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Desmatamento na Amazônia cresce 51% em meio à pandemia do coronavírus

Especialistas ambientais dizem que pandemia de COVID-19 no Brasil pode virar cortina de fumaça para encobertar crimes na Amazônia

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 00h09 - Publicado em 4 Maio 2020, 14h00
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CAPRICHO/Divulgação

O Brasil todo sofre com a pandemia de coronavírus. A região Norte foi a primeira a ver o sistema de saúde entrar em colapso por causa dos leitos sobrecarregados e da falta de estrutura para atender os pacientes com COVID-19. A situação, conforme alertou a médica Mylla Borges, de 28 anos, em entrevista para a CAPRICHO, só piora porque, nesta época do ano, surtos de Influenza e Dengue também lotam os hospitais da região. Além disso, segundo informações da Fundação Oswaldo Cruz, pessoas que vivem em cidades que sofrem com desmatamento e queimadas apresentam 36% mais chances de serem internadas por problemas respiratórios. Não há sistema de saúde que aguente.

Poeira originária do desmatamento Mario Tama/Getty Images

Curiosamente, ou não, o desmatamento na Amazônia aumentou 51% em meio à crise de coronavírus no país, de acordo com dados do Ministério Público Federal, em comparação com o primeiro trimestre de 2019. Para especialistas ambientais, isso não é nenhuma coincidência, pois a pandemia de COVID-19 está funcionando como uma cortina de fumaça para acobertar crimes ambientais ou, pelo menos, desviar a atenção deles. Dados do próprio MPF comprovam que, no primeiro trimestre de 2020, o número de atuações de fiscais foi o menor registrado em 20 anos na região amazônica. Se a fiscalização segue diminuindo, o desmatamento segue aumentando.

Para o Greenpeace, “a redução nos autos de infração emitidos pelo Ibama é provavelmente uma das razões. Afinal, se as ações de fiscalização contra o crime na Amazônia diminuem, madeireiros, grileiros e garimpeiros têm estrada aberta, literalmente, para desmatar”. A organização também chama a atenção para uma medida provisória proposta no ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro, a MP 920/2019, que pretende garantir a regularização de terras públicas que tenham sido invadidas até 2018. Estima-se que, caso a medida seja aprovada, 237 terras indígenas, que ocupam um território de quase 10 milhões de hectares, sejam transformadas em imóveis privados – imóveis esses do mesmo tipo dos que estariam por trás daquele caso polêmico envolvendo os brigadistas de Alter do Chão, no Pará. A MP tem até 19 de maio para ser votada e é bem provável que não seja aprovada.

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“O governo Bolsonaro, desde que começou, implementou uma política antiambiental que enfraqueceu órgãos de controle, seja reduzindo orçamento, seja afastando ou mudando posições estratégicas ou reduzindo o número de fiscalizações”, explicou Cristiane Mazzetti, uma das responsáveis pela “Campanha da Amazônia” da ONG Greenpeace, em entrevista ao Brasil de Fato. A gerente ambiental aproveitou ainda para deixar claro que não dá para não priorizar a saúde pública no momento atual em que vivemos, mas que as questões ambientais não deveriam ser deixadas tão em segundo plano, pois também refletem diretamente na saúde da população: “A gente entende que tem uma prioridade de conter essa crise na saúde, mas também o meio ambiente não pode ser deixado de lado. Mesmo porque, esses agentes que entram na floresta podem ser também agentes que vão transmitir a doença para populações mais vulneráveis: povos indígenas, comunidades tradicionais, pequenos agricultores. (…) Quanto mais a gente destrói os ecossistemas, mais facilitamos o aparecimento ou transmissão de doenças que podem se transformar em epidemias e pandemias. Se a gente pegar o caso do desmatamento, a partir do momento em que promovemos a degradação das florestas, tirando madeira, nós humanos entramos em contato com possíveis hospedeiros e patógenos. O próprio coronavírus tem a origem zoonótica, que são doenças transmitidas de animais para humanos. Exemplo disso são zika, febre amarela, e o próprio coronavírus”, disse.

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