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O Caso Valentina e o debate online sobre assédio e pedofilia

Vale lembrar que a Valentina tem a mesma idade que muitas leitoras da CAPRICHO, que a irmã mais nova da sua amiga, que a sua colega de sala...

Por Isabella Otto Atualizado em 30 jan 2018, 17h39 - Publicado em 23 out 2015, 11h50

“Estávamos preparados para o assédio e as consequências possíveis, mas não imaginávamos encontrar tarados”, esse trecho foi retirado da entrevista concedida pelo pai da chef mirim Valentina Schulz, participante da primeira edição brasileira do programa MasterChef Júnior, ao site IG . Aos 12 anos, Valentina sofreu o seu primeiro assédio durante a transmissão da estreia do programa, no dia 20. Comentários como “Viu o penta do São Paulo, já aguenta” e “Vai virar aquelas secretárias de filme pornô” pipocaram nas redes sociais, principalmente no Twitter. Veja mais exemplos abaixo:

O pai da participante afirma que os comentários não chegaram à filha, já que um moderador cuida das páginas de Valentina nas redes sociais. Os usuários que fizeram os comentários de mau gosto e foram mencionados na repercussão do caso também já tiveram suas contas removidas. Mas isso não minimiza o problema, nem tira o peso de tais agressões que podem e devem (!!!) ser classificadas como pedofilia.

Na última quinta, 22, a Rede Bandeirantes divulgou uma nota oficial e se posicionou a respeito dos comentários sexuais envolvendo o nome da participante. “Nem de longe há qualquer tipo de provocação a esse tipo de estímulo”, informou a emissora, que fez questão de deixar claro que o foco do programa é o talento culinário das crianças, assim como acontece na versão adulta, e classificou os comentários no Twitter como “desagradáveis manifestações de extremo mau gosto” .

Uma página no Facebook intitulada “Admiradores da Valentina Schulz” também foi criada. Nela, fotos da participante com legendas incentivando os comentários pedófilos são publicadas, assim como postagens incentivando o ódio na internet, pregando o desrespeito, estereotipando e sexualizando a imagem da menina . Isso nos faz refletir, dentre tantos outros questionamentos, o que passa pela cabeça de uma pessoa que tem pensamentos do tipo, que acha legal compartilhá-los nas redes (“porque é só uma zoeirinha da web”) e que, ainda por cima, os defende abertamente no meio online e, muitas vezes, fora dele?!

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O site Think Olga se posicionou sobre o Caso Valentina e foi além: criou a hashtag #meuprimeiroassedio , a fim de trazer à tona outras casos envolvendo assédio e pedofilia. A repercussão é chocante, assustadora, inacreditável . Mas pode acreditar em uma coisa: a importância dessa iniciativa e dessa discussão é real. A jornalista Carol Patrocínio lembra que “enquanto meninas são encaminhadas a uma maturidade precoce, os meninos e homens são perdoados por todos seus erros porque são apenas garotos, independente da sua idade(…) Some a toda essa cultura a ideia de que todas as mulheres são vagabundas”, escreveu em uma matéria publicada na plataforma M edium .

É importante lembrar que em caso de pedofilia, você pode ligar gratuitamente para o número 100 e fazer uma denúncia anônima. Caso sinta-se mais confortável usando a internet, mande um e-mail para denuncia.ddh@dpf.gov.br (Polícia Federal). Lembre-se de que denunciar o usuário nas próprias redes também é importante. Assim como botar pra fora! Nós sabemos que, para algumas pessoas, falar de algum tipo de assédio sofrido é traumático, mesmo após anos e anos desde o ocorrido, mas a tag #meuprimeiroassedio pode te ajudar a desabafar, a encontrar apoio em outras vítimas e a tornar público e trazer para discussão algo tão sério como pedofilia e abuso sexual, ambos crimes previstos em Lei !

Uma por todos, e todas pela Valentina!

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