Por que Virgínia foi convocada para depor na CPI das Bets?
O que é uma CPI? Ela pode ser presa? O que ela disse? Respondemos essas e outras perguntas que podem estar povoando a sua mente neste post.

ocê deve estar se perguntando: por que a influenciadora Virgínia Fonseca apareceu no noticiário político nesta terça-feira (13), vestindo uma camiseta estampada com a filha, segurando uma garrafa Stanley rosa e tirando foto com parlamentares — nesse lugar onde normalmente só vemos políticos ou acusados de corrupção? Pois é. Virgínia foi convocada para depor como testemunha na CPI das BETs.
Mas, antes de te explicar, vamos dar alguns passos atrás. É importante que você saiba o que é uma CPI. Essa sigla significa Comissão Parlamentar de Inquérito. É um grupo de senadores que se reúnem para investigar assuntos que afetam a sociedade. Ela não tem poder de julgamento, mas pode apontar irregularidades e sugerir ações ao Ministério Público, ao governo e a outros órgãos.
A CPI das Bets foi criada para entender melhor o impacto das apostas online no bolso das famílias brasileiras — e investigar possíveis crimes como lavagem de dinheiro ou envolvimento com organizações criminosas.
E onde a Virgínia entra nisso, hein?
Ela foi chamada para prestar esclarecimentos depois que a revista Piauí publicou uma reportagem revelando que seu contrato com a plataforma Esportes da Sorte previa um pagamento inicial de R$ 50 milhões e uma comissão de 30% sobre as perdas dos seguidores que apostassem pelo link divulgado por ela. Isso gerou um grande bafafá: afinal, ela estaria ganhando dinheiro às custas das perdas de seus seguidores.
O que a Virgínia disse na CPI?
Durante o depoimento, Virgínia disse que não se arrepende de ter feito publicidade para casas de apostas, mas que está disposta a aprender com a situação e a colaborar por meio de seu depoimento. Ela também disse que sempre alertou sobre os riscos, que suas publicações seguiam todas regras do Conar e que nunca incentivou menores ou pessoas com histórico de vício a jogar.
Sobre o contrato com a Esportes da Sorte, afirmou que só receberia um bônus se dobrasse o lucro da empresa — o que nunca aconteceu. Disse também que, quando a reportagem saiu, “apanhou calada”, pois o contrato tinha cláusula de sigilo. Segundo ela, esse tipo de cláusula era comum em outros contratos que tinha, não só com empresas de apostas.
Ela confirmou que ainda tem contrato com a Blaze, mas explicou que não usa sua própria conta nos vídeos — a conta demonstrativa seria fornecida pela empresa. Também disse que não ficou milionária com apostas e que sua principal fonte de renda é sua marca de cosméticos, que teria faturado R$ 750 milhões em 2023.
Virgínia afirmou que declarou tudo à Receita Federal e vai entregar os contratos à CPI — mas com sigilo. Ela optou por não revelar valores específicos durante o depoimento, amparada pelo direito ao silêncio garantido pelo STF, que assegura que testemunhas não sejam obrigadas a se autoincriminar ou a revelar informações sensíveis em público. Quando perguntada se vai continuar divulgando apostas, respondeu: “Vou chegar em casa e pensar, pode ter certeza”.
Só a Virgínia está sendo investigada?
A exposição de Virgínia na CPI foi grande também porque ela tem mais de 53 milhões de seguidores nas redes sociais, o que naturalmente atrai mais atenção da mídia e do público. Mas não. A CPI também convocou outros nomes conhecidos, como Rico Melquiades, Adélia Soares e o ex-BBB Felipe Prior, cujo contrato com a Betsat previa ganho de 15% sobre as perdas dos apostadores que usassem seu link. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) também foi acionado para investigar movimentações suspeitas de vários influenciadores.
A Virgínia pode ser presa?
Não por causa da CPI. A CPI serve para investigar e sugerir medidas, mas não tem poder de prender ninguém. Só a Justiça pode fazer isso, e apenas se houver provas concretas de crime. Hoje, a Virgínia não é investigada oficialmente. Ela foi ouvida como testemunha. Mas se durante a CPI surgirem provas de que houve crime, aí o caso pode ser encaminhado para investigação formal.
Caso mais grave é o da advogada Deolane Bezerra, presa em 2023 em uma operação da Polícia Civil por suspeita de envolvimento com apostas ilegais. Ela foi solta depois que o Tribunal de Justiça de Pernambuco aceitou um habeas corpus.
E o que vem agora?
A CPI está investigando tanto as empresas de apostas quanto o papel dos influenciadores nesse mercado. O foco é entender se há práticas ilegais ou abusivas. A CPI das Bets tem um prazo inicial de 180 dias para funcionar, podendo ser prorrogada.
O encerramento está previsto para outubro de 2024, mas isso pode mudar conforme o andamento das investigações. Até lá, a comissão seguirá ouvindo depoimentos, analisando documento e convocando novos nomes.
Depois disso, os senadores devem elaborar um relatório final com conclusões e possíveis sugestões de mudanças na legislação. Esse relatório pode ser encaminhado para o Ministério Público ou outros órgãos, se houver indícios de crime ou necessidade de punições administrativas.