Lip tint natural? Descobrimos a técnica milenar usada por artesãs peruanas
Conhecemos os saberes ancestrais por trás das técnicas de tingimento feitas por uma comunidade têxtil em Cusco, no Peru
Na viagem que a CAPRICHO fez ao Peru no início de junho, a convite da Salon Line, acompanhamos de perto os bastidores da encantadora produção de artesanato local feita por mulheres peruanas e aprendemos muito sobre as técnicas de tecelagem e de tingimento natural, todas provenientes de conhecimentos ancestrais, que elas usam.
Em visita à comunidade de Chinchero, localizada no entorno do Vale Sagrado dos Incas, na região de Cusco, as artesãs de um centro têxtil nos explicaram como usam recursos providos pela natureza para realizar seus trabalhos. Primeiro, entendemos que ocorre uma lavagem da lã, oriunda da tosa das alpacas ou das ovelhas, com o auxílio de uma raiz de cacto que tira as sujeiras – e que também era usada como xampu desde a época dos povos pré-colombianos.
Depois, elas deram exemplos de várias plantas que possuem propriedades medicinais e são utilizadas no processo de tingimento natural. É aí que vemos, na prática, a biodiversidade única que existe no Peru e a técnica milenar da extração de pigmentos, que é passada de geração em geração.
Um dos momentos que mais chamou a nossa atenção foi quando as artesãs mostraram como utilizam uma espécie de cochonilha, conhecida como corante carmim (Dactylopius coccus), que é um pequeno parasita encontrado no cacto. Não são os machos voadores que são colhidos, mas sim as fêmeas sem asas, que liberam um pigmento avermelhado. Além de tingir as lãs com esse extrato, elas também o usam como tint para os lábios e bochechas, especialmente quando estão se produzindo para festas. Com muito senso de humor, elas ainda afirmaram que o vermelhinho dura 24 horas no rosto e é à prova de beijos. Hahaha!
É importante entender que o uso da cochonilha é uma técnica muito antiga do Peru, que faz parte dos saberes ancestrais de muitas artesãs que trabalham na região dos Andes, mas também existem controversas e discussões a respeito do conhecido corante carmim. Isso porque é comum que ele seja apropriado pelas indústrias alimentícia e cosmética, que o colocam em produtos como iogurtes, sorvetes e, no caso do mercado da beleza, em batons.
Acontece que, frequentemente, há uma falta de transparência por parte das indústrias quando a substância extraída do inseto não aparece escrita nos rótulos. Outro ponto é a existência de ativistas que, com o intuito de proteger os insetos, são contra o uso do carmim. Em reportagem da BBC, o grupo de defesa dos animais Peta declarou que “o rápido crescimento no número de pessoas seguindo um estilo de vida vegano está incentivando mais e mais empresas a desenvolverem produtos amigos dos animais, por isso nunca foi tão fácil escolher itens veganos para substituir aqueles itens que são criados a partir do sofrimento dos animais”.
Por outro lado, esse corante é um queridinho pela facilidade de extração e sua alta durabilidade ao longo do tempo. Fora isso, trata-se de um recurso natural que há muitos séculos sustenta produtores locais e faz parte da economia do Peru.
E aí, o que você achou de aprofundar seus conhecimentos sobre práticas ancestrais no tingimento natural feito por artesãs peruanas desde a era pré-colombiana, antes do aparecimento dos europeus no continente americano?