Minha 1ª experiência na ‘Marcha das Mulheres Negras’ foi transformadora
Jovens de todos os estados tomaram o microfone para pedir por um futuro possível. E eu estava lá.
erca de 300 mil pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, ontem, 25 de novembro de 2025. Para mim, jovem negra e ativista, a cena foi a confirmação de um legado construído pelas ancestrais e pelas mais velhas e do compromisso da minha geração em deixar a nossa marca.
Foram dois dias de viagem, de Caxias, no interior do Maranhão, até Brasília, encontrando rostos conhecidos, outros novos nessa jornada ativista, todas com esse sonho em comum: mostrar para o Brasil e o mundo que marchamos pela nossa felicidade. Fui como correspondente da Girl Up Brasil e da CAPRICHO e, como integrante do Girl Up Crespos e Cacheados, assistindo e se impactando com a história de tantas. A sensação era clara: não representávamos apenas as 300 mil ali, mas uma nação negra que é maioria no país.
A abertura ocorreu em frente ao Museu Nacional, com cerimônia religiosa e trios elétricos de diferentes regiões. No carro de som, a ministra Anielle Franco resumiu o espírito da Marcha: “A gente está aqui pelo bem viver. E o bem viver é dizer que nenhuma de nós mais tombe… hoje é por Marielle, por todas que se foram e por todas nós, para pensarmos um projeto político de país a partir de nós.”
Em 2023, entre jovens 14–29 que não concluíram o ensino médio, 71,6% eram negros.
Os dados sustentam o chamado. Em 2022, pessoas negras eram 79,3% entre quem vivia abaixo da linha de pobreza; na extrema pobreza, 73% eram negros (IBGE). Em 2023, entre jovens 14–29 que não concluíram o ensino médio, 71,6% eram negros. O país registrou quase 84 mil estupros em 2023; a maioria das vítimas tinha menos de 14 anos, com meninas negras como principais vítimas, e os crimes ocorreram sobretudo dentro de casa (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2024).
Que mensagem isso envia às meninas negras e ao país? De que seguimos longe de um abraço pleno da sociedade e do Estado. A Marcha devolveu outra resposta: bem viver é direito. A grande escritora Conceição Evaristo, voltou a lembrar e fez ecoar durante o evento: “nós combinamos de não morrer.”
Durante o ato, jovens de todos os estados tomaram o microfone para falas curtas, ligando presente e futuro: fim do genocídio das juventudes negras; acesso e permanência na escola e na universidade; trabalho digno; justiça socio climática com justiça racial; saúde que reconheça especificidades da população negra. Era a tradução de um país possível.
A reparação que reivindicamos é condição para que as soluções já criadas nas periferias e nos territórios tradicionais ganhem escala — e para que meninas e mulheres negras possam viver inteiras.
Voltei com a convicção de que marchar é compromisso de vida e liberdade: com quem veio antes, com quem virá e com as nossas comunidades. A reparação que reivindicamos é condição para que as soluções já criadas nas periferias e nos territórios tradicionais ganhem escala — e para que meninas e mulheres negras possam viver inteiras.
Em 2035, quando chegar a 3ª Marcha, queremos estar nas ruas para celebrar avanços: políticas efetivas e o ajuste daquelas que hoje não nos alcançam. Talvez eu já não seja “jovem”, mas quero que as crianças e adolescentes de 2035 desfrutem do que, em 2025, fomos às ruas exigir.
*Géssica Brenda tem 22 anos, é líder regional da Girl Up Brasil, estudante de psicologia e criadora e integrante do coletivo Crespos e Cacheados de Caxias, no Maranhão.
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