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‘Precisei sair do Brasil para que me ouvissem’, diz Georgia, selecionada para programa em Harvard

"Imagina que legal se você morresse?", a jovem já chegou a escutar isso dos colegas de sala. Hoje, após muita dedicação, ela foi uma das duas brasileiras selecionadas para defender nós, mulheres, nos EUA.

Por Da Redação Atualizado em 28 jul 2016, 17h48 - Publicado em 6 dez 2014, 08h46

“Seu projeto é incrível para uma estudante do ensino médio sem formação. Seria muito bacana se pudéssemos trabalhar juntos”. Georgia Gabriela escutou essa frase recentemente, na Universidade de Harvard, do médico e pesquisador norte-americano Marc Laufer. Aos 19 anos, a moradora de Feira de Santana, na Bahia, foi uma das duas brasileiras selecionadas para o programa de incentivo a jovens talentos chamado Village To Raise a Child . (Já conferiu a história da Raíssa Müller, a outra brasileira selecionada? Então, clica aqui !)

Georgia desenvolveu, sozinha, um projeto que propõe um exame menos invasivo para o diagnóstico da endometriose, doença que afeta mais de seis milhões de brasileiras, de acordo como uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Endometriose. Ela é caracterizada pela presença de tecido uterino, que se desprende durante a ovulação, em outros órgãos, como nos ovários, nas trompas e até na bexiga. Como os sintomas são muito parecidos com os da TPM (cólica, cansaço, alteração na flora intestinal), o exame de toque é o mais eficiente, mas o diagnóstico tardio pode deixar a mulher infértil antes do tempo.

A inspiração da estudante foi a própria tia, que, por não ter condições de pagar o exame, acabou descobrindo a doença já em estágio avançado e precisando tirar o útero. “Ela vibrou muito com a minha conquista! Também recebi muitas mensagens de mulheres com o diagnóstico que se mostravam esperançosas com a minha pesquisa”, revela Georgia.

Contudo, apesar de o programa em Harvard ser um verdadeiro sonho, ele denuncia algumas falhas no sistema educacional brasileiro. “Precisei sair do Brasil para encontrar pessoas que ouvissem o que eu estava tentando dizer há três anos”, desabafa a jovem, que está agora se preparando para prestar vestibular nos Estados Unidos. “Investimento em pesquisa, no nosso país, ainda é raro e difícil de conseguir”, afirma.

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A ideia de Georgia ultrapassa os limites da medicina, pois sua maior vontade é trazer melhorias para a população feminina da sua cidade. “Meu projeto se refere a uma minoria dentro da minoria, que é o grupo de mulheres negras de baixa renda”, explica a jovem de 19 anos, que acredita que toda garota deveria ser feminista. “Feminismo é igualdade, respeito e oportunidades iguais. Ainda há um caminho enorme a ser trilhado”.

No início de seu vídeo de inscrição para o programa, a estudante questiona o modo como muitas brasileiras são tratadas: como objeto. Em meio a tantas discussões sobre o tema, perguntamos o que ela acha sobre as polêmicas envolvendo as cantadas que as meninas recebem nas ruas : “o simples fato de você receber uma cantada em um lugar público já é uma objetificação. Apesar de nem toda cantada ser violenta, é preciso acabar com o assédio e com as cantadas invasivas e humilhantes”, opina.

Oportunidades: essa é a palavra que melhor define a história da Georgia Gabriela da Silva Sampaio, uma jovem que acabou de se formar no Ensino Médio, com bolsa integral, aprendeu inglês sozinha, desenvolveu um projeto por conta própria e soube aproveitar as chances da vida. “Mesmo com todas as possibilidades contrárias, como falta de dinheiro e de incentivo, eu dei a cara à tapa e provei para todo mundo, e para mim mesma, que eu era capaz, apesar de já ter sofrido bullying no colégio e já ter sido excluída socialmente diversas vezes, por ser uma garota pobre e negra “.

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