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“Fantasias” que não são (mais) admissíveis serem usadas em festas

O próprio termo já remete a algo lúdico e fantasioso, e algumas coisas são reais e palpáveis demais para serem levadas na brincadeira

Por Isabella Otto 28 out 2022, 06h00

Será que o mundo ficou mesmo chatão ou hoje nós apenas temos acesso a reflexões que, antigamente, não eram feitas com tanta frequência e exposição – uma vez que as redes sociais não existiam?

Usar a desculpa de que, putz, você não sabia que aquela fantasia poderia ser ofensiva, não cola mais. O debate está sempre aceso, para quem quiser ouvir, ainda mais em épocas como Carnaval e Halloween. O fato é que algumas pessoas não fazem questão nenhuma de escutar.

gif de uma pessoa com os ouvidos tampados com as mãos, fazendo lalalalala
GIPHY/Reprodução

Pode ser que nem todo mundo veja problema nas caracterizações abaixo? Até pode. Mas é importante entender o contexto em que você está inserido hoje e que algumas fantasias podem ser bastante ofensivas – e até mesmo criminosas. Se for o caso, melhor pensar duas vezes! Afinal, são tantas as opções disponíveis no mercado, né?

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Abaixo, você confere uma lista com os principais tipos de vestimentas que, um dia, podem ter sido encaradas como fantasias, mas hoje, definitivamente, não são mais:

1. Personagens históricos de caráter duvidoso

É de praxe que no Halloween as pessoas deem uma esculachada a mais no look, usando a desculpa de que, no mês das bruxas, pode tudo. Até porque fantasias como Michael Myers e Freddy Krueger fazem sucesso! Importante destacar que estes são personagens fictícios de clássicos do terror, então tudo bem! O problema é quando você se caracteriza de algum personagem real digno de filme de horror, como Adolph Hitler, por exemplo. Isso porque, quando nos fantasiamos, geralmente prestamos automaticamente uma homenagem àquela figura. Geralmente, a gente se fantasia porque gosta ou pra fazer uma zoeira, não como ato de protesto ou coisa do tipo. Daí a pessoa vai lá e usa uma roupinha de Ted Bundy? De Goleiro Bruno? De Charles Manson? Suzane Von Richthofen? Não dá, né? Vale ainda destacar que qualquer tipo de apologia ao nazismo é considerado crime previsto em lei (nº 7.716/1989).

Pessoas fantasiadas de Goleiro Bruno, Charles Manson e Hitler
Reprodução/CAPRICHO

2. Personagens históricos ignorando o contexto em que viveram

Bora de exemplo prático? Pessoas adoram se fantasiar de Anne Frank. E realmente a garota foi uma figura admirável, que para sempre será lembrada. Agora, analise o contexto em que Anne esteve inserida: ela era uma judia que viveu durante o período da 2ª Guerra Mundial, teve sua mãe morta pelo nazismo, que morreu de inanição em Auschwitz, e precisou viver escondida e privada de seus direitos por conta de uma regime totalitário. Usar fantasias do tipo pode não ser a coisa mais problemática do universo, mas também não é de bom tom.

Pessoas fantasias de Anne Frank e judeu no campo de concentração
Reprodução/CAPRICHO

3. Blackface

Aqui o lance é histórico e cultural. Acredita-se que o blackface tenha sido criado por volta de 1830, quando algumas pessoas brancas começaram a pintar o rosto de preto para ridicularizar os negros, fazendo caricaturas grotescas de um povo e seus costumes. Por muitos anos, negros também foram impedidos de trabalhar no teatro, cinema e televisão, sendo interpretados por atores brancos que tinham a pele escurecida com maquiagem. Outro fruto podre da segregação racial. Temos ainda a questão da escravidão, que fala por si só. Outro fato envolvendo o blackface é a estereotipação de corpos negros femininos, na personagem da “nega maluca”. Isso porque mulheres pretas ou são hipersexualizadas ou são taxadas de raivosas e escandalosas. Temos também a questão do racismo recreativo, que é quando usa-se de um humor racista para propagar o racismo de forma menos escancarada, mas sempre pautada em cima da supremacia branca. Uma coisa é se vestir de alemã no Oktoberfest e outra bem diferente é “virar preto” durante algumas horas por brincadeira, sendo que diariamente pessoas negras morrem no Brasil vítimas do racismo estrutural e dos resquícios da escravidão.

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Pessoas fazendo blackface
Reprodução/CAPRICHO

4. Roupas que representam alguma simbologia religiosa e/ou cultural

Em 2020, a atriz Alessandra Negrini curtiu o Carnaval pandêmico em casa e postou nas redes sociais uma foto vestida de indígena. Pronto! Problematizaram até! Enquanto alguns diziam que ela tinha cometido apropriação cultural, outros defenderam a escolha em uma época em que se falava muito sobre o genocídio indígena. Inclusive, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil emitiu uma nota em defesa da atriz, dizendo que ela sempre “colocou seu corpo e sua voz a respeito da causa”. É difícil então dizer neste caso se há certo ou errado. Talvez uma cigana não se sinta ofendida de ver pessoas vestidas de ciganos no Carnaval. Talvez uma havaiana também não ligue. Mas talvez aquilo soe ofensivo para ela. Quando tratamos de culturas e religiões, é melhor evitar. Por isso, substitua a fantasia de indígena, havaiana, baiana, cigana, odalisca e etc, por outra.

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Pessoas vestidas de baiana, indígena e cigana
Reprodução/CAPRICHO

5. Fantasia de terrorista/homem bomba

Diversos criadores de conteúdo muçulmanos usam as redes sociais para lutar contra estereótipos com relação ao seu povo que, principalmente no Ocidente, é bastante generalizado. Fazer apologia ao terrorismo cai na mesma problemática de se caracterizar de personagens históricos de caráter duvidoso (vide item 1 da lista). Além disso, se vestir de mulher bomba é extremamente ofensivo para o muçulmanos, para os árabes no geral e para as famílias das vítimas.

Pessoas vestidas de terrorista e homem bomba
Reprodução/CAPRICHO

6. Fantasia de pessoa gorda

Fazer blackface em 2021 não dá mais. Assim como não dá achar que gente gorda é fantasia. Afinal, você estaria cometendo gordofobia em pleno 2021. Vestir-se de uma pessoa gorda é ironizar uma condição física e tornar aquela aparência, a principal vítima de padrões estéticos e de beleza, jocosa, digna de piada e até de pena. É inadmissível!

Pessoas vestidas de mulher gorda
Reprodução/CAPRICHO

7. Fantasia de pessoa LGBTQIA+

É a mesma coisa! Cometer LGBTQfobia em pleno 2021 não é sobre ser leviano; é sobre caráter. O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. A cada 23h, uma morte por homofobia é registrada no país. Em 2020, o assassinato de pessoas trans subiu 41%. Orientação sexual e identidade de gênero não são fantasias. A luta desses corpos não é acessório de festa.

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Pessoas vestidas de transsexuais
Reprodução/CAPRICHO

8. Vestes que remetem a orixás, santos ou qualquer outro tipo de figura religiosa

Todas essas figuras são sagradas, para alguns mais do que para outros, mas, de qualquer forma, mexer com a fé das pessoas é algo delicadíssimo. Santidades e divindades podem ser homenageadas, e são a todo o tempo, mas não são, nem de longe, a melhor opção de look para aquela sua festa à fantasia – especialmente, se a versão alugada for a “sexy”.

Pessoas vestidas de Jesus, pombagira e freira sexy
Reprodução/CAPRICHO
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