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Operação especial prende mandantes do assassinato de Marielle Franco

Batizada de "Murder. Inc", ação acontece dias após o crime completar seis anos; vereadora foi morta em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro.

Por Andréa Martinelli Atualizado em 29 out 2024, 16h02 - Publicado em 24 mar 2024, 07h40
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ste domingo, 24 de março, começou com uma notícia muito importante para o Brasil – e muito esperada pelos familiares de Marielle Franco, vereadora brutalmente assassinada em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro.

Uma operação conjunta de três órgãos de Estado, entre eles, a Procuradoria Geral da República (PGR), do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e da Polícia Federal (PF) prendeu, hoje, três suspeitos de serem os mandantes do crime.

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Foram presos Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio. Também foram expedidos mandados de busca e apreensão na sede da Polícia Civil do Rio e no Tribunal de Contas do Estado.

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Mas, importante ressaltar, leitor e leitora de CAPRICHO: por enquanto, os investigadores ainda trabalham para definir a motivação do crime formalmente; até o momento, não se pode afirmar, segundo a investigação, o que motivou o assassinato. Especula-se sobre a vereadora ser um dos principais nomes, à época, que criou barreiras para a expansão territorial milícia no Rio.

A investigação ganhou novo fôlego recentemente após Roni Lessa aceitar o acordo de colaboração; ele teria apontado, em delação premiada, quem eram os mandantes e a possível motivação do crime. O documento foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana.

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O legado político de Marielle segue vivo pelas mulheres que seguem até hoje lutando por um Brasil – e mundo – melhor. (Elas se autodenominam como ‘sementes de Marielle’, você sabia disso?)

Lessa é ex-policial militar e ficou conhecido principalmente por ser o executor do tiro que matou a vereadora e seu motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. Ele está preso desde 2019.

Os mandantes do crime, segundo Lessa, integram um grupo político poderoso no Rio com vários interesses em diversos setores do Estado. O ex-PM deu detalhes de encontros com eles e indícios sobre as motivações, que não foram divulgadas à imprensa.

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Quem foi Marielle Franco

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ascida e criada no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle passou a atuar mais fortemente na militância em direitos humanos após perder uma amiga em 2005, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes na comunidade onde vivia. Essa luta se estendeu até o fim da sua vida, aos 38 anos.

Um dia antes de ser assassinada, em março de 2018, Marielle desabafou em uma rede social sobre a longa e sangrenta guerra do tráfico em comunidades do Rio de Janeiro. “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, escreveu em um tweet.

Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?

Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018.

Por meio da educação, ela encontrou mais ferramentas para batalhar pelas causas das quais defendia. Marielle se formou em Ciências Sociais pela PUC-Rio e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde defendeu a dissertação com o tema: “UPP: a redução da favela a três letras”.

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Além de atuar em diversos coletivos e movimentos feministas, negros e de favelas, sua trajetória ainda foi marcada por participar de organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm).

Trajetória política

Mulher no centro da imagem com braços cruzados
Em março de 2024, completam-se 6 anos da morte de Marielle Franco. Reprodução/Reprodução

Em 2006, Marielle fez parte da equipe de campanha na Maré que elegeu Marcelo Freixo (PSOL) como deputado estadual – após a vitória de Freixo, ela, inclusive, foi nomeada como sua assessora parlamentar. Depois, seguiu para o próximo desafio: coordenar a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Em 2016, foi eleita vereadora da Câmara dos Deputados do Rio pelo Psol, com 46,5 mil votos – a quinta mais votada. Ela também presidiu a Comissão da Mulher da Câmara. O mandato duraria até 2020, mas foi interrompido pelo crime brutal que tirou a vida de Marielle e do motorista Anderson Gomes, dentro de um carro, voltando de um evento de trabalho, no centro do Rio de Janeiro.

Segundo dados da Câmara Municipal do Rio, compilados pela Agência Brasil, em 13 meses de mandato, Marielle se envolveu em 19 projetos de lei. Três deles foram aprovados e viraram lei quando a vereadora ainda estava viva:

  • uma lei ordinária que estabeleceu limites nos contratos de gestão entre o município do Rio e as organizações sociais da área de saúde;
  • uma lei ordinária, em nome da Comissão de Defesa da Mulher, que estabeleceu diretrizes para criar casas de parto e atendimento às grávidas e puérperas;
  • uma lei complementar que autorizou o serviço de mototáxis na cidade.

Em fevereiro de 2018, um mês antes da sua morte, Marielle foi escolhida como relatora de uma comissão na Câmara que iria acompanhar a atuação das tropas na intervenção federal no Rio.

O legado de Marielle

Além de todas as homenagens, prêmios e mobilizações populares, o legado político de Marielle segue vivo pelas mulheres que seguem até hoje lutando por um Brasil – e mundo – melhor. (Elas se autodenominam como ‘sementes de Marielle’, você sabia disso?)

A atual ministra da Igualdade Racial é Anielle Franco. Ela, junto com Luyara e toda a família, também criaram o Instituto Marielle Franco em 2019. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, para preservar a memória da vereadora, cobrar respostas e justiça sobre o crime que aconteceu, além de desenvolver ações sociais voltadas para mulheres negras e jovens periféricos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023, assinou um projeto de Lei com o intuito de que 14 de março se torne o “Dia Nacional Marielle Franco de Enfrentamento à Violência Política de Gênero e Raça”. Se aprovada, a data será incorporada ao calendário oficial a nível nacional.

Ah, e vale muito a leitura do ‘dossiê’ sobre política que preparamos nas próximas páginas com dicas de como se engajar na escola, no bairro, em casa e com amigos – e se inspirar sobre como é possível construir esse futuro menos excludente, mais jovem e desobediente de que falamos tanto por aqui. E anote aí: em breve, o #CHnaEleição está de volta pra gente continuar essa conversa. Clique aqui e vem ler a edição completa no Go Read.

Ao aceitar o acordo de colaboração com a PF, Lessa apontou quem eram os mandantes e também indicou a motivação do crime.

Os investigadores decidiram fazer a operação no início deste domingo surpreender os suspeitos. Informações da inteligência da polícia indicava que eles já estavam em alerta nos últimos dias, após do STF homologar a delação premiada de Ronnie Lessa.

Lessa está preso desde 2019, sob acusação de ser um dos executores do crime.

Os mandantes, segundo Lessa, integram um grupo político poderoso no Rio com vários interesses em diversos setores do Estado. O ex-PM deu detalhes de encontros com eles e indícios sobre as motivações.

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