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“Nós, jovens negros, precisamos usar a nossa voz na política”

Este deveria ser o nosso anseio mais insubmisso.

Por Janaina Bernardino, especial para a CAPRICHO Atualizado em 30 out 2024, 15h25 - Publicado em 29 out 2022, 14h14
capricho coluna política
“O jogo político só irá fazer sentido quando todas as trajetórias forem narradas, sem lentes ou filtros irreais”, escreve colunista da CAPRICHO. Getty Images/Midia Ninja/CAPRICHO

Neste ano em que as candidaturas negras bateram o recorde e a possibilidade de ter, pela primeira vez, a criação de uma bancada negra no Congresso Nacional, eu tive a esperança de que um futuro preto não estava tão longe assim. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no pleito deste ano, tivemos 49,57% de candidatos negros. O que foi superior à porcentagem de candidatos brancos, que ficou em 48,86%. Ainda que timidamente, estes números representam um dos nossos anseios mais insubmissos: o der estar na linha da frente nas tomadas de decisões que vão ditar os nossos moldes de vida.

No entanto, quando consideramos a grandiosidade numérica da comunidade negra, que ocupa mais da metade da população brasileira, vemos que pouco avançamos e, escancara, mais uma vez, a brutalidade de um país desigual que sorrateiramente aposta em nos deixar fora da cena.

Quando destacamos a falta de representatividade não estamos apenas falando sobre quantos de nós estão no rolê, mas também sobre qual papel estamos ocupando e sobre qual ponto de partida estamos enquadrando o nosso olhar: o que você vê além do seu privilégio? O que te causa ímpeto de mudança quando o outro está isolado na pobreza e você está cercado de prosperidade material? O jogo político só irá fazer sentido quando todas as trajetórias forem narradas, sem lentes ou filtros irreais.

Ao olhar para a conexão de raça e gênero, outro dado divulgado pelo TSE aponta que 58,5% das mulheres candidatas com menos de 50 votos nas eleições gerais deste ano eram negras. Ao todo, das 388 candidatas com menores votações, 66 eram candidatas auto-declaradas pretas e 161 pardas. Dado que ilustra que a igualdade de gênero na política ainda enfrenta desafios e que o corpo feminino negro, mesmo sendo responsável por mudanças catalisadoras são invisibilizadas dia após dia, historicamente.

Apesar de tal perspectiva, o legado de Marielle Franco segue vivo e ativo, a presença desses mesmos corpos não é um surto coletivo, como costumamos dizer. Nomes como Dandara Tonantzin e Erika Hilton, mulher trans e negra, estão recalculando a rota ao ocupar um espaço na Câmara dos Deputados, representando os crias das favelas e periferias de Minas Gerais e da grande São Paulo. Além de colocar a negritude para jogo, enquanto mecanismo de potência, reafirmam em todos os dialetos e gírias que a política é coisa de preto, sim!

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Afinal, em qual outro lugar, senão na política, em que nós pessoas negras podemos ecoar a nossa voz em busca de justiça social e afirmação dos nossos direitos? Em qual cargo, senão a liderança, em que nós podemos ser protagonistas na fuga dessa falsa sensação de liberdade que venderam para nós.

Em meio a tantos partidos políticos, eu, você e tantos de nós, continuamos sendo jovens negros, tentando sobreviver por mais de 23 minutos – a cada dia, por esses minutos, colocam um ponto final nas nossa vidas. Não basta apenas ter as candidaturas negras, é necessário que esses corpos sejam eleitos também, pois quando há um semelhante nas principais rotas, sei que nossas especificidades foram escolhidas também.

*Oiê, leitora de CAPRICHO. Este texto foi escrito por uma colaboradora do nosso site voltado ao público jovem com a intenção de diversificar o nosso público e trazer discussões significativas para a juventude refletir o mundo de hoje. Ele não necessariamente reflete o posicionamento editorial do Grupo Abril.

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