Na última semana, o vídeo (que você confere na sequência) de uma YouTuber branca que dizia que negros começaram a praticar racismo contra os brancos viralizou na internet. No vídeo, ela comenta que “tem muito branco que sofre racismo. As coisas mudaram e os valores estão se invertendo. O negro está deixando de sofrer racismo, que concordo a passos de formiga, só que vocês estão fazendo com que o branco sofra racismo. E ainda querem que a gente engula que isso não é racismo”. Senta que ainda tem mais. Ela ainda falou que, “talvez, há cem anos, o branco não sofresse racismo, mas, hoje, em 2019, tem muito negro que nasce, cresce e vive sem sofrer racismo. E tem muito branco que sofre racismo“. #forçaguerreiros
Arroz por cima ou embaixo do feijão? Bolacha ou biscoito? RBD ou HSM? Capitu traiu ou não Bentinho? Embates desse tipo geram altas discussões, que nunca vão ter uma resposta correta. Isso acontece porque o que está em jogo são gostos e referências de cada pessoa. Agora, quando vamos falar de questões raciais, as coisas não funcionam na base do “achismo” ou de casos isolados. É preciso olhar para definições de conceitos e para a nossa própria história, antes de passar vergonha e, principalmente, ofender alguém. Por isso, separei quatro pontos que vão nos ajudar a responder se um branco pode ser vítima de racismo praticado por uma pessoa negra.
1. O que é racismo?
A partir do momento que você ofende, reduz ou bloqueia os direitos de um grupo por conta da sua etnia, isso é identificado como racismo. Mas tem outro fator que deve estar presente neste ato ofensivo para realmente ser configurado como prática racista: o poder. Nós não conseguimos materializar o poder, o que de cara pode parecer algo complicado de ser identificado, né? Só que quando paramos para olhar a história de cada etnia, fica fácil entender. Negros e indígenas, por exemplo, nunca possuíram poder em relação aos brancos dentro da sociedade. Com isso, eles passaram (e ainda passam) por situações humilhantes e de submissão, já que não tinham direito e poder em relação às suas próprias escolhas.
2. Brancos têm privilégios?
Uma pessoa branca jamais será perseguida por um segurança dentro de uma loja ou perderá a vida de forma violenta depois de ser confundida apenas por conta da cor da sua pele. Se isso acontecer com, será por conta de suas roupas, aparência, qualquer coisa, mas pela etnia dela não. Por isso, quando alguém que não tem seus direitos violados por conta de raça afirma que sofre racismo, a pessoa, além de não reconhecer seus privilégios raciais, ainda está forçando a barrar para se encaixar em algo, que se ela tivesse realmente noção, jamais desejaria passar por isso.
3. Em 2019, negros ainda estão em desvantagem?
No vídeo, a YouTuber comenta que atualmente alguns negros nem sofrem mais racismo. Se você conversar com pessoas afrodescentes, pode até encontrar algumas que vão falar que não sofrem. Mas vale lembrar que a injúria racial, ofensa contra a etnia de um indivíduo oprimido, e o racismo, ofensa contra determinado grupo étnico oprimido, não é só chamar de macaco. O preconceito racial também é estrutural. Isso acontece quando uma escola quase não tem alunos negros ou você passa a vida inteira sem encontrar um médico negro no hospital, por exemplo. Por isso, mesmo depois de 131 anos da abolição da escravatura, não existe uma pessoa negra no Brasil que não seja prejudicada pelo racismo de alguma maneira.
4. Ofensa x Racismo
Certamente, ouvir ofensas não é algo agradável. Por isso, independente da etnia, a pessoa que faz um comentário desrespeitoso está errada, sim. Só que não podemos confundir ofensa com racismo, já que este último depende da relação de poder, como já vimos no primeiro item. Se uma pessoa branca recebe um comentário preconceituoso de uma pessoa negra sobre o tom da sua pele, temos aí um caso de ofensa, mas não de racismo.
Ninguém gosta de sofrer racismo, muito menos tem orgulho de ser vítima dele. Se você ocupa tem uma etnia que te protege desse tipo de preconceito, procure alternativas para não ser um racista e, principalmente, para ser uma pessoa antirracista. Inclusive, você encontra algumas dicas em uma matéria que publiquei aqui na coluna anteriormente.
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Beijo,
@anacarolipa