Continua após publicidade

Por que alguns psicopatas da ficção ainda são tão romantizados?

Entre figuras como Joe Goldberg ou Tate Langdon, um ponto costuma perder-se em um assunto sério: relações abusivas não são saudáveis nem admiráveis.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 2 fev 2019, 10h00 - Publicado em 2 fev 2019, 10h00

Muitas de nós crescemos com visões diferentes sobre o que é o amor e como ele é demonstrado. Algumas meninas ainda acreditam que deve ser algo parecido com aquele príncipe encantado dos contos de fadas, outras preferem manter mais os pés no chão e esperar por uma pessoa comum, provavelmente da mesma escola, faculdade ou trabalho. O que a maioria deve concordar, contudo, é que o amor envolve alguém que não mede esforços na hora de fazer qualquer coisa por você. Não é? Mas, calma aí! Será que qualquer coisa é justificável se for “considerada” um ato de amor?

Reprodução/Reprodução

Não, não é. Existe uma linha nada tênue entre relações saudáveis e relações abusivas, mas essa divisão ainda costuma “passar batida” por muita gente. Tanto na vida real quanto na ficção. Como dito lá em cima, há muitas visões distintas sobre o amor – e deveria mesmo, já que é um assunto tão complicado de entender e lidar. Tem gente que acredita em amor à primeira vista, tem quem ache que o primeiro amor é realmente inesquecível, tem até quem pense que só dá para se apaixonar depois de conhecer a pessoa por um longo tempo, enfim. O que não deve ser ignorado, entretanto, são as visões totalmente distorcidas do amor e de qualquer outro sentimento afetivo.

Talvez você ainda não tenha conhecido ninguém assim na vida real (e tomara que não conheça!), mas essas pessoas estão sempre representadas na ficção. Psicopatas como Tate Langdon, de American Horror Story, e Joe Goldberg, da série recém-lançada Você, protagonizaram relacionamentos muito abusivos na televisão, mas, mesmo assim, foram motivos de suspiros apaixonados por muitas meninas. Grande parte delas, inclusive, torcia para os casais darem certo.

Infelizmente, poucas garotas crescem sendo conscientizadas desde cedo sobre o que é abusivo. Por isso, não é sua culpa se alguma vez você tenha se afeiçoado aos personagens problemáticos como Tate e Joe – ainda mais quando eles carregam um certo charme e aquele famoso discurso de “só faço isso porque estou apaixonado”. Nos casos em que existe algum episódio traumático no passado do protagonista, fica ainda mais fácil tentar justificar as ações dele porque “é quase compreensível ele ter ficado assim”. Se identificou? Isso acontece, principalmente, porque na ficção os roteiristas usam uma manipulação muito bem estruturada para te fazer se apegar ao personagem ao ponto de relevar as atitudes erradas dele. E é assim que ocorre também na vida real.

Um exemplo recente de como o abuso passa despercebido foi a declaração de Millie Bobby Brown, de Stranger Things. A atriz de 14 anos publicou um vídeo no Instagram Stories defendendo o personagem da série Você, afirmando que ele apenas estava apaixonado pela moça. Na internet, a polêmica chegou ao Brasil rapidinho e a Maisa Silva, que já havia se posicionado sobre o comportamento preocupante do protagonista, respondeu sem culpar Millie pelo erro: “Por isso é importante conscientizar as meninas dessa faixa etária (estou incluída) do que é AMOR e o que é abuso. Não xinguem a garota por não enxergar, porque ela ainda é muito nova”.

À medida que a gente cresce, passa a entender um pouco mais sobre alguns assuntos e pesquisar mais sobre outros, essa simpatia por psicopatas atraentes e manipuladores da televisão começa a desaparecer aos poucos. Ainda assim, você precisará se policiar toda vez que algum sinal de relacionamento abusivo, na ficção ou não, passe despercebido ou seja considerado algo normal pelo seu subconsciente – e isso acontece muito, viu?

Continua após a publicidade

Giphy/Reprodução

Relações abusivas não incluem necessariamente apenas psicopatas, homens e nem sempre são apenas os relacionamentos amorosos que se tornam abusivos. Qualquer pessoa pode ser abusiva, do ponto mais leve ao mais extremo. É por isso que é tão importante se atentar aos sinais: se a pessoa invade sua privacidade, controla suas amizades, reclama das suas roupas, te faz passar mais tempo com ela do que com outras pessoas, tenta te convencer de que sua vida está melhor com ela e que tudo que ela faz, mesmo as coisas ruins, é por você. Não parece uma relação muito saudável e bonita, né? O amor deve ser construído e mantido com respeito, parceria e liberdade.

Não vamos romantizar aquilo que ainda causa tanta dor. Estamos todas juntas nessa luta <3

Publicidade