Aimee, de Sex Education, ensina a ressignificar um trauma à sua maneira
Cada pessoa tem o seu processo de superação e a arte pode ser uma grande aliada
Não é fácil se despedir de personagens tão fortes, icônicos e necessários, como Aimee Gibbs (Aimee Lou Wood) de Sex Education. Ao mesmo tempo, é especial e bonito ver o fechamento da sua história nos últimos episódios lançados pela Netflix. Desde a segunda temporada, quando a jovem sofre um abuso sexual dentro do ônibus a caminho da escola, acompanhamos sua jornada para lidar com o trauma. E ela nos ensina muito sobre superação.
O episódio terrível do abuso fez com que Aimee, por muito tempo, ficasse paralisada com medo, culpa e ansiedade. Ela vai lidando com esses sentimentos aos poucos e com a ajuda dos amigos. Como esquecer a cena final da segunda temporada em que as garotas do colégio se reúnem para pegar o ônibus com Aimee, mostrando que ela não está sozinha?
Na nova temporada, Aimee aparece muito melhor, explorando seu corpo, usando brinquedos sexuais e fazendo novos amigos. Isso, no entanto, não significa que suas dores ficaram protegidas no passado. No armário, ela ainda guarda, com desconforto, a calça que usava durante um abuso, como uma representação de toda a angústia que ainda existe ali. Apesar de ver o interesse e carinho por Isaac (George Robinson), o contato físico ainda remete a uma sensação de insegurança.
História da vida real
Michelle Sampaio, psicóloga especialista em sexualidade humana, elogia a forma como a série construiu os personagens e suas dificuldades. “A forma como eles vão lidando com os problemas condiz muito com o que, muitas vezes, fazemos no processo de terapia sexual”, diz. Michelle conta que recebe em seu consultório garotas que, assim como Aimee, demoraram para entender o abuso sofrido.
“Às vezes, a situação não é processada como um abuso na hora. Só depois quando se depara com um gatilho, como uma sensação no corpo ou uma memória, ou ainda quando vai ter uma vivência sexual com alguém, ela entende”, explica a psicóloga e ressalta que está tudo bem levar um tempo para processar.
Depois de tomar a consciência do ocorrido, Michelle diz que compartilhar com alguém de confiança e buscar uma rede de apoio é muito importante.
Vale lembrar que, no começo da série, ao contar o que aconteceu para Maeve (Emma Mackey), Aimes parece estar em um estado de negação, afirmando que está bem, mas a amiga insiste em ir para a delegacia reportar o caso. Quando as duas conversam com os policiais, a personagem segue afirmando que não quer desperdiçar o tempo deles e se recusa a ligar para sua mãe e contar o ocorrido. É aí que Maeve incentiva Aimee a dar mais detalhes sobre a situação para que o homem não faça isso com outras mulheres.
Como ressignificar e superar um trauma
Michelle ressalta que cada pessoa tem o seu processo para lidar com uma situação no passado que deixou feridas abertas. “Superar um trauma não significa esquecê-lo”, esclarece. “Lembrar faz parte, afinal temos memórias, quando você supera quer dizer que aquilo não te paralisa mais ou não traz uma forte angústia como antes”, completa.
Para isso, não existe uma regra ou um passo a passo, mas há algumas ferramentas e estratégias, inclusive a arte. Aimee, por exemplo, criou o “diário de cura”, para registrar o seu processo. “O autoconhecimento pode ser uma forma de lembrar outros momentos da vida em que superou momentos difíceis e ver o que você fez e pode usar novamente para passar por outro trauma”, diz a psicóloga.
A personagem encontrou na fotografia maneiras de se expressar e ressignificar o que passou. Uma das cenas impactantes da quarta temporada é de Aimee colocando fogo na calça que ela usava no dia em que sofreu um abuso sexual dentro do ônibus e fotografou o momento muito simbólico.
Valeu, Aimee <3