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Luisa Sonza comenta acusação de racismo e cita privilégios; entenda o caso

Cantora falou sobre ter confundido mulher negra com empregada: "Não tenho medo de colocar meus privilégios à disposição pra diminuir qualquer discriminação"

Por Isabella Otto Atualizado em 20 set 2022, 12h16 - Publicado em 20 set 2022, 12h10
Luisa Sonza se apresentando no Rock In Rio. Ela veste uma roupa preta de couro e um efeito especial de fogo sai na frente dela
Buda Mendes/Getty Images

O nome de Luisa Sonza voltou a ganhar os noticiários nesta semana, devido a uma denúncia de racismo feita contra a cantora em 2020, referente a um episódio ocorrido em 2018, na Pousada Zé Maria, em Fernando de Noronha.

Uma audiência do caso estava marcada para acontecer de forma virtual na última quarta-feira (14), mas acabou sendo adiada, após o link da reunião vazar. Uma nova audiência foi marcada, desta vez de forma presencial, mas não teve a data divulgada.

 

Na noite desta segunda (19), a cantora se pronunciou pela primeira vez nas redes sociais após todas as polêmicas envolvendo seu nome: “Eu não tenho medo de colocar os meus privilégios, que reconheço que tenho, à disposição para chamar atenção para essas questões sociais e tentar diminuir qualquer tidpo de discriminação”, escreveu em carta aberta.

Sonza ainda ressaltou que está respondendo um processo por danos morais, não um criminal. Ou seja, embora tenha sido denunciada pelo crime de racismo, referente à Lei Nº 7.716, a Justiça entendeu que não cabia uma pena de prisão neste caso, bastando o pagamento da indenização contra a parte lesada.

O sumiço da artista também foi explicado por Luisa: “Precisava desse tempo para refletir, conversar com as pessoas e entender melhor algumas questões”, esclareceu a artista, que agradeceu àqueles que cobraram um parecer dela e revelou que solicitou uma audiência especial para resolver amigavelmente o processo, acatando o valor [de R$ 10 mil] pedido pela Autora.

O QUE ACONTECEU

A advogada Isabel Macedo registrou em 2020 um boletim de ocorrência contra Luisa Sonza, após declarar que havia sido vítima de discriminação racial em uma festa na badalada Pousada Zé Maria, em Fernando de Noronha, em 2018.

Em entrevista para a repórter Thais Bernardes, do site Notícia Preta, a vítima contou que estava celebrando seu aniversário quando tudo ocorreu: “Ao voltar do banheiro, fiquei próxima do palco para ouvir a música. Era meu aniversário, e eu tinha viajado sozinha. Estava dançando, me divertindo e aproveitando a festa. Por um acaso, parei atrás da Luisa. No evento tinham vários famosos, mas nem sabia quem era ela. Nunca tinha ouvido falar. Foi então que ela virou, bateu no meu ombro e disse: ‘Pega um copo d’água pra mim?’. Eu respondi que não tinha entendido, ela repetiu a frase e completou: ‘Você não trabalha aqui?’“, disse.

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Macedo contou que, assim que percebeu o que tinha acabado de fazer, Luisa falou de maneira apressada que não era nada daquilo que a advogada estava pensando, ao que Isabel retrucou: “Disse que ela nunca sentiria o que eu estava sentindo, pois nunca seria confundida com as pessoas que servem nas festas que ela frequenta”.

Ainda em entrevista concedida para o Notícia Preta, a única dada pela vítima, a advogada explicou que nunca quis conversar com outros veículos de comunicação ou expor o caso nas redes sociais, pois seu intuito não era ganhar dinheiro ou fama com a denúncia – como, na época em que a acusação veio à tona, o até então advogado de Sonza, José Estavam Macedo Lima, deu a entender.

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“Minha intenção com a ação é que isso tenha um caráter pedagógico, embora não tenhamos obrigação alguma de ensinar nada ao branco. Minha intenção com essa ação é que ela aprenda(…) Por que a branquitude sempre nos enxerga nessa posição de serviçal? Por que nos entendem como pessoas que só podem servi-los mas nunca como pessoas que podem consumir, viver e viajar como eles?”, questionou.

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Isabel relatou também ter sido vítima de discriminação racial na delegacia, quando foi registrar o B.O.: “A inspetora, loira, começou a dizer que eu não era negra, que era morena, que não era bem assim. Eu querendo registrar como racismo e ela queria dizer que era injúria racial. Consegui fazer o boletim de ocorrência como racismo e anexei prints que fiz do Story de uma artista, onde eu aparecia atrás da Sonza”, informou.

RACISMO OU INJÚRIA RACIAL?

Por muitos momentos, os crimes de injúria racial e racismo são confundidos, mas há uma diferença básica entre eles: enquanto uma injúria racial é direcionada a um indivíduo especifico, uma ação racista é praticada contra um coletivo – por mais que direcionado a uma pessoa. Este é justamente um dos motivos pelos quais não existe racismo reverso, porque a branquitude sempre ocupou o topo da pirâmida socieconômica e nunca foi escravizada por sua cor de pele. Logo, não há discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional em jogo.

 

Exemplificando com o caso de Luisa Sonza, Isabel Macedo foi confundida com uma garçonete por ser uma mulher negra – e, muito provavelmente, uma das únicas naquele espaço em que estava ocupando: uma pousada cara de Fernando de Noronha, que também já é um destino elitizado.

O fato da artista ter pedido para a advogada servir-lhe é bastante significativo e evidencia o quanto o racismo estrutural faz vítimas diárias e ainda está, de alguma forma, muito intrínseco na realidade das pessoas brancas, por mais que elas sejam apoiadoras de causas sociais e raciais, como disse ser a artista.

A atitude da delegada que registrou o caso de Isabel, e o fato dela insistir em registrar o caso como injúria racial, não como racismo, também escancara o racismo sistêmico da nossa sociedade.

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