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Madonna no Grammy: quando a aparência da mulher engaja mais que o discurso

A cantora fez um discurso breve, mas muito importante, na premiação deste domingo (06), só que "a cara cheia de botox da artista" chamou mais a atenção

Por Isabella Otto Atualizado em 6 fev 2023, 15h55 - Publicado em 6 fev 2023, 14h50
Madonna no Grammy: quando a aparência da mulher engaja mais que o discurso
Christopher Polk/Variety/Getty Images

Na 65ª cerimônia do Grammy Awards, que aconteceu na noite deste último (05), em Los Angeles, a Madonna fez uma aparição especial. Dona do título de ‘Rainha do Pop’, a cantora apresentou a peformance de Unholy, parceria de Sam Smith e Kim Petras, que se tornou a primeira artista trans a ganhar uma estatueta na premiação musical. Unholy, inclusive, levou o Grammy de “Melhor Performance de Dupla/Grupo Pop” para casa.

Madonna, que não é de sair de casa à toa, aproveitou sua presença na cerimônia para fazer um discurso marcante em prol daqueles que são julgados por não se encaixarem dentro das caixinhas de padrões criadas pela sociedade. Contudo, a importante fala da artista não chamou tanto a atenção quanto a sua aparência.

Não demorou para o rosto da cantora, de 64 anos, ser alvo de ataques, críticas e piadas. “O que a Madonna fez na cara?”, foi o principal questionamento nas redes sociais. Algumas pessoas chamaram a artista de vampira, muppet, e teve até quem achou que a artista estava parecida com Jigsaw, o vilão de Jogos Mortais.

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É evidente que a americana fez uma série de intervenções estéticas – e que algumas não deram lá muito certo, o que quer que esse certo signifique. Até porque ela pode estar satisfeita com o resultado e é aquela coisa tipo tatuagem, né? Quem tem que gostar é a pessoa.

A questão aqui é que, mais uma vez, a aparência da mulher, o corpo feminino, fez mais barulho que sua voz e foi colocado num patamar de maior importância que seu discurso. Quantas vezes já não vivemos e presenciamos algo parecido?

Dando a cara à tapa

Em 2016, a icônica Fernanda Young concedeu uma entrevista para Maria Fortuna, do finado programa TV Mulher, na TV Globo. Na ocasião, ela que se disse decepcionada com a ‘Rainha do Pop’. “São umas bundas e bocas que eu acho feio demais. Estou triste com a Madonna. Ela me decepcionou, está horrorosa, não está sabendo lidar com o tempo. Aliás, tudo que fazemos para dominá-lo… A escova definitiva, a depilação definitiva… A única coisa definitiva é o tempo. Fora que as pessoas estão encapando muito os dentes, é um branco que não existe na paleta de cor”, falou.

Corta para 2023. Pouca coisa mudou – e algumas “tendências de beleza” até pioraram, o que faz a gente refletir se, por acaso, não andamos várias casinhas para trás neste jogo chamado vida.

É fato que Young fez uma crítica à aparência da Madonna, outra mulher, mas não foi uma crítica simplista, como aquelas constantemente feitas nas redes sociais. Na realidade, a crítica de Fernanda é uma crítica ao sistema, à sociedade, ao machismo, ao etarismo e à toda a cultura que impõe diariamente que as mulheres não podem envelhecer – enquanto os homens envelhecem como vinho, né?!

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Essas mesmas pessoas que falam mal do rosto da Madonna são as mesmas que apontam o dedo para mulheres que assumem os fios brancos, que não suavizam as rugas com botox e que não deitam para padrões estéticos e para o ageísmo alheio. “Elas ficam desleixadas com o tempo”, dizem. Nunca é o bastante. A mulher nunca pode se sentir satisfeita. Há sempre uma cobrança, há sempre um fiscal da vida alheia, há sempre um padrão sendo reforçado.

A Madonna tem fama mundial, é uma mulher extremamente relevante para o cenário da música e da luta feminina, e talvez, justamente por isso, se sinta ainda mais pressionada. É meio essa sensação de cobrança que fica, de insatisfação, de um ideal de perfeição que é irreal. Daí nos resta simplesmente fazer o que deveríamos ter feito desde o início: se importar menos com a aparência alheia e mais com o que a pessoa tem a dizer.

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“Se falarem que você é problemática, provocante ou extravagante, definitivamente, você está fazendo algo certo. Falo para os rebeldes do mundo: vocês são vistos, ouvidos e apreciados”, disse a artista no Grammy. E é para isso que deveríamos estar dando palco e levantando hashtags no Twitter.

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