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Fleabag: o que uma protagonista perfeitamente imperfeita pode nos ensinar?

Apesar de caótica, entre dramas, amores, desilusões e piadas, essa série nos ensina valores bastante profundos da existência humana

Por Blog da Galera Atualizado em 14 set 2023, 19h01 - Publicado em 14 set 2023, 17h53
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Barbara Marcantonio/CAPRICHO

Oie, leitor! Eu sou Bernardo Luiz e hoje eu trouxe uma breve análise da minha série favorita: “Flebag“! Quando se trata de séries que ultrapassam a ficção e atingem o público em cheio, essa é, sem dúvida, uma obra-prima que conquistou os corações de muitos (incluindo o meu).

Criada e protagonizada por Phoebe Waller-Bridge, essa comédia dramática britânica conta a história de uma mulher sem esperança, solitária, sem nome e sem rumo em Londres, que tenta lidar com seus problemas familiares, amorosos e existenciais.

A obra traz muito mais que um humor inteligente; é uma jornada emocional de autodescoberta, perpassando por contradições, aberturas e fechamentos de ciclos e pelo entendimento da solidão humana. Por mais cotidiana que pareça a narrativa, a autora chama a atenção para questões que, muitas vezes, passam batidas. Por isso, quis trazer aqui o que eu aprendi com a série

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Atenção: tem spoiler!

GIF escrito
GIF/CAPRICHO

 

À primeira vista, a narradora-personagem, dona de uma cafeteria entrando em falência, pode parecer destemida e desapegada, mas, à medida que o enredo se desenrola, descobrimos que por trás de seu sarcasmo está uma profunda luta entre as lacunas não preenchidas de sua história e as tentativas inconsequentes de supri-las.

A verdade é que ela (Fleabag) sofre com questões nada fáceis, as quais se entrelaçam e se intensificam ao longo de sua trajetória. Primeiramente, ao abrir uma cafeteria junto de sua melhor amiga, Boo, infelizmente logo se depara com a trágica morte dela. A partir daí, tanto o estabelecimento, quanto a porquinha da índia, Hillary – presente de Fleabag à Boo – passam a ser a porta de entrada para os flashbacks e lembranças culposas da amiga após a repentina partida dela, já que, guarda certos arrependimentos em relação a como agiu com tal.

Ao passo que é visível a luta para manter de pé esse negócio tão significativo, é também apresentado a nós telespectadores a situação do passado e presente familiar da protagonista.

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Vem à tona a perda precoce de sua mãe, bem como o novo relacionamento de seu pai, com uma mulher focada em tirar a paz de toda a família, isso que ainda tem o casamento infeliz de sua irmã, Claire. Todos esses convivem nas situações mais esdrúxulas possíveis, nos arrancando risadas até em momentos de crise, como por exemplo, quando Fleabag tenta se reaproximar da irmã, reconquistar o amor do pai e encerrar o casamento/noivado de ambos.

Em suas curtas, porém impecáveis, duas temporadas, é percebido o desenvolvimento emocional da personagem, que, antes era um “saco de pulgas” (tradução literal de “Fleabag”), mas que, no fim, entende que confrontar o passado, traumas e culpa, e questionar suas ações e crenças, é uma parte essencial de seu autoconhecimento.

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Seus doze episódios exploram o humor e a dor de ser uma mulher moderna, que se sente pressionada a ser perfeita, mas que também é imperfeita, paradoxal e cheia de nuances, e toda a complexidade das emoções humanas, que nem sempre são fáceis de serem expressas ou compreendidas.

Neles, a quebra da quarta parede é utilizada justamente como forma de escancarar a solidão da protagonista. Em diversos momentos, por entre o luto de sua falecida mãe, assim como o de sua melhor amiga, ou a ausência de seu pai e tentativas de aproximação de sua irmã, ela nos convida a encarar a situação através de suas piadas e comentários, ao passo que encontra nessa “relação”, mais uma forma de escapar e se blindar da realidade ao seu redor. No amor, indiretamente derrama todo esse sentimento sobre romances rápidos e comportamento de compulsão sexual, até o momento em que se apaixona por um alguém inacessível… Padre! que mesmo inacessível, se tornou responsável por ensinar a maior lição da trama: tudo passa.

Como poderia um romance entre uma mulher e um padre dar certo? Não dando. Esse emblemático coadjuvante aparece na trama para puxar Fleabag de volta à realidade, inclusive, é o primeiro a perceber suas fugas para dentro de si, direcionadas ao público. Ele tem um papel primordial na libertação dela, no sentido de ser o eixo romântico, e desilusório ao mesmo tempo, o qual a coloca em situação de vulnerabilidade. A capacidade de se permitir não estar no controle é primordial para que ela abrace de vez a impermanência das coisas e decida seguir em frente sem tais escapatórias.

Desde que foi apresentada ao mundo em 2016, Fleabag é vista enquanto um ícone de autenticidade e sensibilidade. Ela é a personificação de nossa imperfeição humana, mostrando-nos que a “perfeição” reside justamente nas nossas falhas e contradições. Uma das principais lições ensinadas por ela diz sobre o autoperdão: essa nos mostra que é completamente normal e humano cometer erros, mas também nos instiga a enfrentar as consequências de nossas ações e aprender com elas. Ela nos ensina que o verdadeiro crescimento vem de dentro, através de ciclos que se encerram, da aceitação e do amor-próprio, mesmo quando estamos cara a cara com as partes mais sombrias de nós mesmos.

Enfim, a profundidade da série é pautada sobre a importância de aceitar a solidão como uma parte natural da existência humana e não como uma fraqueza. A protagonista percebe que, embora a solidão possa ser assustadora, ela não precisa ser um sinônimo de sofrimento. A inevitabilidade da vida, também não. São processos-base para se aceitar e se aprofundar na própria humanidade e celebrá-la junto da beleza que pode surgir depois dos términos, das tristezas e adversidades da vida, é só você dar espaço para que ela floresça.

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