Comportamento

Esse episódio do BBB mostrou como o racismo estrutural funciona na prática

Em uma edição que se destaca pela quantidade de participantes pretos na casa, o racismo estrutural ficou perceptível para alguns brothers

Por Bruna Nunes Atualizado em 24 mar 2023, 14h59 - Publicado em 23 mar 2023, 15h38

Sarah e Aline Wirley deram aula sobre racismo, ancestralidade e processos — Rede Globo/Globo Play/Reprodução

Pela primeira vez, a maioria dos participantes do BBB são pretos. Baita evolução, certo? Acontece que, como já estamos cansados de saber, a casa foi dividida em grupos, o que não seria nada demais, se não fosse ~~praticamente~~ racial. Aline Wirley se tornou a única mulher preta do grupo majoritariamente branco e “só” agora teve um “estalo” sobre o racismo estrutural da casa. Em um papo com sua colega de confinamento, Sarah, ela protagonizou um dos diálogos mais impactantes do programa. Por que a conversa das sisters foi tão importante e nos deu uma aula sobre racismo, ancestralidade e processos?

Todo esse episódio reuniu pontos chaves para entendermos muitas coisas. Vamos analisar juntos?

“Quando você fala, é normalizado. Quando eu falo, é agressão”

Fred Nicácio, Alface, Tina, Domitila e até a tranquila Sarah. Todos foram colocados com adjetivos como: maldosos, agressivos, arrogantes, “surtados”, etc. A coincidência entre eles? Todos são pretos. Conforme os dias foram passando, essa galera foi analisando o que estava rolando na casa. Por que pessoas como Bruna, que já se envolveu em muitaaass brigas, não escuta esse tipo de coisa? A coincidência dessa parte? Ela é branca.

a edição picotou toda a conversa da domitila e da bruna e não passou essa parte SUPER IMPORTANTE aqui #BBB23 pic.twitter.com/1qmPASbokG

— matheus (@whomath) March 22, 2023

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Em um recente embate entre Bruna e Domitila, ficou claro que o racismo só estava perceptível para as vítimas. Durante uma longa conversa, Domi disse: “Você percebe a dinâmica? Quando você fala, é normalizado. Quando eu falo, é agressão?” e Bruna não entendeu. A prova? Logo em seguida, no quarto, ela foi contar para seus colegas sobre a parte que chamou sua atenção: “Olha só que tendencioso, ela disse ‘não estão acostumados a lidar com pessoas como eu sem ser em posição de serventia‘” disse, em um leve tom de deboche.

Na mesma hora, Aline levou um estalo. Foi como a personificação de “ficha caindo”. Como a única mulher preta do grupo, foi a única que disse: “Interessante isso que ela traz…”.

O despertar de Aline wirley, mulher preta, sobre o racismo estrutural através de uma fala reproduzida por Domitila , mulher preta, e sem seguida o acolhimento de Sarah Aline, mulher preta, foi a coisa mais linda que eu vi nesse
Espero que muitos fandons despertem tbm!#BBB23 pic.twitter.com/6Ln92aRKgc

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— Will Comenta ✊🏾 (@Will_Comenta) March 21, 2023

Colocar todos os pretos no mesmo barco também é racismo

Após Aline claramente ter as ideias clareadas com a fala de Domitila, seus colegas de jogo não compreenderam o porquê suas colocações não eram tendenciosas, e na verdade, eram muito pertinentes.

A cereja do bolo foi a justificativa da galera: como poderiam ver Domi e cia em um “lugar de servidão” se defendiam Marvila? E aí, precisamos lembrar que: as vivências de uma pessoa preta, não desvalidam as vivências de outra. Sabia que até mesmo esse tipo de posicionamento é a prova viva de um pensamento formulado em uma sociedade racista? Pois é… E se recusar a enxergar isso, não ajuda em nada.

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Aline comentou sobre a opinião do Fred referente a Domitila e deixou claro que não podem usar a Marvvila e invalidar a história da Domitila.

Aline: “Para além de jogo, isso pode, sim ser um gatilho. Pra mim também é um gatilho, porque é o que acontece.” pic.twitter.com/qfEd4D3AQf

— Aline Wirley 🐛 (@AlineWirley) March 21, 2023

Aline e Sarah: O acolhimento de uma mulher preta, para outra

Assim que percebeu que seus colegas brancos não tiveram o mesmo entendimento sobre as pontuações de Domitila, Aline pediu para conversar com Sarah. O papo, mesmo com poucas palavras, foi uma verdadeira aula.

Aline: “Tive um clarão, eu acho… Tô confusa. Na conversa que a Bruna teve com a Domitila, acho que em algum lugar a Domi também traz isso, sabe? E aí, ouvindo me deu algo tipo ‘será?’”

Sarah aconselha a Aline a procurar Domitila, para poder esclarecer mais os sentimentos. pic.twitter.com/guE7eHf8PO

— Aline Wirley 🐛 (@AlineWirley) March 21, 2023

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Mesmo sendo uma mulher preta, Aline levou um tempo para perceber tudo que estava acontecendo. A potência de duas mulheres pretas se acolhendo foi essencial para que se entenda a importância de respeitar o processo de cada um.

“De repente, entrei num lugar esquisito de sentimento, sensação, várias coisas. […] Será que não tô vendo o que eu deveria ver?”, refletiu a cantora. É impossivel não se arrepiar com o momento.

Cada uma tem seu tempo e esperamos que o tempo de Aline permita que ela reconheça seus verdadeiros iguais na casa. Muito amor e axé para as mulheres negras desta edição! 🤎 #Equipe

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— Talíria Petrone (@taliriapetrone) March 21, 2023

Racismo estrutural é sobre a postura social

É inevitável esclarecer que: ninguém comete um racismo estrutural, racismo é racismo e ponto. O conceito de racismo estrutural explica que vivemos em uma sociedade em que atitudes cotianas são racistas e fazem parte da nossa estrutura, infelizmente. Quando no BBB, Domitila, Sarah, Aline levantam isso e são questionadas, esse pensamento não deixa de ser racista, até porque, é uma consequência desta visão social.

Uma dica? Se você é branco e alguém pontou que alguma postura sua foi racista, duvidar disso não é o melhor caminho.