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Comecei a escrever pra ler sobre protagonistas pretas que me foram negadas

A representatividade na literatura infantil é essencial e eu só fui entender isso mais velha - mas indico livros para você não passar pelo mesmo que eu

Por Roberta Gurriti Atualizado em 30 out 2024, 15h21 - Publicado em 20 nov 2022, 10h01

A representatividade preta na literatura infantil é muito importante tanto para as crianças negras, para terem referências com as quais possam se identificar, quanto para as crianças brancas e de outras etnias, para que cresçam livres de preconceitos. Livros estes que possam ilustrar a realidade cultural de outros povos e que ajudem a ensinar a naturalização da diversidade e o respeito ao próximo, ferramentas fundamentais na formação de indivíduos conscientes de si e do próximo.

Comecei a escrever pra ler sobre protagonistas pretas que me foram negadas
Arquivo Pessoal/GettyImages/Reprodução

Fico imaginando o quão diferente teria sido a minha infância e adolescência se, quando comecei a ter contato com a literatura, logo de cara, eu tivesse lido histórias com protagonismo preto. Penso na diferença que isso teria feito na minha autoestima e na minha forma de me enxergar no mundo. Eu teria crescido mais segura e independente sobre a minha aparência e sobre quem eu sou. Quando comecei a ler fanfics no Wattpad, nunca li uma história que tivesse uma protagonista negra. Eram sempre as meninas mais padrões que se podia encontrar no Tumblr.

Os bad boys, os atletas e até os nerds sempre se apaixonavam por essas garotas que, teoricamente, eram as “nerds, feias e excluídas”. Mas nunca eram garotas como eu: pretas, cheinhas e com o cabelo crespo. Por muitas vezes, me perguntei: “Se aquelas eram as nerds excluídas da escola, quem éramos nós?”. A verdade era que, nessas narrativas, nós nem existíamos.

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Foi por isso que lá em 2015 eu comecei a escrever. A minha protagonista era negra e tinha características nas quais eu me identificava. E me lembro de pensar: “Bom, agora eu me vejo um pouco nesse clichê”. Cito a literatura como uma possível resolução da minha visão como mulher, porque foi o caminho que eu segui. Muitas meninas poderiam falar sobre isso citando filmes e séries, por exemplo. Mas a minha relação e o meu desenvolvimento foi através da literatura, por isso que ela é tão importante e por isso que tenho orgulho dos novos caminhos que a literatura jovem está tomando.

Aqui vão algumas indicações de livros infantis com protagonismo preto para ter na estante ou dar de presente:

1. Amora, do Emicida

Em seu primeiro livro infantil, Emicida conta uma história cheia de simplicidade e poesia, que mostra a importância de nos reconhecermos nos pequenos detalhes do mundo.

2. Sinto o Que Sinto, de Lázaro Ramos e Mundo Bita

Mesmo para os adultos, lidar com os sentimentos nem sempre é fácil. Isso é o que Dan percebe ao longo de seu dia, enfrentando diferentes situações que o fazem ter de encarar uma mistura bastante diversa de sentimentos. E à noite, já em casa e quase pronto para ir dormir, Dan ouve uma história muito especial de seu avô sobre seus ancestrais. O livro de estreia de Lázaro Ramos na Carochinha Editora tem como objetivo ajudar as crianças a entender que é normal sentir raiva, alegria, orgulho, tudo ao mesmo tempo. Aprender a identificar e a nomear tais sentimentos é muito importante para o desenvolvimento emocional do ser humano. Além disso, a obra mostra a importância de se valorizar a nossa ancestralidade.

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3. Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado

Uma linda menina negra desperta a admiração de um coelho branco, que deseja ter uma filha tão pretinha quanto ela. Cada vez que ele lhe pergunta qual o segredo de sua cor, ela inventa uma história. O coelho segue todos os “conselhos” da menina, mas continua branco.

4. Amor de Cabelo, de Matthew A. Cherry e Vashti Harrison

O cabelo de Zuri é mágico. Ele pode ser trançado e enrolado para combinar perfeitamente com uma tiara de princesa ou uma capa de super-heroína. E Zuri sabe que seu cabelo é lindo! Mas um dia superespecial pede um penteado mais especial ainda. A mãe de Zuri está voltando para casa depois de um tratamento médico. E, embora ainda tenha muito o que aprender quando se trata de cabelo, o pai da menina é o responsável por ajudá-la a montar o penteado perfeito para receber a mãe. Ele fará qualquer coisa para deixar a filha feliz, até mesmo aprender a diferença entre trança nagô e trança twist.

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5. Sulwe, Lupita Nyong’o

Sulwe tem a pele da cor da meia-noite. Ela é mais escura que todos de sua família. Ela é mais escura que todos de sua escola. A Sulwe só queria ser bonita e cheia de luz como sua mãe e sua irmã. Quando ela menos esperava, uma jornada mágica no céu da noite abriu seus olhos e fez com que tudo mudasse.

6. Meu Crespo é de Rainha, de Bell Hooks

Um livro para ser lido em voz alta, indicado para crianças a partir de três anos de idade – e também mães, irmãs, tias e avós – se orgulharem de quem são e de seu cabelo “macio como algodão” e “gostoso de brincar”. Hoje em dia, é sabido que incontáveis mulheres, incluindo meninas muito novas, sofrem tentando se encaixar em padrões inalcançáveis de beleza, de problemas que podem incluir desde questões de insegurança e baixa autoestima até distúrbios mais sérios, como anorexia, depressão e mesmo tentativas de mutilação ou suicídio. Para as garotas negras, o peso pode ser ainda maior pela falta de representatividade na mídia e na cultura popular e pelo excesso de referências eurocêntricas, de pele clara e cabelos lisos. Nesse sentido, Meu crespo é de rainha é um livro que enaltece a beleza dos fenótipos negros, exaltando penteados e texturas afro, serve de referência à garota que se vê ali representada e admirada.

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Espero que você tenha gostado dessas indicações. Um beijo e até a próxima!

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