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3 influenciadoras negras falam sobre sua conexão com literatura preta

É - muito - importante nos enxergarmos em personagens pretos na literatura. Mas muito, mesmo!

Por Roberta Gurritti, especial para a CH 27 ago 2022, 06h00
Literatura negra
convidei 3 amigas, pretas, influenciadoras e leitoras para compartilharem sua experiência. Reprodução/Instagram/Montagem//CAPRICHO

Sempre falamos sobre a importância de ter pessoas pretas em comerciais, filmes, séries, novelas, livros… E, para mim que estou no mundo da literatura, demorou anos até que eu pudesse, de fato, começar a me ver nos livros.

Na verdade, livros com personagens pretas como protagonistas de romances, fantasias e todos os outros gêneros só começaram a chegar para mim em 2020 e então, comecei a me ver em personagens femininas fortes com o mesmo cabelo que o meu, com os meus traços e cultura. Pois é.

 

 

Foi aí que me senti totalmente à vontade em fazer “cosplay”. Eu não precisava usar peruca, muita maquiagem ou qualquer coisa que alterasse tudo o que é conectado comigo ou com quem eu sou. A primeira personagem que fiz – e que me despertou para isso – foi a Zélie de “Filhos de Sangue e Ossos”.

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E, depois dela, muitos outros personagens. Nesta semana eu convidei 3 amigas, pretas, influenciadoras e leitoras para falar um pouco sobre a visão que elas têm sobre a importância de se ver nesses personagens aqui na coluna. Vamos lá:

  1. Mira, do @mirareadingmaps:

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“Filha de um bibliotecário, cresci cercada de livros e o incentivo à leitura sempre esteve presente em minha vida. Mas, enquanto eu me apaixonava por mundos novas e narrativas espetaculares, nunca de fato pude me conectar com os personagens que eu acompanhava pois muitas vezes suas vivências não condizem com a minha.

Quando comecei a falar de livro na internet, em 2019, o mercado editorial brasileiro estava dando passos maiores ao buscar autores e histórias com protagonismo negro. Enfim eu pude me ver nos livros que eu tanto amava indicar. Outros leitores conversavam comigo, falavam que queriam muito ver um personagem com as mesmas características físicas, que adorariam ver eles passando pelas condições e esse foi o meu estímulo para buscar e indicar cada vez mais esses livros.

Só comecei a me ver realmente em livros quando vi uma capa com uma pessoa negra de cabelo crespo, com trança, com a cor da pele retinta. E percebi que eu poderia contar a minha história, compartilhar vivências, escutar a voz do outro e formar uma rede de apoio a partir do meu maior amor: os livros!”

2. Day, do @dayescreve:

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“Se tem uma coisa que faz diferença na nossa vida é a representatividade. Se ver em uma história é extremamente importante para pensar além das possibilidades da sua própria vida, entender que você pode estar em vários contextos diferentes e que não há nada fora do limite. Quando isso acontece, a sua realidade é mudada.

No entanto, é preciso pensar na importância da representatividade ser bem construída e que nem todos os personagens irão, de fato, te representar. É importante termos personagens negros diferentes, que gerem identificação em pontos e pessoas distintas. Assim, quanto mais, melhor.

Nossas estantes são repletas de personagens brancos vivendo romances, aventuras, terror, suspenses, na escola, na faculdade, em terras mágicas, então por que não nos vermos neste contexto também? Isso nos abre um mar de possibilidades e sentimentos que devem ser cada vez mais incentivados. Quando sai uma notícia de uma criança preta se identificando, ainda ficamos surpresos e com o coração aquecido, é importante que essa situação seja normalizada. Por isso é relevante o trabalho de autores independentes, publicando suas histórias que, muitas vezes, não são vistas pelas grandes editoras. Eles fazem a diferença.”

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3. Ashley, do @ashleymlia:

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“Inserir personagens negros na literatura, de forma realista, humanizada e proporcional à população é necessário e urgente. Ter representação positiva de pessoas negras em obras literárias impactam o sentimento de pertencimento de jovens que nunca se viram em nenhum lugar. É capaz de contribuir na construção da autoestima e de passar uma mensagem importantíssima para a sociedade, que é a de que nós, pessoas negras, existimos.

Só depois de adulta que tive acesso a uma história de fantasia (meu gênero literário favorito) com protagonismo negro. E ler essa história vendo que meninas negras, como eu, estavam sendo descritas como fortes, guerreiras, inteligentes e até como pessoas com sangue de deusas, foi uma sensação indescritível. A imaginação, o sonhar, deveria ser um direito de todos.

Só o fato de ter lido essa história me fez terminar o livro com uma sensação completamente diferente da que tive em qualquer livro que já li, porque ali eu me sentia importante e forte. Meninas e meninos negros também têm o direito de se sentirem importantes e fortes. Tenho certeza que a experiência de uma pessoa negra que cresceu se vendo em espaços como o cinema e a literatura têm uma relação totalmente diferente consigo mesma.”

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Você consegue se ver nos personagens que lê?

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