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Capitólio: um raio-x da tragédia anunciada tratada como “acidente”

Há pelo menos uma década, o cânion já dava sinais de que a erosão estava cumprindo seu papel. Onde estava a fiscalização?

Por Isabella Otto Atualizado em 10 jan 2022, 11h19 - Publicado em 10 jan 2022, 11h15

O ano começa marcado por uma tragédia anunciada em Capitólio, Minas Gerais. No último sábado, 8, um cânion na região do Lago de Furnas despencou a atingiu algumas embarcações que estavam visitando o local. 32 pessoas ficaram feriadas e o corpo de bombeiros confirmou a morte de dez. Todas as vítimas fatais estavam a bordo da lancha “Jesus”.

Imagens da queda de rocha em Capitólio. Na primeira foto, ela está se desprendendo. Na segunda, atinge o mar e causa uma espécie de tsunami
YouTube/Reprodução

A Marinha interditou o balneário e segue investigando as possíveis causas do deslizamento. Especialistas, contudo, garantem que a rocha se desprendeu por causa da erosão causada por chuvas e ventos fortes – algo bastante comum.

Sobreviventes e familiares das vítimas fatais tentaram recorrer à Eletrobras Furnas, que disse “lamentar profundamente o acidente”, mas que não se responsabiliza pelo turismo na região. De acordo com a empresa, a atividade é de responsabilidade da Marinha e do poder público.

Romeu Zuma, governador de Minas Gerais, se pronunciou dizendo que aqueles lesados pela tragédia receberão uma indenização. Entretanto, disse não saber quem fará esse pagamento. Em entrevista à CNN, Cristiano Silva, prefeito de Capitólio, afirmou que “apontar um culpado agora é injustiça”.

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A NATUREZA SENDO NATUREZA

O geólogo Everton de Oliveira, do Instituto Água Sustentável, falou para o jornal O TEMPO que “a responsável pelo fenômeno de erosão fez com que ocorresse a queda da parede rocha, mas não ela não é a responsável pela tragédia”.

No final de semana, momentos após o desabamento, uma publicação do Facebook de 2012 viralizou. Ela foi feita pelo médico Flávio Freitas, que há dez anos visitou a região e tirou uma foto embaixo do cânion, que já estava rachado. “Essa pedra vai cair”, escreveu na legenda da imagem. Uma década depois, ela realmente caiu.

O homem disse que, quando passeou pelo Lago de Furnas na ocasião, o cânion chamou a atenção justamente pela rachadura, que era “extensa, larga e apresentava um aspecto perigoso”. Considerado por alguns internautas como uma espécie de profeta, Freitas afirmou que não fez nenhuma previsão, apenas uma constatação – que a fiscalização que cuida do turismo local também deveria ter feito.

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Todo acidente fez novos questionamentos surgirem: será que Capitólio e outras regiões turísticas parecidas possuem infraestrutura para atender o boom de visitantes em altas temporadas? Os passeios, apesar de guiados e de responsabilidade da Marinha, são mesmo fiscalizados ou essa fiscalização só acontece depois que a desgraça acontece?

Como relação ao Ano Novo, rolou a mesma coisa: várias regiões brasileiras, especialmente ilhas com menos infraestrutura, foram fechadas após registrarem surtos de Covid-19. Todo mundo sabia que ia dar ruim, ainda mais com a ameaça da Ômicron, uma variante mais transmissível do vírus. Então, por que só foram agir depois? Por que não tomaram uma atitude antes, se a tragédia era previsível? Este é, definitivamente, um cenário que muito se repete no Brasil.

CONHEÇA A VÍTIMAS FATAIS*

  • Julio Borges Antunes, de 68 anos, de Alpinópolis (MG);
  • Piloto da lancha Jesus, 40 anos, de Betim (MG);
  • Mulher, 43 anos, de Cajamar (SP);
  • Mulher, 18 anos, de Paulínia (SP), filha da mulher de 43 anos;
  • Homem, 67 anos, de Anhumas (SP);
  • Mulher, 57 anos, de Itaú de Minas (MG), esposa do homem de 67 anos;
  • Homem, 24 anos, de Campinas (SP);
  • Homem, 35 anos, de Passos (MG);
  • Adolescente, 14 anos, de Alfenas (MG), neto do casal de 67 e 57 anos;
  • Homem, 37 anos, de Itaú de Minas (MG), filho do casal de 67 e 57 anos e pai do adolescente.

*Lista atualizada conforme o corpo de bombeiros fornece novas informações sobre as vítimas.

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