A perigosa brincadeira do desmaio
Capricho Adverte: a modinha do desmaio é muito perigosa. Brincando de ligar e desligar, muita gente já se deu mal
A “brincadeira do desmaio”, que se espalha pelos colégios e já chegou no YouTube e no orkut, não tem graça nenhuma. Ao provocar a perda de consciência, você força o seu corpo a fazer algo que ele não espera, não precisa, não quer e não agüenta. É, no mínimo, uma brincadeira de mau gosto.
Veja os perigos para quem entra nessa roubada.
Hematomas: durante a queda, você pode se machucar feio
Crise convulsiva: é o efeito de tremedeira, sinal de que algo está errado
Ataque epiléptico: se durar mais de 30 minutos, pode prejudicar as funções cerebrais
Coma: causado pela falta de oxigenação no cérebro. Pode gerar lesões irreversíveis
Vício: tem gente que se vicia na tontura pós-desmaio e fica dependente dessa sensação
Morte: a conseqüência para quem força a barra
Bruna*, 16 anos, foi parar no hospital com crise convulsiva
“Em uma tarde de sábado, liguei para minhas duas melhores amigas e combinei a programação da noite. Seria uma reunião regada a muito sorvete, pipoca e filmes de terror. Na real, não passava de uma desculpa para meus pais irem dormir tranqüilos. Fechei a porta do quarto e deixei a TV no volume máximo. Foi a senha para que a gente começasse a fazer o que realmente queria: começar a provocar desmaios umas nas outras.
Na época, eu e minhas amigas achávamos a brincadeira do desmaio o máximo. Desde quando meu amigo chegou no colégio ensinando como se fazia, não tinha balada, namorado ou qualquer outra coisa no mundo que fosse melhor! Sempre que a gente se reunia para desmaiar, cada uma ficava inconsciente ao menos 15 vezes por noite.
A história da pipoca e do sorvete podia ser mentira, mas a noite teve terror, e real. Depois do meu vigésimo desmaio, não acordei. As meninas ficaram desesperadas, tentaram de tudo para me trazer de volta. Mas tapas, gritos e água gelada não funcionaram. Elas disseram que eu tremia muito. A solução foi acordar meus pais, que me levaram para o hospital às pressas.
Foi como se minha memória tivesse sido apagada. Desde o momento em que desmaiei pela última vez até a hora em que recobrei a consciência, não lembro de absolutamente nada. O médico disse que eu tinha passado por uma crise convulsiva. Fiquei muito tempo em observação sem contar que virei atração do plantão: todos os enfermeiros achavam que eu tinha tentado cometer suicídio. Levei uma superbronca dos meus pais e as noites com amigas foram proibidas. Mas isso foi o de menos: eu podia ter morrido.
Três meses depois, me sinto super arrependida. Perdi o contato com as meninas. Os pais delas não se conformaram depois que souberam das ‘brincadeiras’ e pediram que se afastassem de mim. A única coisa boa disso tudo foi a lição que tirei: hoje, penso mil vezes antes de fazer qualquer coisa que possa prejudicar minha saúde. Fui totalmente inconseqüente. Conto essa história para todo mundo, quero que todos saibam o quanto pode ser perigoso se envolver com essa brincadeira. Eu não tinha noção do perigo que estava correndo, mas hoje em dia entro em pânico se vejo alguém desmaiando.”
Eles também se deram mal…
Flagrante no colégio: “Durante um trabalho em grupo, um colega me convidou para participar da brincadeira do desmaio. Achei que fosse legal, então aceitei. Bem na hora em que perdi os sentidos e caí no colo da menina que estava de prontidão para me segurar, uma professora entrou na sala de aula. Ela ficou chocada, mandou todo mundo para a diretoria e pegamos 3 dias de suspensão. Acabei brigando feio com a minha mãe, que é enfermeira e achou tudo um absurdo.”- Carla*, 17 anos.
Sem dente nem viagem: “Provoquei meu desmaio por pura curiosidade. O problema é que eu sou muito maior do que a amiga que ficou encarregada de me segurar. Conclusão: caí de cara no chão. Quando acordei, estava sem um dente e com a camisa cheia de sangue. A cirurgia para arrumar o meu sorriso foi tão cara que não pude realizar o grande sonho de viajar para o Japão.” – Paulo*, 16 anos.
Quem deu as informações? Rubens Gagliardi, presidente da Associação Paulista de Neurologia
* Os nomes foram trocados para preservar os entrevistados