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Como fala de Bolsonaro negligencia mulheres e estimula o turismo sexual

'Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade', disse o presidente em evento oficial na última semana.

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 02h07 - Publicado em 30 abr 2019, 14h53

Você sabia que o Brasil é o quarto pior país da América Latina para ser mulher? Levando em conta que estamos falando de um total de vinte países, o número não é nada animador. Essa realidade só tende a piorar quando o presidente da república dá a entender não se importar que gringos “usufruam” das mulheres brasileiras, não só as objetificando, mas estimulando uma cultura de estupro e exploração sexual que faz vítimas diárias.

Getty Images/Getty Images

“Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. Essa fala foi dita por Jair Bolsonaro no último dia 25, durante um café da manhã com jornalistas. Ela foi completada pela seguinte citação: “Não podemos ser país do mundo gay, temos famílias”. Para o presidente, relações homoafetivas são uma ofensa para as famílias brasileiras, mas o fato de praticamente oferecer as mulheres de todo um país como atração turística está tudo bem.

Não está. Independentemente do seu posicionamento político ou de em quem você votou ou deixou de votar na última eleição presidencial, é importante abrir os olhos para os dados a seguir e entender que declarações do tipo não deveriam nunca ser ditas, muito menos em tom de deboche e/ou por alguém que representa os cidadãos no cargo máximo da democracia.

1. 70% das vítimas do tráfico de pessoas no mundo são meninas e mulheres
De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), o tráfico humano é o terceiro crime mais rentável do globo terrestre e, no Brasil, esse cenário se tornou ainda mais preocupante com a recusa do governo em atual exercício de renovar a participação no Pacto Global para Migração, “que foi cessado em dezembro de 2018, em Marrocos, reunindo 160 países, que se comprometeram com regras para a migração segura, ordenada e regular visando a prevenção e identificação de migrantes propensos ao tráfico e à exploração”, explica Vera Vieira, da Associação Mulheres pela Paz, em entrevista à rádio Brasil Atual.

2. Em um intervalo de 4 anos, o Brasil registrou 175 mil denúncias de exploração sexual
Segundo um relatório do Disque 100, o país registrou entre 2012 e 2016 quatro denúncias por hora de exploração sexual envolvendo crianças e adolescentes. A região Norte é a mais afetada, inclusive pelo tráfico de mulheres.

3. Brasil é o terceiro país em exploração sexual de mulheres
“Na maioria das vezes, o primeiro passo é levar as mulheres para o garimpo, depois algumas vão para a Europa(…) algumas realmente estão indo acreditando em uma questão de trabalho, chegam lá e é prostituição. Também há vários relatos de mulheres que foram sequestradas até mesmo na rua. Depois da construção de Belo Monte, por exemplo, a gente teve 60% de aumento de exploração infanto-juvenil. Muitas vezes, o próprio governo é omisso ou causador dessa questão, no momento em que constrói uma grande obra, mas não se atenta para os impactos sociais que ela pode ter”, explica Rebecca Souza, integrante do Grupo Assessor da Sociedade Civil (GASC) da Organização das Nações Unidas para Mulheres (ONU Mulheres), em entrevista à rádio Brasil de Fato.

Tipos de tráfico humano, que englobam a exploração sexual. Getty Images/Getty Images

4. Casos de exploração sexual no Brasil aumentam 20% durante o Carnaval
De acordo com o Disque 100, as denúncias de exploração sexual durante o feriado aumentam consideravelmente. Declarações como essa dada por Jair Bolsonaro só reforçam esse estereótipo de permissividade no Brasil, principalmente durante o Carnaval ou feriados turísticos. “Venham, turistas! Olhem essas mulheres bonitas, seminuas e querendo ser abusadas por vocês” é a impressão que um presidente deixa no exterior com uma fala do tipo “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. É negligenciar demais a figura feminina e a realidade das brasileiras…

5. Turismo sexual não é coisa “de mulher desavisada”
A realidade pode acometer qualquer mulher, até aquelas que garantem que nunca cairiam em algo do tipo. A preocupação é tão grande que o governo do Maranhão lançou uma campanha para o São João que justamente contraria a fala de Bolsonaro. “O Maranhão está à disposição dos turistas. A mulher maranhense, não”, informa o slogan. Declarações como as feitas pelo presidente estimulam o turismo sexual, e encorajam os homens a terem comportamentos babacas e machistas, justamente aqueles que diariamente lutamos para erradicar, e a tratarem a mulher como um mero objeto de prazer.

6. Exploração sexual é crime previsto em lei
De acordo com os artigos nº 228 e 229 do Código Penal Brasileiro, “induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone” e “manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente” têm pena de dois a cinco anos de reclusão e multa. Já o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê que é crime submeter criança ou adolescente à exploração sexual, com reclusão de quatro a dez anos.  Denúncias devem ser feitas pelo Disque 100. Logo, não, turistas, não fiquem à vontade.

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