uso magia e heresia, sendo condenada à fogueira.

7. Tituba

Tituba foi uma mulher negra escravizada que viveu no século XVII e foi julgada como uma das mulheres acusadas de bruxaria em Salem. A caça às bruxas na cidade começou após a filha do reverendo local, Samuel Parris, ficar doente e apresentar sintomas estranhos. Em seguida, a sobrinha do reverendo de Salem também adoeceu. Em uma época em que grande parte das questões eram explicadas através da religião, foi alegado que a doença tinha origem demoníaca e que havia sido provocada por três mulheres, entre elas, Tituba, escrava de Parris.

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Mulher se defende de acusação de bruxaria durante tribunal de Salem MPI / Correspondente/Getty Images

Depois de ser interrogada e espancada, Tituba aceitou a culpa e entregou o nome de outras mulheres que estariam envolvidas no caso, provavelmente como uma tentativa de escapar da pena de morte. Não teve jeito. Tituba foi presa e até hoje não existe um consenso entre os historiadores sobre o que teria acontecido depois com ela, que simplesmente sumiu do mapa.

8. Elizabeth Clarke

Elizabeth era uma mulher de 80 anos que vivia na Inglaterra e foi perseguida em 1645 pelo general Matthew Hopkins. As acusações de bruxaria começaram após a denúncia de um alfaiate, e Hopkins foi nomeado, ao lado de John Stearne, para investigá-la. Por ter apenas uma perna e algumas verrugas espalhadas pelo corpo, o General disse que Clark carregava consigo a marca do diabo. Após ser torturada e privada de dormir por várias noites, ela disse aceitar ser culpada e foi condenada à forca, enfim obtendo paz.

9. Amina bint Abdul Halim bin Salem Nasser

Se para você a caça às bruxas é algo que ficou na passado, saiba que até hoje ela acontece em alguns lugares, como na Arábia Saudita. Em dezembro de 2011, Amina bint Abdul Halim bin Salem Nasser foi foi executada na província de al-Jawf depois de ser acusada de feitiçaria e bruxaria pela Justiça islâmica.

Mais informações sobre o caso foram ocultadas, como geralmente ocorre, mas sabe-que que a mulher tinha mais de 60 anos. Segundo informações da Associated Press, o assassinato de Amina foi o 76º ocorrido na Arábia Saudita naquele ano, previsto por uma espécie de Tribunal da Inquisição dos tempos modernos (mas não tão modernos assim). “A acusação de feitiçaria é usada com frequência na Arábia Saudita para punir pessoas, geralmente depois de julgamentos injustos, por exercerem seu direito de liberdade de expressão ou religião”, explicou Philip Luther na época, diretor interino do programa da Anistia para o Oriente Médio e norte da África.

10. Adolfina Campos

Adolfina Campos vivia na aldeia Tahehyi, a aproximadamente 290 km de Assunção, capital do Paraguai, quando Sergia, sua irmã, adoeceu e Adolfina passou a ser acusada de bruxaria. Como a irmã não melhorava de jeito nenhum, um grupo, formado em sua maioria por indígenas homens, matou a suposta bruxa com as próprias mãos, atacando-a com flechas de madeiras e depois queimando-a em uma fossa com lenha incendiada. Adolfina tinha 45 anos quando o crime foi cometido, em novembro de 2014.

Ao analisar a história de cada uma dessas mulheres acusadas de bruxaria, é possível perceber alguns padrões. Elas eram, em suma, mulheres que tinham acesso a conhecimentos que eram até então privilégio dos homens, tornando-se assim ameaças. Elas também acabavam recebendo a culpa por episódios que o homem insistia em explicar usando a religião, não a ciência. Sem contar que, em muitos casos, essas mulheres eram perseguidas simplesmente por apresentarem algumas deficiência física ou por não se encaixarem em um padrão de beleza. Também é importante destacar que a maioria das vítimas da Inquisição “confessava” seus crimes após ser torturada, numa tentativa de acabar com o sofrimento, continuar viva ou até salvar a vida de alguém.

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