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Quem está por trás da tentativa de envenenamento das estudantes iranianas?

Nos últimos dias, mais de mil garotas "rebeldes" precisaram de atendimento médico em aproximadamente 50 escolas do Irã, em clara tentativa de silenciamento

Por Isabella Otto Atualizado em 29 out 2024, 18h53 - Publicado em 10 mar 2023, 14h25

Desde a Revolução Islâmica, em 1979, nunca antes o descontentamento com relação ao regime sociopolítico do Irã foi tão forte.

O clima tenso se intensificou no final do ano passado, quando a estudante Jina Mahsa Amini, de 22 anos, morreu dias após ter sido abordada pela Polícia da Moralidade em Teerã, onde estava de férias com a família.

De acordo com as autoridades, Amini foi detida por usar o véu – uma obrigatoriedade no país – de maneira indequada. A família afirma que a jovem foi agredida pelos policiais, o que resultou em sua hospitalização e, consequentemente, no seu óbito.

Em um primeiro momento, a polícia disse que a garota sofreu uma parada cardíaca, fato que foi desmentido pela perícia. “Ela morreu devido à falência múltipla de órgãos causada por hipóxia cerebral”, atestaram os médicos legistas, relacionando a fatalidade a um tumor cerebral que Amini operou ao 8 anos de idade – mas sem dar maiores detalhes.

O caso dos envenenamentos

A morte de Mahsa Amini foi o estopim para que uma onda de protestos contra a Polícia da Moralidade e os códigos de vestimenta impostos pela Lei Islâmica (que rege o Irã) explodisse no país e no mundo.

No início deste mês, em que é celebrado o Dia Internacional das Mulheres, surgiu a denúncia de que mais de mil estudantes precisaram ser socorridas nos últimos dias em cerca de 50 escolas iranianas.

As queixas eram sempre as mesmas: tontura, enjoo e palpitações. Curiosamente – ou não -, as vítimas eram todas meninas que tinham anteriormente se rebelado contra os códigos de vestimenta.

A suspeita é de que grupos extremistas estejam à frente dessas tentativas de silenciamento que, segundo as autoridades, foram feitas com gás tóxico.

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Protesto em Londres, no dia 8 de março de 2023. Vestidas de aias, ativistas seguram cartazes com fotos das mulheres mortas pela Polícia da Moralidade
Protesto em Londres, no dia 8 de março de 2023. Vestidas de aias, ativistas seguram cartazes com fotos das mulheres mortas pela polícia iraniana Wiktor Szymanowicz/Anadolu Agency/Getty Images

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, disse que o caso é “um crime imperdoável” e que os responsáveis devem ser identificados e condenados à morte.

A ONG Centro de Direitos Humanos do Irã monitora toda a questão para prestar suporte às vítimas e entender de que maneira os episódios de envenenamento estão relacionados ao governo iraniano.

“Esses crimes expõem a mentalidade fanática, sem lei e violenta que está ressurgindo sob este governo irresponsável e tentando forçar o país inteiro, especialmente as mulheres, a retroceder”, disse Hadi Ghaemi, diretor executivo da ONG.

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Em contrapartida às investigações, que pretendem dar respaldo às estudantes, Gholamhossein Mohseni Ejei, chefe do Poder Judiciário, tornou a Lei Islâmica ainda mais severa para as mulheres e decretou, na última segunda-feira (06), novas medidas para aquelas que violarem os códigos – mesmo que como forma de protesto ou levianamente.

"Quem você chama quando os assassinos são a própria polícia?", diz cartaz de estudante iraniana durante protesto em Roma, na Itália
“Quem você chama quando os assassinos são a própria polícia?”, diz cartaz de estudante iraniana durante protesto em Roma, na Itália Matteo Nardone/Pacific Press/LightRocket/Getty Images

O que diz o Código de Vestimenta do Irã?

Lenços cobrindo todo o cabelo e calças compridas são itens obrigatórios para as mulheres. Uma mecha de cabelo à mostra em público pode ser o bastante para que a Polícia da Moralidade entre em ação – como aconteceu com Amini.

Curioso, contudo, notar que a estudante foi autuada em Teerã, onde, teoricamente, existe mais tolerância com relação ao uso do hijab.

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O código vale para todas as mulheres, inclusive para as turistas – mesmo as ocidentais, embora seja feita vista grossa – que visitam o país. Os braços, as pernas e a cabeça devem ser cobertos. O ato é, acima de tudo, uma forma de respeito a Deus.

Estudantes nos anos 70, pré-Revolução Iranianas
Estudantes nos anos 70, pré-Revolução Iraniana Getty Images/Getty Images

Entre 1936 e 1979, ano da Revolução Iraniana, o uso do hijab não era obrigatório. “Antes de 1979, havia discotecas e locais de entretenimento. Éramos livres para nos socializarmos como quiséssemos”, disse Rana Rahimpour, apresentadora iraniano-britânica do Serviço Persa da BBC, em entrevista para a repórter Margarita Rodríguez.

O que foi a Revolução Iraniana?

Resumidamente, foi a tomada de poder pelo aiatolá Rouhollah Khomeini, no dia 1º de fevereiro de 1979, que voltou do exílio e derrotou o xá Reza Pahlevi, ditador que era simpático aos EUA.

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O principal intuito de Khomeini era acabar com o que chamava de “islamismo americanizado”, implementando um governo xiita e rompendo com os muçulmanos sunitas.

Foi nessa época de transição que costumes tidos como ocidentalizados foram proibidos, como o uso de algumas peças de roupa, como saia. O véu voltou a ser um item obrigatórios e um rígido código de vestimenta foi implementado, minando a liberdade das mulheres iranianas.

Não à toa, o slogan dos protestos contrários ao governo é “Mulher, vida, liberdade”.

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