Blog da Galera: se descobrindo parte da comunidade LGBTQI+ na adolescência
Marina Tiellet, da Galera CH, conta como foi com ela e com mais um monte de gente: "Heteronormatividade imposta desde antes"
Fala galera! Aqui é a Marina Tiellet. Antes de tudo, quero dizer que pensei duas vezes ao escrever esta matéria. Li, reli, apaguei, reeditei. Principalmente porque sei o impacto que esse tipo de conteúdo gera para aqueles que, assim como eu, percebem os efeitos causados pela falta de informação, ainda mais quando se trata de um processo de aceitação e autoconhecimento.
Por isso, esse assunto diz respeito a algo que significa muito para mim, já que entrei para a Galera CH com um objetivo maior em mente: dar o meu melhor no quesito de representatividade, de modo que eu possa produzir conteúdo como uma forma de suporte e apoio para todo mundo que enfrenta os obstáculos de se descobrir LGBTQI+ na adolescência.
Como parte da comunidade LGBT, portanto, posso dizer que foi muito difícil para mim entender o que realmente estava acontecendo enquanto eu questionava minha orientação sexual. Até meus 14 anos, eu não fazia ideia do que se tratava ou das opções que existiam, talvez por conta da falta de representatividade combinada com a heteronormatividade imposta desde antes da adolescência.
Hoje, me reconheço como bissexual e tenho muito orgulho disso, mas sei que existem muitos outros jovens por aí que passam ou passaram pelo mesmo, e o quanto o suporte e apoio da comunidade é importante nessa fase. Assim, conversei com algumas pessoas para falarem sobre a experiência delas em suas jornadas de autoaceitação e descobrimento, e esse foi o resultado:
- Helena, 15 anos, Pansexual
A Lê disse que começou a se questionar bem novinha – e teve o primeiro contato com essa realidade no YouTube, plataforma em que, aos poucos, foi pesquisando mais sobre o assunto até encontrar a orientação com que ela mais se identifica hoje, a pansexualidade: “Não foi de primeira que eu ‘acertei’ o rótulo no qual eu me encaixava, mas nunca dei tanta importância pra isso.” Ela disse que sofreu preconceito mesmo só pela internet mas, apesar de tudo, hoje se sente livre pra ser quem ela é: “sexualidade sempre foi uma coisa sobre mim que aceito e tenho orgulho”. - Pietra, 16 anos, Bissexual
Pra Pietra, foi bem recente! Foi só no seu aniversário de 16 anos que rolou uma vontade de ficar com garotas, o que a deixou bem surpresa: “No fundo, já sabia dessa possibilidade há muito tempo, só nunca tinha parado pra pensar que podia ser real”. Ela ainda contou que as amigas tiveram um papel importante quando resolveu se assumir: “no meu ciclo social, isso é tratado com muito respeito e naturalidade, o que me deixou muito confortável ao me rotular bissexual”. - Luisa, 15 anos, Bissexual
A Luisa disse que começou a se sentir diferente com garotas desde o início de sua adolescência, mas que por muito tempo pensou que seria apenas uma fase: “Imaginava que fossem pensamentos que iriam embora”. Atualmente, reconhece que isso seja parte de sua identidade, mas ainda é bastante receosa quanto a reação dos amigos mais próximos: “As minhas maiores angústias são relacionadas ao medo de as pessoas me tratarem de forma diferente se souberem da minha sexualidade”. Por ora, ela disse que prefere se identificar como bissexual, mas sabe que, se não for realmente isso, tá tudo bem também! “A autoaceitação ainda é difícil para mim, pois imagino ser um processo de descoberta constante”. - Caio, 17 anos, Gay
“Desde muito novo sabia que tinha interesse por homens”; mas, mesmo assim, Caio confessa que sair do armário não foi tão fácil: “Sempre me vi em situações desconfortáveis quando se tratava da minha sexualidade”. Até hoje, seu maior medo é quanto a sua carreira profissional: “Minha profissão dos sonhos ainda é muito conservadora e retrógrada, mas isso acabou se tornando mais um quesito que quero mudar neste mundo e irei lutar para conseguir”.
- Fernanda, 17 anos, Queer
A Fê contou que em sua primeira experiência com meninas sentiu tudo como novidade: “Depois de beijar uma garota pela primeira vez, senti uma culpa que eu não sentia quando beijava meninos, por exemplo”. Mas, com o tempo, foi tendo orgulho de sua verdadeira identidade (inclusive namora uma garota!), e as redes tiveram um papel importante neste processo: “Hoje, acho que as mídias sociais nos permitem ter parâmetros e seguirmos perfis que tenham mais a ver com a gente, isso me ajudou muito enquanto estava me descobrindo”. - Camila, 16 anos, Bissexual
“Muitas vezes beijei meninas e falava que era hétero, que só estava me divertindo”, contou Camis. “O processo de negação é real”, mas pra Camila, o pior definitivamente é a homofobia da família: “Tenho medo de que meu pai descubra o namoro e me expulse de casa (ou pior)”. Mesmo assim, a Camis tem orgulho de sua orientação sexual e luta diariamente contra o preconceito: “Muita gente pensa que é só para chamar a atenção, o que é péssimo”. - Isabella, 18 anos, Lésbica
Foi com 14 anos que a Isa começou a se questionar sobre a sexualidade dela. Em sua opinião, se aceitar foi o mais complicado, principalmente tendo que escutar todas “piadinhas” e comentários heteronormativos que só atrapalharam o processo. A Isabella ainda conta que teve momentos bem difíceis: “Já cheguei a me questionar sobre porque aquilo estava acontecendo comigo, como se fosse um castigo (…). No primeiro ano, eu chorava praticamente todos os dias. No segundo, ficava mais ansiosa e apreensiva de alguém perceber alguma coisa”. O que ajudou mesmo foi pesquisar mais sobre o assunto e, hoje em dia, a Isa se orgulha bastante da sua identidade: “A maior conquista da minha vida foi me aceitar e ser quem eu quero ser”.
Em suma, eu ainda gostaria de dizer que ninguém está sozinho. Grande parte da comunidade LGBTQI+ passa por isso diariamente, mas se esconder nunca vai ser a solução. Tenha orgulho de quem você é, porque juntos somos mais fortes!
#loveislove,
@marinatiellet