Ativista protesta no Festival de Cannes contra estupros na Ucrânia
Apenas de calcinha, mulher tinha marcas de tinta vermelha na virilha, que imitavam sangue, e a bandeira da Ucrânia pintada sobre os seios
A 75ª edição do Festival de Cannes começou nesta semana, na França, e na última sexta-feira (20), durante o tapete vermelho do filme Três Mil Anos de Saudade, do diretor George Miller, uma ativista protestou contra os estupros que tem ocorrido na Ucrânia.
A mulher, que não foi identificada, entrou no tapete vermelho com um sobretudo e só depois tirou a peça de roupa. Seminua, apenas de calcinha, ela estava com o peitoral pintado com os dizeres “Pare de nos estuprar”. Na região da virilha, com tinta vermelha que imitava sangue, haviam marcas de mãos. Nas costas, a palavra “escória” estava escrita.
A ativista segue o Manifesto do SCUM (Society for Cutting Up Men Manifesto), que prega a destruição dos homens. Ele foi escrito pela jornalista Valerie Solanas e publicado em 1967.
A norte-americana, um dos símbolos do movimento feminista radical, sofreu abuso sexual do próprio pai durante a infância e, mais tarde, quando já era escritora, foi enganada por Andy Warhol, que prometeu filmar uma de suas histórias, o que nunca aconteceu.
Por causa disso, em 1968, Valerie disparou três tiros contra o diretor, sendo que um o atingiu na região da barriga. A jornalista foi encaminhada para um hospital psiquiátrico e ficou presa por três anos, pena pela tentativa de assassinato da qual Warhol, a vítima, não quis depor.
On the Cannes red carpet for George Miller’s new movie, the woman in front of me stripped off all her clothes (covered in body paint) and fell to her knees screaming in front of photographers. Cannes authorities rushed over, covered her in a coat, & blocked my camera from filming pic.twitter.com/JFdWlwVMEw
— Kyle Buchanan (@kylebuchanan) May 20, 2022
“Nós somos as descrentes do culto ao falo, dos blasfemos da religião patriarcal”, gritou a ativista durante seu protesto. Pouco tempo depois, a mulher foi contida pelos seguranças e arrastada para fora do tapete vermelho.
A cultura do estupro em guerras
Dentre as muitas violências sofridas pelo povo durante conflitos armados, como social e econômica, um grupo específico, o das mulheres, acaba sofrendo também com a violência de gênero, uma vez que seus corpos são usados como moeda de troca e punição.
Nesta semana, Lyudmyla Denisova, comissária de Direitos Humanos do Parlamento da Ucrânia, relatou novos casos de estupro cometidos por solados russos no país. Um deles teria envolvido trigêmeas de 9 anos de idade.
Alguns dias antes, em entrevista à rádio ucraniana Svoboda, a psicóloga Oleksandra Kvitko disse que havia atendido há pouco tempo uma adolescente de 14 anos que havia engravidado após sofrer um estupro coletivo cometido por soldados russos.
A guerra Rússia vs. Ucrânia já dura quase três meses e, apesar das várias denúncias de violência contra a mulher, apenas algumas dezenas estão sendo realmente investigadas pelas autoridades, como relatou Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano. Ele declarou ainda que as principais vítimas são crianças e adolescentes, uma vez que muitos soldados russos usam o estupro para punir e torturar os pais dessas jovens mulheres.