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Por que votar nas eleições em 2024, mesmo se você tem entre 15 e 17 anos

Vamos repetir até cansar: tirar o título de eleitor vai tornar o seu dia a dia melhor e vale a pena. Mas nossa galera está menos engajada neste ano.

Por Andréa Martinelli 2 Maio 2024, 06h00
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ocê que acompanha a CAPRICHO já sabe que quando o assunto é eleição – seja geral ou municipal – vamos traz pautas que mostram a importância da política no seu dia a dia e de como é preciso valorizar o poder do voto.

Faltam poucos dias para você tirar o seu título pela primeira vez ou regularizar a sua situação com a justiça eleitoral e você deve estar se perguntando: se eu tenho entre 15, 17 e 18 anos, porque devo ir atrás disso, se nesta idade ainda não é obrigatório emitir o documento?

Se você não tá lembrado (ou se essa vai ser a sua primeira eleição), vamos votar para prefeito e vereador, elegendo representantes para ocupar o cargo máximo nas nossas cidades e os vereadores que vão povoar as Câmaras dos Vereadores.

A gente já comentou sobre isso antes, mas a política é o tipo de assunto que nunca pode sair do seu radar. Isso porque cada decisão que envolve a eleição dos nossos representantes têm um impacto direto no nosso dia e das pessoas ao nosso redor. E esta é a reposta para a pergunta acima: não é porque você é jovem que não deve participar dessas decisões, ok?

 

 

E, não, não vale pensar sobre isso só na hora de eleger um presidente – esse cargo é importante, mas presidente nenhum cuida de um país do tamanho do Brasil sozinho. 

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“Existe muita confusão sobre as atribuições de cada cargo e esfera – federal, estadual e municipal – e as pessoas frequentemente imaginam que o presidente cuida de tudo”, explica Guilherme Simões Reis, professor da Escola de Ciência Política da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). “A prefeitura é a responsável central por vários serviços públicos que afetam nossa vida.”

Mas, por que a galera está menos engajada neste ano eleitoral, CAPRICHO?

E é importante você saber que, neste ano, o engajamento da nossa galera está em um dos patamares mais baixos dos últimos anos em uma eleição municipal. Como nada nessa vida é por acaso, fomos entender o porquê.

No estado de São Paulo, por exemplo, o percentual de jovens com título de eleitor, na faixa etária entre 16 e 17 anos, ainda é pequeno se comparado com os últimos anos. Segundo o portal das estatísticas da Justiça Eleitoral, até o final de março apenas 163.061 pessoas nesta faixa etária haviam feito o cadastro para emissão documento.

O Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que a população do estado nesta faixa etária é de aproximadamente 1,14 milhão – ou seja, temos apenas uma parcela de 14,2% da nossa galera interessada neste ano.

Para os adolescentes de 16 e 17 anos a participação nas eleições é facultativa, ou seja, eles têm o direito de se alistar e votar, porém, não são obrigados. No entanto, a CAPRICHO, organizações do terceiro setor e também a Justiça Eleitoral incentiva a participação desse eleitorado com ações educativas.

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A nível nacional, os números ficam ainda mais preocupantes. Segundo o TSE, é possível observar um aumento expressivo no número de novos requerimentos no mês de abril, mas que não foram o suficiente para reverter o cenário, principalmente entre a galera jovem.

Novos alistamentos entre a faixa etária de 16 e 17 anos somam, ao total, 579.653 mil pessoas. Até o momento, os dados mostram que esse eleitorado corresponde a mais de 1,2 milhão de jovens. E, se olharmos para os dados da Pnad Contínua, do IBGE, o Brasil possui uma população de 210,1 milhões de pessoas, dos quais cerca de 54 milhões têm menos de 18 anos. 

Você deve se lembrar que, lá em 2022, quando votamos pela primeira vez para presidente, chegamos ao total de 2,1 milhões de jovens nessa faixa etária aptos a votar. Em 2018, esse número era bem menor, de 1,4 milhão. O crescimento daquela época é o equivalente a 51,13%. Mas, por que a galera está menos engajada?

Existem pesquisas mostrando que a juventude não se interessa muito por essa política tradicional, especialmente quando a gente pensa em eleições

Carolina de Paula, da UFRJ

 

 

Sim, a exclusão e a falta de educação política e conexão com o tema ainda persiste – ainda mais em uma eleição que não impacta tanto no noticiário ou em campanhas eleitorais como a para deputados ou presidentes, como a de 2022.

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“Tem também um fenômeno mundial caracterizado por uma descrença na política tradicional, partidária, das eleições… Existem pesquisas mostrando que a juventude não se interessa muito por essa política tradicional, especialmente quando a gente pensa em eleições”, explica Carolina de Paula, cientista política e pesquisadora da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

“Os jovens não se reconhecem muito na classe política, ela não espelha… Principalmente o Legislativo, com aquele perfil tradicional do político brasileiro, o homem branco acima de 50 anos, com um discurso que não mobiliza muito os jovens”. 

