Brasil sai malvisto da Cúpula do Clima por desmerecer papel dos oceanos
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, ficou relutante com parágrafo que deixa claro importância dos oceanos no combate às mudanças climáticas.
No último domingo, 15, em Madri, na Espanha, finalmente chegou ao fim a Cúpula do Clima das Nações Unidas, intitulada COP25, que apresenta iniciativas para a nova década que combatam as mudanças climáticas. A conferência se estendeu mais do que o programado por causa de divergências entre os quase 200 países que participaram do acordo, entre eles o Brasil.
Ficou acertado que, a partir de 2020, os países da COP25 devem intensificar as ações contra o aquecimento global em uma estratégia iniciada no Acordo de Paris, datado de 2015, que visa diminuir o aumento da temperatura global para 1,5ºC até o fim do século. Para isso, seria necessário que, até 2030, as emissões de carbono na atmosfera diminuíssem 7%. Problemas relacionados ao desmatamento para suprir a indústria mundial da carne, a especulação imobiliária em áreas ilegais, queimadas, incineração de lixo e lixões a céu aberto, alto descarte e descarte errôneo de produtos, como o do plástico, e, é claro, a poluição dos oceanos são alguns dos principais obstáculos no combate às mudanças climáticas.
O Brasil já estava com uma má reputação na Cúpula devido às queimadas na Amazônia que repercutiram no mundo todo e às manchas de óleo no Nordeste, que se espalharam pela costa do país e se transformaram no maior crime ambiental da história do litoral brasileiro. Para piorar a situação, o presidente Jair Bolsonaro deu algumas declarações polêmicas antes de a conferência se encerrar, em coletiva no Palácio da Alvorada. “Por que que eu não aceitei a COP25 no Brasil? Eu não aceitei, eu que decidi. Estariam fazendo aqui um Carnaval no Brasil agora(…) Quero saber, alguma resolução é para a Europa começar a ser reflorestada ou só ficam perturbando o Brasil? É um jogo comercial, eu não sei como, né, que o pessoal não consegue entender que é um jogo comercial“, disse.
Como se não bastasse, Ricardo Salles, ministro do meio ambiente, que representou o Brasil no evento das Nações Unidas, se mostrou relutante em assinar o acordo por causa de dois parágrafos específicos do texto que dizem respeito à importância dos oceanos e do uso consciente da terra na recuperação do clima global. Ele não foi o único (representantes de países como Japão e Estados Unidos também se mostraram resistentes), contudo, vide as muitas tragédias ambientais que ocorreram no Brasil em 2019, a abstenção, mesmo que momentânea, pesou ainda mais.
No fim, Salles acabou cedendo, assim como as autoridades dos outros países, mas, de qualquer forma, já era um caminho sem volta: o Brasil saiu da conferência com dois antiprêmios “Fóssil do Dia”. A premiação é realizada pela Rede Internacional de Ação Climática, não é oficial mas bastante simbólica e reflete a imagem dos países “vitoriosos” no mundo todo. O primeiro troféu foi dado pelo governo brasileiro ter culpado a sociedade civil pelas queimadas na Amazônia (vide brigadistas voluntários que foram presos injustamente em Alter do Chão, no Pará). O segundo, pelo governo “legitimar a grilagem de terras e a anistia do desmatamento”. O Japão também foi “premiado” com dois troféus: um pelo “contínuo vício e expansão do [consumo de] carvão” e outro por “falhar ao melhorar uma meta de redução das emissões altamente insuficiente”.