Continua após publicidade

Katie Bouman: quem é a cientista por trás da 1ª imagem de um buraco negro?

Todo mundo viu a imagem nos últimos dias, mas o que pouca gente sabe é que uma jovem pesquisadora é uma das principais responsáveis pelo marco na ciência.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 13 abr 2019, 10h03 - Publicado em 13 abr 2019, 10h03

Você pode não saber muito ou até sequer ter ouvido falar sobre Katie Bouman, mas certamente viu o resultado de um dos seus estudos: a primeira imagem já tirada de um buraco negro. Representando um marco na história da ciência, a foto percorreu todas as redes sociais e veículos de comunicação, mas poucos deram atenção para o fato de uma mulher ser uma das principais responsáveis pela conquista – assim como já aconteceu em outros marcos da ciência. Por isso, a CAPRICHO reuniu todas as informações possíveis sobre Katie para dar a ela o merecido reconhecimento pelo feito e mostrar porque essa representatividade é tão importante.

Primeira imagem de um buraco negro que alguém já conseguiu produzir. Event Horizon Telescope (EHT)/Reprodução

Katherine Louise Bouman tem 29 anos e é formada em Ciências da Computação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Além disso, também cursou graduação em Engenharia Elétrica na Universidade de Michigan. Sua dissertação de mestrado, intitulada Estimando as Propriedades Materiais do Tecido Através da Observação do Movimento, recebeu o Prêmio Ernst Guillemin de Melhor Tese de Mestrado. Foi nessa época, com apenas 27 anos, que Katie apresentou a fórmula para o algoritmo que mais tarde permitiu a captura da primeira imagem do buraco negro.

Como membro da Event Horizon Telescope Collaboration, grupo do MIT, Katie passou a liderar a equipe de 200 cientistas na tentativa de extrair dados dos radiotelescópios. De acordo com o jornal Washington Post, ela estava trabalhando no algoritmo há quase 6 anos.Eu tenho interesse em como podemos ver ou medir coisas que são consideradas invisíveis para nós”, ela disse ao jornal. Atualmente, Katie é pesquisadora de pós-doutorado no Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica e é professora no departamento de Computação e Ciências Matemáticas do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

Chamado de CHIRP, o algoritmo criado por Katie combinou as imagens obtidas por 8 telescópios ao redor do mundo e coletou 8 petabytes de dados para chegar ao resultado final. Esses dados, que estavam em discos rígidos e pesavam centenas de quilos, foram organizados usando o sistema criado pela jovem cientista. De acordo com o MIT, pode existir ruídos por conta de interferências atmosféricas quando três telescópios fazem a medição de um mesmo local, mas o sistema consegue retirar as imagens muito diferenciadas. Ou seja, o trabalho consiste em filtrar uma imensa montanha de dados coletados por vários telescópios para construir uma única imagem. Sendo assim, quanto mais imagens existem de um mesmo local, mais fácil para o algoritmo conseguir reconstruir e refinar as imagens para criar a foto do buraco negro.

Segundo pesquisadores, o buraco negro captado na imagem possui 40 bilhões de quilômetros de diâmetro, um número aproximadamente 3 milhões de vezes maior que o tamanho do planeta Terra. Até então, ninguém havia conseguido capturar uma imagem dele.

Katie Bouman e a primeira imagem de um buraco negro. Facebook/Reprodução

Após a repercussão do resultado final do projeto, Katie compartilhou uma foto em seu Facebook com a legenda: “Observando, incrédula, a primeira imagem que eu já fiz de um buraco negro que estava em processo de reconstrução”. Mas, embora tenha tido um papel essencial e indispensável na liderança do marco, ela não quer que o crédito da conquista fique todo para ela. “Foi preciso o incrível talento de uma equipe de cientistas de todo o mundo e anos de trabalho duro para desenvolver o instrumento, o processamento de dados, os métodos de imagem e as técnicas de análise necessárias para realizar essa façanha aparentemente impossível”, escreveu na rede social.

Continua após a publicidade

No Twitter, o MIT publicou a foto de Katie com os discos rígidos que continham os dados usados para alcançar o marco. Ao lado dela, estava uma imagem de Margaret Hamilton ao lado de uma enorme pilha de papéis, cientista responsável por escrever o código do algoritmo que levou o homem até a Lua pela primeira vez. Você já ouviu falar dela?

Na ciência, na engenharia ou qualquer outra área que tenha muitos homens, ser mulher é uma tarefa extremamente ainda mais difícil. Você precisa se conformar com o fato de ser, às vezes, a única representante feminina. Se você alcança alguma conquista, nem sempre o reconhecimento vai inteiramente para você – e se um pouco dele for, já parece um exagero para outras pessoas. Os nomes de Margaret e Katie, por exemplo, só ganham verdadeiro reconhecimento de quem realmente se aprofunda no assunto além do básico. Ou será que o nome de Margaret é tão conhecido por pessoas distantes da área quanto o nome do primeiro homem a pisar na Lua?

Depois da primeira imagem de um buraco negro, muitas pessoas argumentaram que Katie estava recebendo mais crédito do que devia. Embora sempre tenha destacado a participação essencial dos colegas no marco, a cientista foi alvo de ataques sexistas e notícias falsas. Um texto compartilhado diversas vezes na internet sugere que um homem teria sido responsável por “850 mil das 900 mil linhas de código que foram escritas no algoritmo que levou à imagem do buraco negro”. Contudo, o estudante citado como autor no texto, Andrew Chael, afirmou em seu Twitter que a afirmação é falsa. “Então, aparentemente, algumas pessoas (espero que poucas) estão usando o fato de que eu sou o desenvolvedor primário da biblioteca de software que ajudou a criar a imagem do buraco negro para fazer ataques terríveis e sexistas à minha colega e amiga Katie Bouman. Parem“, escreveu. Andrew também disse que está emocionado em ver Katie sendo reconhecida e se tornando uma inspiração como um exemplo de liderança feminina.

Continua após a publicidade

Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive fazendo história dentro da ciência! E ninguém pode tirar esse mérito.

Publicidade