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Jessi merece respeito: não é porque a mulher ri que deixa de ser assédio

O ponto positivo é: pela primeira vez, a produção do reality não esperou algo pior acontecer para advertir Eliezer

Por Isabella Otto Atualizado em 4 mar 2022, 13h23 - Publicado em 4 mar 2022, 13h04

“Jessi merece respeito”: a tag foi um dos assuntos mais comentados do Twitter na última quarta-feira (3). Ela foi criada após Elieser cercar a sister na piscina do BBB22. Na situação, ele chega por trás na professora de biologia, tentando forçar um contato físico com ela – que, mesmo rindo, era possível perceber seu desconforto. “Por favor, para”, chegou a pedir.

Prints de Elieser, do BBB22, cercando Jessilane na piscina e forçando um contato físico
“Ah, mas a bebida e blá, blá, blá”… Não é não! TV Globo/BBB22/Reprodução

Parte do público entendeu o episódio como um caso de assédio e outra parte naturalizou a questão, pois Jessi pediu para Eli parar com o que estava fazendo, mas enquanto ria com outros colegas que estavam presenciando tudo. A produção interveio e deu um puxão de orelha no brother. Depois que o aviso apareceu em uma das televisões da casa, Jessi ficou preocupada e disse que tudo tinha sido uma brincadeira. Analisando todo esses acontecimentos, temos três cenários que são importantes serem analisados.

O primeiro diz respeito ao fato dos “risos nervosos” de Jessilane terem sido usados como justificativa para validar o comportamento de Elieser, que fica com a melhor amiga da sister no jogo. Muita gente usou esse argumento nas redes sociais. Mesmo que não seja um lance sério entre os dois, responsabilidade afetiva é o mínimo desejado, ainda mais quando uma das partes sabe que a outra está mais envolvida.

No caso, Natália já falou em diversos momentos que queria algo a mais e questionou por que Eli só a beija nas baladas. “Até quando o não vai ser relativizado? No caso da mulher, inserida em uma sociedade permeada pelo machismo, o não é sempre relativizado“, questionou a equipe de Jessi nas redes sociais após o episódio.

Vídeo na íntegra que mostra o desconforto de Jessilane e a quantidade repetitiva de vezes em que ela pediu para que o participante se afastasse e parasse. pic.twitter.com/HRQ5ZERfLu

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Outro cenário que precisa ser destacado é o de Jessi ter ficado aflita com a situação após ver o aviso da produção. Mais uma vez vemos uma vítima carregando uma culpa que não é dela. Jessi depois disse que pediu para Eli parar porque ficou encanada com a Nat – não com o contato forçado -, e a fala foi usada por muitos internautas para defender que o episódio não havia configurado assédio. Mas, novamente, não significa não. Eliezer foi inconveniente e gerou desconforto, sim.

Vamos ao terceiro cenário. Você sabe quando estamos na pista de dança e chega um garoto chato, insistente e pegajoso ao pé do ouvido? Várias vezes a gente não sabe direito como driblar aquela situação e acaba pedindo a ajuda de alguma amiga próxima, que pode estar rindo da sua tentativa de se desvencilhar dele. Não por mal, mas porque pode ficar uma cena meio cômica mesmo.

Só que o ponto é: relativizar essas situações de desconforto só normaliza situações incômodas. Nós precisamos nomear este incômodo, ele não deve ser comum ou entendido como natural. Nós nos vemos obrigadas a continuar aceitando comportamentos inconvenientes e até microagressões, especialmente por medo do julgamento (olha aí de novo uma culpa que não é nossa!).

Afinal, quando somos um pouco mais incisivas, acabamos sendo taxadas de grossas ou dizem que não sabemos “brincar” – embora algumas “brincadeiras” já tenham ficadas tão ultrapassadas que ninguém mais aguenta jogar. No mais, a TV Globo acertou em dar uma advertência ao brother no momento do ocorrido. Depois de outras situações, parece que o programa entendeu, de alguma maneira, que isso é inaceitável. Mas ainda é preciso fazer (bem) mais.

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