Entenda a ‘Fake Monster’, operação que impediu ataque no show de Lady Gaga

Criminosos planejavam usar explosivos caseiros durante o evento, com alvos específicos: crianças, adolescentes e público LGBT+.

Por Andréa Martinelli Atualizado em 5 Maio 2025, 18h09 - Publicado em 5 Maio 2025, 18h05
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pós a Polícia Civil do Rio de Janeiro desarticular um plano de atentado a bomba durante o show de Lady Gaga em Copacabana, no último sábado (3), a equipe da cantora se manifestou publicamente e disse que só ficou sabendo da operação no dia seguinte à apresentação.

Segundo comunicado enviado à revista norte-americana, The Hollywood Reporter, a cantora e sua equipe foram informados da tentativa só quando a informação foi divulgada pela imprensa brasileira – em nenhum outro momento anterior eles foram alertados sobre.

“Soubemos dessa suposta ameaça por meio de reportagens da mídia esta manhã [de domingo]. Antes e durante o show, não houve preocupações de segurança conhecidas, nem qualquer comunicação da polícia ou autoridades para equipe de Lady Gaga sobre quaisquer riscos potenciais”, declarou o porta-voz à revista. A cantora teria mantido sua agenda de compromissos normalmente após a apresentação.

O show reuniu mais de 2 milhões de pessoas na orla carioca, o que fez dela a maior artista feminina da história a concentrar este número de pessoas em um show.

A nota da equipe de Gaga ainda pontua que “nossa equipe trabalhou em estreita colaboração com as autoridades policiais brasileiras durante todo o planejamento e execução do show, e todas as partes estavam confiantes nas medidas de segurança implementadas”.

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O espetáculo, que foi uma carta de amor ao público brasileiro, e poderia ter sido alvo de um ataque semelhante ao que ocorreu em 2017, em Manchester, na Inglaterra, durante um show de Ariana Grande (inclusive, ela e Gaga cantam sobre a força de superar situações difíceis na música, Rain on Me). Um homem-bomba causou uma explosão no final do show, deixando 22 vítimas fatais e mais de 800 pessoas feridas.

Mesmo com as autoridades brasileiras afirmando terem prendido suspeitos horas antes do show, o evento transcorreu sem interrupções — levando alguns a questionar a gravidade da ameaça, já que preocupações sérias com a segurança costumam levar os organizadores a cancelar eventos tão grandes — como aconteceu com os shows de Taylor Swift em Viena, na Europa, no ano passado.

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À época, polícia disse que não disse nada sobre o suposto complô, em um esforço para “evitar o pânico” e “a distorção de informações” nas redes sociais.

Lady Gaga no show em Copacabana; ela está se apresentando no palco com dançarinos
Lady Gaga no show em Copacabana. Kevin Mazur/WireImage for Live Nation/Getty Images
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Para receber todos os fãs da artista no “Todo Mundo no Rio”, a prefeitura reforçou a segurança. Existiam mais de 17 pontos de revista para entrar no local e mais de 5 mil militares e policiais foram mobilizados na praia. Tudo isso enquanto os fãs se divertiam e celebravam o retorno da cantora após 13 anos ao país, com clássicos do pop como “Born This Way”, que se tornou uma espécie de hino LGBTQ+ após seu lançamento em 2011.

Segundo a investigação, os criminosos planejavam usar explosivos caseiros como coquetéis molotov – uma combinação caseira de componentes químicos – durante o evento, com alvos específicos: crianças, adolescentes e o público LGBTQIA+.

A motivação seria ideológica, com elementos de discurso de ódio, teorias conspiratórias e até rituais satânicos, informa a polícia. O grupo se articulava por redes sociais e fóruns clandestinos da internet, com o objetivo de causar pânico e mortes em massa.

Eles estavam claramente dizendo que planejavam um ataque ao show de Lady Gaga motivado por orientação sexual

Felipe Cury, secretário de polícia do Rio, em uma coletiva de imprensa no domingo.

“Eles estavam claramente dizendo que planejavam um ataque ao show de Lady Gaga motivado por orientação sexual”, disse Felipe Cury, secretário de polícia do Rio, em uma coletiva de imprensa no domingo (4).

O chefe da Polícia do Rio, Luiz Lima, complementou que o grupo disseminava discurso de ódio e conteúdo violento online “com o objetivo de ganhar notoriedade para atrair mais espectadores, mais participantes — a maioria adolescentes, muitos deles crianças”.

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A operação, batizada de Fake Monster, foi coordenada por forças policiais de diferentes estados, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, além de contar com o suporte do Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça.

Um homem considerado líder do grupo foi preso no Sul do país com uma arma de fogo, enquanto outros suspeitos, inclusive adolescentes, foram localizados em cidades como São Vicente, Cotia e Vargem Grande Paulista.

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Na casa de um dos menores investigados, a polícia apreendeu celulares, computadores e outros dispositivos que serão periciados. Em depoimento, o jovem admitiu ter publicado mensagens de ódio nas redes, mas negou envolvimento direto no plano de atentado.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que as investigações continuam para apurar a real extensão da organização criminosa.

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