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Caso Justin: transtornos de saúde mental têm cura, uma vez diagnosticados?

A saúde mental do cantor mais uma vez se tornou pauta e, triste e erroneamente, virou meme nas redes sociais

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 15h35 - Publicado em 10 set 2022, 15h01
Justin Bieber vestingo um gorro na cor creme e um capuz preto. Ele está com cara de apreensivo.
Ronald Martinez/Getty Images

Se para os fãs a passagem de Justin Bieber pelo Brasil foi uma montanha-russa de emoções, para o cantor e sua equipe não deve ter sido diferente. A gente tem a mania de pensar que pessoas ricas e famosas não têm o direito de ficar com a saúde mental abalada, justamente por serem ricas e famosas, porque vivemos em uma cultura que acha que dinheiro resolve tudo – mais uma das grandes problemáticas causas pela enorme desilguadade socieconômica a qual estamos inseridos.

A verdade é que transtornos mentais não veem conta bancária ou cor de pele, mas também não sejamos alienados e hipócritas a ponto de ignorar fatos: jovens negros têm 45% mais chances de desenvolver depressão que brancos; crianças que vivem em situação de pobreza e miséria social têm mais chances de desenvolver transtornos mentais, como TDAH; e as pessoas que mais tiveram a saúde mental abalada durante a pandemia de coronavírus foram aquelas em situação de vulnerabilidade, que mais sofreram com os impactos da crise pública. Os dados são, respectivamente, da OMS, da revista European Child & Adolescent Psychiatry e do site Mad In Brasil em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP).

Recentemente, Justin Bieber foi diagnosticado com a Síndrome de Ramsay Hunt, uma infecção rara que afetas os nervos da face e do ouvido, e é causada pelo mesmo vírus da varicela e da herpes-zoster.

O canadense chegou a publicar um vídeo nas redes sociais mostrando como metade do seu rosto estava paralisado, mas informando que a infecção durava entre uma e duas semanas, e que ele recuperaria os movimentos faciais com o tempo.

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Justin também já foi diagnosticado com Doença de Lyme, uma infecção transmitida por carrapatos bastante comum nos Estados Unidos, e com depressão, que é caracterizada pela ausência de sentimentos… E, bem, talvez aí esteja o “X” da questão. “Podemos imaginar o quão corrida é a vida de um artista internacionalmente famoso e quantas cobranças devem passar em sua cabeça. Às vezes, até mesmo a autocobrança que ele pode ter em relação ao próprio desempenho pode desencadear desânimo e, quando esse estado perdura por mais tempo, uma depressão, que se manifesta de formas muito diferentes de pessoa para pessoa, assim como é causada por diferentes causas em cada um”, pontua Adriana Melchiades, coordenadora do curso de psicologia do UDF.

Transtornos mentais podem ser cíclicos ou não, pois cada pessoa é única e reage ao tratamento de uma maneira. Mas é preciso levar algumas coisas em conta, como explica Anderson Mendes, Educador em Saúde Mental e professor de Pós-graduação em Suicidologia: “A quantidade de crises que o humano já enfrentou, quais sintomas físicos e psíquicos ele sentiu, e de qual intensidade. Tudo isso determina se a pessoa possui algum tipo de transtorno e principalmente o nível dele, podendo ser leve, intermediário ou severo“, explica.

Para somar à discussão, trazemos à tona outro caso famoso do showbizz e do tribunal da internet: o de Demi Lovato.

Foto da tatuagem de Demi Lovato nos pulsos, escrito Stay Strong
Redes Sociais/Reprodução

A cantora, que também se apresentou no Rock in Rio 2022 no mesmo dia que Bieber, é diagnosticada com depressão e bipolaridade. A artista também tem um sério problema com vício em drogas, e a junção de todos esses fatores a fez tatuar nos pulsos a frase “Stay Strong”, para lembrar todos os dias de manter-se firme em meio a correnteza.

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Tratar transtornos mentais é reequilibrar a química interna do corpo com medicamentos e terapia. Nos casos leves, o tratamento pode levar alguns meses. Nos severos, pode durar anos e até uma vida toda. “A maioria dos distúrbios mentais não tem exatamente uma cura, mas têm tratamento, o qual pode permitir uma vida completamente funcional. O motivo de dizermos que não há cura para muitos distúrbios mentais é porque a maioria deles é multifatorial, ou seja, causados por diversos fatores, que podem ser genéticos, sociais, familiares ou até mesmo relacionados a profissões e funções exercidas”, relata Adriana.

A luz no fim do túnel existe, e é uma certeza, mas os gatilhos são os responsáveis pelos altos e baixos. “Eles podem ativar verdadeiras bombas dentro de nós. Às vezes, algumas coisas que para mim são insuportáveis, para você é supertranquilo de lidar, e vice-versa. Logo, cada um reage de forma diferente aos diversos estímulos que vamos recebendo durante nossa jornada. Por isso, a palavrinha mágica é autoconhecimento“, indica Anderson Mendes.

Mas já percebeu como nem sempre é simples nos desvencilharmos daquilo que nos faz mal? Anderson esclarece o motivo: “Vou dar um exemplo banal, mas que nós muitas vezes continuamos vacilando. Quer ver? Existe algo que, quando você come, logo em seguida passa mal? Se por acaso você se identificou com essa pergunta, é óbvio que, depois de identificar o que te faz mal, nunca mais voltará a comer aquilo, certo? Errado. Muitas vezes, sabemos que algo ou alguém não nos faz bem, e mesmo assim a gente continua naquilo insistindo e permanecendo naquele mesmo ciclo vicioso. Pois é. Nem sempre é fácil conseguir fazer o que é certo, mas, se dermos os passos corretos [buscar ajuda, persistir olhando pra frente, para aquilo que te faz bem], muito provavelmente você conseguirá dar o próximo passo e superar aquela situação que até ontem não era possível”.

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Com relação a transtornos mentais, a máxima que vale para geral é somente uma: a prevenção. Terapia, por exemplo, deveria ser algo acessível para todos – e vem se tornando cada dia mais. Além disso, os especialistas alertam para os perigos que é transformar em meme casos de pessoas psicologicamente fragilizadas. “Quando ridicularizamos ou fazemos chacota de doenças mentais, estamos popularizando as críticas sobre a doença, não o tratamento delas. Aumentamos o preconceito e o medo que as pessoas podem ter de tornarem públicas suas condições e pedirem ajuda. Criamos barreiras para o acesso a um sistema de auxílio e respeito aos transtornos mentais, ao invés de oferecermos suporte e compreensão”, afirma Adriana.

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Os especialistas ainda ressaltam que os estigmas relacionados às doenças e aos tratamentos ainda são fortes e precisam ser expurgados de uma vez por todas para que a gente consiga começar o debate sobre Setembro Amarelo e prevenção contra a suicídio de uma maneira saudável: “Pessoas que pedem ajuda podem ser vistas como fracas, loucas e irresponsáveis, ao invés de serem vistas como indivíduos corajosos que estão lutando por suas vidas e para se sentirem melhor. Também é muito comum vermos pessoas com qualquer tipo de transtorno mental serem tratadas ou referidas como instáveis, pouco confiáveis ou irresponsáveis”, advertem Adriana e Anderson.

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