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Este conceito da Psicologia explica seu ‘dedo podre’ para relacionamento

A partir da 'química esquemática', é possível entender por que nos atraímos sempre pelo mesmo tipo de pessoa – isso vai muito além da aparência física, viu?

Por Juliana Morales Atualizado em 8 set 2024, 13h52 - Publicado em 8 set 2024, 13h00
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erá que não está na hora de parar de culpar o ‘dedo podre’ por todas escolhas ruins em relacionamentos e decepções amorosas? Escolher sempre o tipo de pessoa que te traz sofrimento não é questão de azar. Por trás disso, pode estar o que psicólogos que seguem a Terapia do Esquema chamam de ‘química esquemática’.

Como explica a psicóloga e psicoterapeuta do Esquema Helena Emerich, a química esquemática é o nosso nível de atração, muitas vezes, inconsciente pelas pessoas e que está ligado à busca pelo que é familiar – mesmo que seja ruim. “A partir desse conceito, conseguimos entender porque a gente se atrai por quem a gente se atrai”, diz a especialista em entrevista à CAPRICHO.

Imagine uma situação hipotética em que você tem que fazer uma escolha para se relacionar entre a pessoa 1, que é super querida, atenciosa e disponível para você, e a pessoa 2, que não se preocupa com você, e quanto mais ela some, parece que seu amor por ela floresce. Conscientemente, qual você escolheria?

Segundo Helena, se procurássemos os amores de forma mais consciente, sempre escolheríamos quem atendesse melhor às nossas necessidades (a pessoa 1, nesse caso), mas nem sempre é isso que acontece. Muitas vezes, ficamos presos em padrões emocionais que nos levam a repetidas situações de sofrimento.

A Teoria do Esquema

A Teoria do Esquema, desenvolvida por Jeffrey Young, propõe uma evolução aos conceitos já trabalhados pela Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Essa abordagem busca entender os padrões e o ambiente em que o indivíduo foi inserido para desenvolver determinado temperamento ou comportamento. 

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“Uma criança que foi exposta à muita negligência e muita violência, por exemplo, pode desenvolver esquemas emocionais ao longo da vida de desconfiança. Afinal, as pessoas que mais deveriam cuidar dela não fizeram isso, então é compreensível que ela se sinta insegura com todo mundo que tenta se aproximar dela”, explica a psicóloga.

Essa dinâmica, desenvolvida na infância e adolescência, acompanha ela até a vida adulta e reflete muito em suas relações. Muitas vezes, por mais que ela que ela tenha sofrido com essa situação, ela busca experiências semelhantes, só porque são familiares e ela já conhece. Isso impacta, inclusive, em quem nos atraímos e escolhemos nos relacionar amorosamente – aí que entra a discussão da química esquemática.

As armadilhas da química (esquemática)

Bruno Cardoso, psicólogo, terapeuta de relacionamentos e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que existe a química mais neurobiológica, que vai existir no processo de atração fisiológica – achar alguém muito bonito e atraente fisicamente – e uma química que é mais esquemática. Esta segunda, segundo ele, é mais cognitiva e está mais relacionada aos pensamentos e emoções. “Ela é muito complicada, porque traz algo muito familiar, mas que leva para o sofrimento”, diz.

O psicólogo explica que a química esquemática tem duas dimensões:  uma que é a atração e a outra, a ilusão. A atração, como já falamos aqui, pela busca do que é conhecido, já a ilusão é a expectativa idealizada sobre o outro. “Ela olha para outra pessoa não pelo o que ela realmente é, mas pelo o que ela espera que seja”, explica. Por isso, é tão comum que pessoas que tem essa química esquemática não percebam sinais de comportamentos tóxicos e abusivos, já que não estão enxergando a realidade mesmo, e, sim, presas em padrões emocionais presentes em suas histórias de vida.

Bruno escreveu um livro sobre o tema intitulado ‘Armadilhas da Química Amorosa’. Nele, ele e a psicóloga Kelly Paim destacam oito armadilhas muito comuns que perceberam em seus consultórios e que as pessoas insistem em cair em seus relacionamentos. Além de explicar melhor cada um desses sinais, o livro também traz exercícios para refletir sobre esse comportamentos. Em entrevista à CAPRICHO, ele listou, mais resumidamente, esses padrões que as pessoas precisam ficar atentas:

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Como corrigir o dedo podre?

Ao analisar o tal do ‘dedo podre’ a partir da perspectiva da Teoria do Esquema e da química esquemática, é possível pensar em maneiras de consertar esse problema.

Antes disso, vale entender que a Teoria do Esquema defende que todas as pessoas precisam que suas necessidades emocionais básicas sejam supridas por meio de vínculos saudáveis. São elas: 

Cada pessoa tem uma demanda diferente em relação a essas necessidades emocionais, com intensidades, frequências e afetos distintos, variando de acordo com seu temperamento e ambiente familiar. Diante dessa lista, Bruno aconselha que as pessoas parem para pensar e identificar suas necessidades emocionais e depois avaliar se as pessoas com quem escolhe para se relacionar estão indo em direção à essas necessidades ou não. A terapia é essencial nesse processo, viu? Aí será possível entender o que precisa fazer para quebrar padrões, mudar a história e construir relações mais saudáveis.

Isso não significa, no entanto, que você precisa se relacionar só com pessoas que você não sente atração. “Não é sobre você se esforçar para gostar de alguém, é sobre você entender o que você precisa e até entender o teu desconforto ao pensar na possibilidade de escolher quem gosta de você e te garante uma relação mais fácil”, esclarece o psicólogo, que ressalta a importância de pensar mais sobre isso e se permitir a seguir novas direções.

Helena acrescenta que é preciso separar a paixão, que é algo mais intenso e superficial, do amor mais profundo e constante. As relações bem sucedidas a longo prazo são aquelas que ambas partes atendem as necessidades emocionais do outro. Com essa maturidade, fica mais fácil entender que vai ser inevitável sentir química por alguém, mas nem sempre ela é saudável e é a melhor escolha.

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