Ana Hikari fala sobre agressão de ex: “Não achava que era relação abusiva”
Em entrevista ao site Hugo Gloss, a atriz deu detalhes sobre o momento difícil que viveu
Violência contra a mulher. Está aí um tema sobre o qual não gostaríamos de ter que falar, certo? Infelizmente, porém, diante de tantos casos que vemos diariamente, falar sobre o assunto é essencial para combatê-lo. Ana Hikari, atriz de Malhação – Viva a Diferença e de As Five, entende a importância da questão e, em entrevista ao site Hugo Gloss, relembrou a agressão que sofreu de um ex-namorado anos atrás.
A jovem namorou por 9 meses um colega de faculdade e, após um período de término, em 2016, os dois reataram. Foi neste momento que agressão física aconteceu. “Eu não achava que era uma relação abusiva. Só que, quando a gente terminou, um dia ele descobriu que eu estava em um teatro assistindo a uma peça e foi até lá escondido. Ele me perseguiu. Nesse dia, achei um absurdo ele estar fazendo aquilo, ainda mais porque era um momento em que ele tinha que estar no trabalho. Mas o que eu fiz, quando o vi, foi falar com ele e acalmá-lo”, contou.
Após um tempo separados, o casal voltou a se encontrar. No meio de uma noite, Ana acordou e percebeu que o rapaz havia mexido em seu celular, encontrando mensagens antigas de pessoas com quem ela havia ficado quando não estavam juntos. Foi aí que a situação se agravou. A agressão, que começou no apartamento, terminou (entre empurrões e outros atos violentos), na rua, com um tapa na cara da atriz.
“Na hora, eu fiquei pensando por que ninguém tinha me ajudado e fiquei me sentindo muito humilhada. Eu fiquei me questionando por que eu não fiz nada. Sendo que eu fiz alguma coisa, né, só de eu ter descido [do apartamento, após o rapaz sair] era porque eu queria que ele não saísse impune. Eu fui atrás dele porque eu queria que ele entendesse que o que ele fez já lá em cima no meu quarto era errado. Só que eu fiquei me culpando por ‘não ter feito nada’. E eu nem sei o que seria fazer alguma coisa naquele contexto. Em momento algum eu pensei em agredir ele, porque eu nem teria força. Eu lembro de pensar: ‘Eu só não posso deixar que a mão dele chegue no meu rosto’. Eu lembro de eu pensar isso porque, se ele me desse um soco, eu ia desmaiar”, lembrou.
Na época, Ana estava começando um coletivo feminista na faculdade e, ter contato com o feminismo, foi algo deu forças para que ela denunciasse o ex-namorado. Em 2019, ela ganhou o processo – e uma medida protetiva contra o agressor.
Mas e antes, será que não havia nenhuma pista sobre o comportamento violento do então companheiro? Bom… Você se lembra da história do teatro, né? “Quase três anos depois, quando fui na Defensoria Pública, as mulheres me entregaram um panfleto sobre violência doméstica. Eu achava que já tava sabendo tudo sobre o meu caso, que já sabia todas as violências pelas quais tinha passado. E aí, nesse papel, eu lembro de ver que ‘a violência pode se apresentar de diversas maneiras para as mulheres’. Era uma lista e uma delas era perseguição. Só neste momento eu entendi que o que tinha passado no primeiro término já era um indício de violência”, disse.
Ana, então, contou que o ex costumava pressioná-la muito psicologicamente e recordou um outro relacionamento, da adolescência, em que precisou lidar com uma chantagem que envolvia ameaça de suicídio – situações que a mantinham presa e faziam com que se sentisse culpada. “Tanto é que, quando fui agredida, eu me senti muito, muito culpada“, revelou.
“Acho que a coisa que mais me doeu foi chegar na delegacia pra ver como estava o meu processo e ver a sala com pilhas e pilhas de papéis, e aquelas mulheres trabalhando em vários outros casos e eu pensar: ‘Meu Deus, é muita mulher que passa por isso’. Isso tem que mudar, sabe? (…) E eu não tô falando só das mulheres, não, eu tô falando dos homens também. Os homens têm que entender que tá errado e que, se eles fizerem, eles vão sofrer consequências na justiça”, afirmou.
Atualmente, a atriz está em um novo namoro. Ela disse que o relacionamento abusivo deixou suas marcas, contudo entende que não pode se privar de viver: “Inclusive esses relacionamentos que eu passei foram muito importantes pra eu conseguir definir limites pra mim mesma do que eu quero dentro de uma relação, sabe?”
Que o desabafo dela sirva de inspiração para outras mulheres que estão sofrendo algo parecido. Juntas somos mais fortes! <3