Tá, ok. Entendi. Mas por que eu devo votar, então?

Título de eleitor 'gigante' é visto na Avenida Paulista, em São Paulo, com a intenção de incentivar a nossa galera a buscar pelo alistamento eleitoral em 2024.
Título de eleitor ‘gigante’ é visto na Avenida Paulista, em São Paulo, com a intenção de incentivar a nossa galera a buscar pelo alistamento eleitoral em 2024. Reprodução/Instagram

Mais do que votar para presidente, governador e deputados esse ano, o que vale a pena é a gente começar a entender quais pautas políticas já interferem no nosso dia a dia: o preço dos alimentos está aumentando muito (você já deve ter percebido) e o investimento em educação pública caiu demais nos últimos anos.

Se você continua na escola (ou já está na faculdade) e teve que começar a trabalhar durante a pandemia para ajudar com as contas de casa, é provável que seja por um desses dois motivos. Mesmo que você não entenda muito sobre economia ou como as políticas públicas funcionam, deve ter percebido que a situação não está fácil para ninguém. 

O trabalho está, principalmente, no desenvolvimento da nossa autoestima política, que cresce em um ambiente acolhedor e em momentos de reflexão.

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Outro motivo para participar das eleições desse ano é começar conversas que, até então, ficavam bem distantes de nós. Que tal mudar o “tom de bronca”, como se as pessoas estivessem insistindo que a juventude não se interessa ou que não tira o título de eleitor por falta de vontade ou impotência. Uma saída é buscar mais diálogo e identificação.

O trabalho está, principalmente, no desenvolvimento da nossa autoestima política, que cresce em um ambiente acolhedor e em momentos de reflexão. Se você quer ver mais mulheres na política, por exemplo, o voto é um grande aliado para isso acontecer. O mesmo se o seu desejo é ver a floresta de pé ou que as mudanças climáticas sejam levadas a sério.

Neste mês, algumas organizações do terceiro setor levaram para a Avenida Paulista, em São Paulo, um título de eleitor gigante. A réplica do documento é um lembrete de que o prazo para emitir o documento e se tornar apto a votar é até o próximo dia 8 de maio. A campanha é promovida pelo Instituto Lamparina, labExperimental, Girl Up Brasil, Quid, Avaaz, Em Movimento e Politize.

Os dados presentes no cartaz [exibido na imagem acima] são de Edson Luís, estudante assassinado por agentes da ditadura militar em 1968 quando tinha apenas 18 anos – e não tinha um título de eleitor. As eleições diretas, nos moldes como conhecemos hoje, só foram retomadas em 1989, após forte mobilização popular.

“O Edson não era necessariamente um jovem político, ele não estava brigando por política, por algum partido específico, por uma pauta específica, ele estava brigando por comida, melhorias no bandejão, e ele foi assassinado num confronto com a polícia, numa repressão a essa manifestação que estavam fazendo”, detalha o coordenador da campanha, Hércules Laino, à Agência Brasil.

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Nós temos protagonismo, sim. E ele não está só no futuro

“É importante mostrar a diferença que faz o jovem se envolver”, afirma Carolina. “A gente mora num país que tem um sistema público de saúde, um transporte público, um sistema de educação público… que pode ser melhor. É importante que ele eleja pessoas que melhorem o dia a dia dele, mostrando a necessidade de bons políticos, que façam boas políticas públicas.”

Infelizmente, não tem outro jeito da gente desenvolver essa autoestima que não seja estudando. Mas calma, antes que você entre em pânico pensando que tem mais uma coisa para encaixar na sua agenda de estudos, pode ser mais simples: dá para começar se informando aos poucos sobre os assuntos pelos quais você se interessa.

Você não precisa ser expert no assunto, nem entrar em brigas com a sua família ou com os seus amigos por causa disso (acredite, a gente vai ajudar com isso mais pra frente).

Se você se preocupa com a questão climática, que tal acompanhar uma galera que fale sobre isso nas redes sociais? E, a partir daí, será que você consegue fazer mudanças no seu dia para ajudar o meio ambiente e, depois, votar em alguém que também veja a importância disso? 

Você não precisa ser especialista no assunto, nem entrar em brigas com a sua família ou com os seus amigos por causa disso (acredite, a gente vai ajudar com isso mais para frente). Mas tirar o seu título de eleitor para tornar o seu dia a dia melhor vale a pena – e ajuda até mesmo outros adolescentes como você, que não tem tanto acesso à informação ou consciência da importância do voto. 

Não perde tempo: dá para tirar o seu título de eleitor até o dia 08 de maio de 2022. Clica aqui para saber como fazer o seu (e, dessa vez, totalmente presencial, ok?).

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