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Agrotóxicos: não tem mesmo para onde correr?

Neste sábado, 11, acontece o Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos; saiba mais sobre o assunto!

Por Isabella Otto Atualizado em 11 jan 2020, 17h57 - Publicado em 11 jan 2020, 10h00

Muitas crianças e adolescentes dos anos 90 talvez tenham tido seu primeiro contato com a palavra “agrotóxico” com a morte do cantor Leandro, que fazia dupla com Leonardo. Em 1998, ele faleceu devido a um raríssimo câncer de pulmão e, na época, especulou-se que a doença poderia ter sido desencadeada pela fumaça dos agrotóxicos com a qual era frequentemente exposto em sua juventude, quando trabalhava em uma plantação de tomates. Até hoje, essa suposição vive no imaginário coletivo e faz a gente pensar: será? Será que não tem para onde correr? Os agrotóxicos são o nosso fim?

Pesticida sendo injetado dentro da fruta Mihajlo Maricic/EyeEm/Getty Images

Apesar de, no último ano, o consumo de alimentos orgânicos ter crescido, conforme relata levantamento do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), publicado no blog Alimentos Orgânicos: Sabor Sem Veneno, do Estadão, não dá para fechar os olhos para o fato de que, também em 2019, a quantidade de agrotóxicos liberada no Brasil alcançou seu maior número. Os índices mostrados pelo Greenpeace, levantados pelo Ministério da Agricultura, mostram uma alta de 322% entre os anos de 2010 e 2019.

Levando em conta que, segundo o IBGE, a renda média mensal de mais da metade dos brasileiros é inferior a um salário mínimo (cerca de R$ 928) e que os alimentos orgânicos custam mais caro que os não orgânicos, não dá para ser otimista a ponto de pensar que todos os brasileiros têm acesso a essa tipo de alimento e que só não é saudável que não quer.

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Veja só a seguinte comparação de preços: 400g de maçã orgânica, ou seja, duas unidades da fruta, no supermercado Marche, saem por R$ 16,99. No Pão de Açúcar, 1kg de maçã não orgânica, isto é, cerca de 15 unidades da fruta, sai por R$ 4,23. No site Mercado Orgânico, a unidade da alface americana sai por R$ 5. Na feira, a unidade não orgânica da verdura pode ser encontrar por até R$ 4. Somando tudo, o preço final do carrinho dá uma diferença boa, que, em 60% dos casos, não pode ser bancada pela população.

Há então quem diga que a solução é lavar as frutas, os legumes e as verduras com bicarbonato de sódio. Um estudo feito pelo departamento de Veterinária e Ciências Animais da Universidade de Massachussets, nos EUA, em 2017, mostra que praticamente todos os agrotóxicos que existem na superfície das frutas, ou seja, na casca, são eliminados se os alimentos forem deixados por volta de 15 minutos em uma solução de bicarbonato de sódio a 1% diluído em água (10mg/mL). O teste foi feito com maçãs. O Dr. Drauzio Varella, famoso médico oncologista, cientista e escritor brasileiro, em seu blog pessoal, mostrou que a pesquisa tem seus poréns. Por exemplo: o bicarbonato não consegue remover os resíduos de agrotóxicos que penetraram na fruta (entre 4% e 20% da substância) nem é válido para todos os tipos de pesticidas, já que foram analisados dois tipos deles (tiabendazol e fosmete) no estudo norte-americano, que são usados no estágio final do cultivo da maçã. Durante o processo, mais agrotóxicos são despejados sobre o alimento.

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“Dicas de sobrevivência” com relação aos agrotóxicos encontradas no site da Anvisa Site da Anvisa/Reprodução

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a medida de segurança mais certeira é, além de higienizar em casa as frutas, as verduras e os legumes com água (mesmo que com a diluição de algum componente extra de limpeza, como o bicarbonato, no líquido), respeitar o intervalo de sete dias desde a aplicação do último pesticida até a colheita.

Mesmo que as enormes quantidades de agrotóxicos liberados no Brasil sejam utilizadas levando em conta as recomendações da Anvisa, um estudo do Instituto Butantan realizado no último ano mostra que os pesticidas são altamente tóxicos ao meio ambiente e à vida no geral. “Não existem quantidades seguras(…) Se [os agrotóxicos] não matam, causam anomalias”, garante a imunologista Mônica Lopes-Ferreira, diretora do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, responsável pela pesquisa do Butantan, em entrevista ao UOL.

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Para onde correr? Tirar a casca das frutas e legumes, por exemplo, é uma solução? Mas não é justamente a casca que contém os principais nutrientes do alimento? Como jogar fora essas partes em uma sociedade que diariamente precisa lutar contra o desperdício, principalmente de comida? Especialistas aconselham a procurar alimentos com o selo orgânico sempre que possível, nos supermercados, nas feiras, nas feirinhas comunitárias, direto dos produtores… Se não for possível, higienizar os alimentos o máximo possível, deixando-os de molho, em uma solução com bicarbonato ou vinagre, é a saída mais acessível. Na internet, também é fácil encontrar campanhas e projetos de ONGs que lutam contra os agrotóxicos, que são, sim, importantes para a produção em larga escala, mas trazem riscos à saúde dos produtores e dos compradores.

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